São 2,6 milhões que dependem exclusivamente do SUS em Mato Grosso, ou seja, 81,25% da população, apontam dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Levando em conta que há em torno de 4,7 mil médicos ativos no Estado, estando metade em Cuiabá e Várzea Grande, o resultado matemático torna-se ainda mais preocupante.
Ou seja, a realidade é a falta de médicos generalizada, sinaliza o tutor que acompanha e planeja a supervisão dos médicos do programa federal Mais Médicos, Reinaldo Mota. Ele observa que dos 141 municípios 100 não tiveram atendimento médico até o ano passado. E agora passam por uma readequação por meio do recrutamento de 200 médicos, dentre estrangeiros, em sua maioria de Cuba, e outros provenientes da República Dominicana, de Honduras, Espanha, México, Panamá e Venezuela. Apenas três deles são brasileiros.
“Ainda existe uma demanda grande. Os municípios do interior nos pedem mais médicos. Algumas cidades não tiveram o tempo suficiente para fazer a adesão ou tinham médico na época e deixaram de ter depois”, continua o tutor, também professor do curso de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso.
No Mais Médicos os profissionais têm a missão de fortalecer a atenção básica nos municípios, desenvolvendo ações de prevenção, promoção e atenção à saúde da população nas Estratégias de Saúde da Família, antes Programa da Saúde da Família (PSF).
A situação atual é que três deles já desistiram do programa em Mato Grosso, segundo informa a coordenadora do programa Mais Médicos no Estado, Gilce Gattas: “por opção ou problemas particulares”. Também disse que alguns municípios, mesmo estando com necessidade de profissionais, não foram contemplados por diversos motivos, a exemplo de acesso e finalização da adesão no sistema.
Já em Cuiabá, conforme informações do presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT), Gabriel Felsky dos Anjos, para a reportagem do Circuito Mato Grosso, há médicos que chegam a atender 80 pacientes em um dia, num plantão de 12 horas, no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá, local que acaba acolhendo toda a demanda do Estado.
“E para você ver o absurdo: falta esparadrapo num hospital como o Pronto-Socorro. Faltam médicos também, porque para trabalhar numa estrutura falida como essa, onde não tem leito para se deitar o paciente, não tem exame nem medicamentos, você acaba indispondo o paciente, que quer que você resolva o problema dele e não tem como resolver. Então o médico no mínimo quer receber bem”, salienta Gabriel dos Anjos.
E mesmo com a oferta de R$ 10 mil por mês no Mais Médicos, profissionais brasileiros ficaram resistentes em participar deste concurso, uma vez que o programa é válido por três anos.