Cidades

Falta de incentivo prejudica a vida do trabalhador do campo

Embora seja um investimento certeiro para Mato Grosso, a agricultura familiar ainda se encontra em frangalhos no Estado. Milhares de famílias oriundas do campo abandonam as ‘raízes’ para fazer novos planos na ‘cidade grande’. Ato que tem se tornado pouco produtivo à região, que se vê obrigada a importar produtos de outros Estados, uma vez que esses trabalhadores não dispõem dos incentivos públicos necessários para continuar no exercício.

Com o avanço na economia no campo, o trabalhador tem sido valorizado com os anos. Mas há muitas carências para aqueles que estão inclusos na linha de pequena produção. O secretário de política agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri-MT), Adão da Silva, salienta o número de famílias que deixa o campo para ir aos centros urbanos: “De quase 100 mil famílias nós temos em torno de 30 mil famílias que se mudam para a cidade, só dos assentamentos. O que deixa a desejar é que a agricultura familiar não consegue financiamento para a sua atividade agrícola e a pessoa acaba saindo do campo, vendendo a sua propriedade, abandonando e indo também trabalhar como assalariado em grandes propriedades ou até mesmo vindo para os centros urbanos”.

Adão pontua que a agricultura familiar tem um potencial importante para o Estado, já que pela quantidade de pequenos produtores Mato Grosso não precisaria comprar produtos de outros Estados, além de reativar importantes instituições que investem no setor.

“Hoje nós precisávamos pensar em uma agricultura familiar sustentável. Principalmente por subsistência. Nós acreditamos que no hortifrutigranjeiro, que importamos de outros Estados, principalmente do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Goiás e São Paulo, e na criação de pequenos animais, a agricultura familiar tem um potencial enorme, nós precisávamos avançar neste setor. Temos algumas indústrias paradas de associações ou de cooperativas de agricultura familiar, por falta de produção, pois não tem. E a falta do financiamento devido à falta da regularização fundiária e ambiental também é um dos problemas, e o pequeno não consegue acessar”.

Entre outras adversidades, há a falta de investimento tecnológico no setor. Adão avalia que o trabalhador do campo não tem acesso a equipamentos de ponta, os quais poderiam auxiliar na produtividade da área: “O governo deveria investir mais em tecnologia. Principalmente para este público da agricultura familiar. Porque o grande tem condições de contratar assistência técnica especializada, e existem programas para isso. O que falta é investimento maior do Estado”.

Outro ponto citado pelo secretário é a falta de estrutura da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), uma dos mais importantes órgãos de assistência ao trabalhador no campo.

“O governo do Estado e o governo municipal devem investir na assistência técnica, é uma situação também em nosso Estado que está muito aquém da demanda que nós temos. Só há uma empresa pública de assistência técnica do Governo do Estado, nós precisávamos aí no mínimo 3 mil técnicos profissionais, mas hoje a Empaer não conta nem com mil. Nós produzimos sem tecnologia nenhuma, porque não tem assistência técnica para atender uma tecnologia diferenciada”, desabafou.

Trabalho escravo

Um dos agravantes que ainda ocorre no interior do Estado são atos de trabalho forçado contra trabalhadores do campo. Dados divulgados no último pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontam que foram registrados 141 registros de trabalho escravo, abrangendo um universo de 2.787 pessoas em todo o país. Em Mato Grosso foram três casos, com 14 pessoas, sendo que somente uma foi resgatada. 

Segundo o secretário de Meio Ambiente da Fetagri, Orlando Luiz Nocolotti, embora os casos tenham diminuído consideravelmente, ainda existem trabalhadores em situação crítica no interior do Estado: “Há denúncias de trabalhadores que foram confinados a trabalhar em situações alarmantes. Eles dormiam em rede ou no chão, a comida só chegava às 3h da tarde, e fria; banheiro era no meio do mato. Os trabalhadores exerciam a função de catadores de raízes. Até que os contratantes foram indiciados pelo ato”.

Representante da CPT em Mato Grosso, Paulo César Moreira Santos frisa as baixas ocorrências no Estado, mas lembra a gravidade dos casos relacionados a trabalho forçado.

“A redução do número de trabalhadores escravos se dá por duas questões. A primeira é a fragilidade do grupo em suas atuações, que constata o crime in loco, através de denúncias voltadas às práticas de trabalho escravo. Outro ponto é a redefinição do conceito do trabalho escravo, que exclui alguns atos de degradação contra o trabalhador. Há diversos casos em que os empresários confiscam documentos, carteiras de trabalho, entre outros, com isso os trabalhadores ficam retidos aos serviços daquela empresa”. 

Terceirização – O projeto de lei recentemente aprovado na Câmara Federal tem tirado o sono de diversos trabalhadores e representantes trabalhistas do país. Para Adão Silva, caso aprovado o ato pode prejudicar a categoria.

“Isso é ruim para os trabalhadores rurais. Por exemplo, eu contrato uma empresa ou uma cooperativa e ela terceiriza a mão de obra. Quando o trabalhador for tratar do assunto, ele não vai mais tratar com o dono da empresa, vai tratar com a pessoa terceirizada. E se esta empresa terceirizada recebe e não paga? Como que fica a situação do trabalhador?”, ressalta.

A mesma opinião é compartilhada por Paulo César. Para ele, uma das primeiras coisas que pode acontecer após a aprovação da lei será o aumento do trabalho escravo no país. “Com certeza isso vai acontecer. O trabalhador vai estar exposto a uma fragilidade enorme e isso fortalece o empresário. Site com cassino bitcoin para jogar caça-níqueis online https://brazil-bitcoin-casino.online Este ato pode derrubar lutas históricas dos trabalhadores e gerar retrocesso do ponto de vista do trabalhador, que será explorado tanto no campo quanto na cidade”.

Confira a reportagem na integra

Noelisa Andreola

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