Folhapress
A profunda crise política do governo de Michel Temer ganhou o comentário de um personagem que questiona a própria existência do cargo de presidente da República. Dom Luiz Gastão Maria José Pio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orléans e Bragança e Wittelsbach, trineto do imperador dom Pedro 2º e herdeiro do trono extinto em 1889, decidiu romper o silêncio que afligia monarquistas brasileiros desde que vieram à tona os áudios e delações da JBS.
Em nota divulgada na terça-feira (23), dom Luiz, que assina como chefe da Casa Imperial do Brasil, diz que a "família imperial está disposta a cooperar na busca das soluções ponderadas que sejam uma saída para a crise que angustia os brasileiros". Ele critica, porém, "soluções mágicas e imediatistas de salvadores da pátria".
"O momento, carregado de muitas incertezas, exige antes de tudo grande vigilância e argúcia, a fim de não permitir que comoções momentâneas conduzam a nação para choques que só interessam aos que buscam semear a discórdia e retalhar o Brasil, inclusive em seu território."
O aspirante a imperador não faz uma defesa categórica da troca do regime republicano pela monarquia, embora ressalte a existência de uma "crescente corrente monárquica espalhada pelo Brasil" e que "muitos, inclusive, proclamaram sua convicção de que um retorno às benéficas, equilibradas e moralizadas instituições da monarquia seria o caminho de resgate da grandeza pátria".
Os adeptos da restauração têm se empenhado em reunir apoios a uma proposta de referendo nesse sentido no Senado. Em plebiscito 24 anos atrás apenas 10% dos brasileiros votaram pela volta da monarquia.
Na nota, ornada com um desenho de coroa no topo, dom Luiz não cita Michel Temer. Ele defende a necessidade de se "encontrar soluções sábias que congreguem de modo consensual os diversos setores da sociedade".
"Nos últimos dias o Brasil entrou numa das etapas mais agudas da crise que o assola gravemente. É uma profunda crise moral, de valores, ideológica, com dramáticos reflexos institucionais e até econômicos. Não escapa a um observador atento da realidade que uma série de movimentações, propostas e artimanhas oportunistas tentam semear o clima de desconcerto e de caos nesse cenário, alimentando soluções mágicas e imediatistas de salvadores da pátria, bem ao estilo do republicanismo vigente", afirma.
Mesmo que a esquerda não ocupe mais o poder federal, o príncipe de 78 anos acusa que o Brasil "tem sido vítima de um projeto de dominação socialista do Estado". Sem citar nomes, critica que "políticos que em acertos espúrios pretendem encaminhar o País para as vias do autoritarismo, da discórdia e miséria socialista, como bem podemos penalizados observar na nossa vizinha e irmã Venezuela".
Reclama ainda que os políticos estejam "distantes dos anseios e esperanças das faixas mais sadias de nossa população".
"É alentador perceber que, uma vez mais, a perspicácia de nossa gente tem levado o país a desconfiar de tais movimentações e a permanecer distante das manobras com que os fautores do caos parecem querer envolvê-lo."
O tom anticomunista da nota, salpicada ainda de referências ao cristianismo, é uma tradição dos Orléans e Bragança que lideram as articulações em torno da ideia de recolocar à família à frente do Estado brasileiro.
Nascido na França e vivendo no Brasil desde a infância, dom Luiz tem, devido à saúde debilitada, deixado nos últimos anos pronunciamentos, reuniões e viagens a cargo do irmão, dom Bertrand, 76, ou dos sobrinhos jovens.