Havia há muito tempo (conta uma fábula) uma comunidade que vivia mais ou menos
equilibrada. Eram cerca de 20 grupos familiares com diversos números de integrantes
e variadas proporções de posses. Verdade que, vez ou outra, esses núcleos se
desentendiam, mas, quase sempre, voltavam às boas relações.
Todos trocavam entre si as coisas que produziam, claro que cada um tentando levar
vantagem sobre o outro, o que sempre foi próprio dos humanos e dos bichos também.
Até que um dia, a família dominante escolheu um novo líder. Este, dizendo não
precisar dos outros, decidiu que os demais membros do grupo deveriam pagar taxas
maiores na venda de seus produtos. Foi uma gritaria só!
Agora entra uma fábula de Esopo: um grupo de ratos vivia apavorado com um gato
muito esperto chamado Faro Fino.
Desesperados, os ratos decidem se reunir em uma assembleia para encontrar uma
forma de se protegerem do felino. Após muita discussão, um roedor jovem teve uma
ideia brilhante: amarrar um guizo no pescoço do bichano, para que, ao se aproximar, o
barulho do guizo os alertasse do perigo.
Todos os ratos aprovam a ideia e comemoravam a solução, até que um rato mais velho
pergunta: “Quem vai colocar o guizo no gato?”
Voltando à fábula da comunidade. As dezenove famílias prejudicadas conversaram e
combinaram que deveriam se unir contra o tirano. Ótimo, acudiram todos. Então,
vamos eleger um líder para comandar o movimento de resistência. O primeiro nome
citado foi do Hans, que se disse lisonjeado, mas rejeitou. Em seguida, pensaram em
Françoi. Este também recusou alegando não falar a língua do ditador. Um após o
outro, propuseram o Manoel, o Juan, o Kazuo, o Ivanov, o Jacob e até o Chen. Todos
rejeitaram a missão.
Enquanto cada um temia uma represália, caso liderasse a resistência, o vistoso
Mandachuva verborrágico (um pavão rosado com o topete louro) se esbaldava,
declarando a supremacia de sua família sobre as outras.
Agora todos deveriam pagar uma taxa muito maior na venda de seus produtos para a
turma poderosa, que produzia mais de ¼ de todos os bens da comunidade. Ou seja, de
100 coisas inventadas, fabricadas ou desenvolvidas no grupo, 25 vinham dos
dominadores. Os outros 19 parceiros detinham, no máximo, quatro coisas cada um,
das 100 produzidas.
Além disso, a família soberana, que costumava aturar os visitantes, começou a
hostilizá-los e recusar-lhes hospedagem. Consta ainda que o Topete Louro admitiu a
intenção de tomar terras de famílias menos importantes.
Pior, o líder de um grupo que morava ao sul do dominador gostou demais das ideias do
ídolo. Tanto que, para imitar o programa deste de construir um muro na divisa com um
vizinho, anunciou igual empreendimento para separar sua família de alguns
indesejados confrontantes do Norte.
Só tem uma coisa, o Milei – o líder do sul – não tem dinheiro nem para construir uma
cerca com tela de galinheiro e mourão de bambu.
Caramba, esqueci que isto é uma fábula, misturei realidade com ficção e deixei escapar
o nome do tiete do Rosado. Agora os leitores vão descobrir quem é o Pavão do Topete
Louro, paixão do presidente argentino e de muitos brasileiros.
Renato de Paiva Pereira.