Cidades

Falta de estrutura inibe prática do ciclismo na capital mato-grossense

Ahamd Jarrah

A falta de estrutura e de políticas públicas que não apenas incentivem, mas que viabilizem o uso de bicicletas e outros meios de transporte não motorizados constitui um grande entrave para o desenvolvimento de uma cultura que culmine na utilização efetiva dos espaços urbanos pela população.

Não é preciso ser especialista para perceber como os ciclistas e pedestres são carentes de espaço no tumultuado trânsito da cidade. Se atravessar uma rua ou avenida, em muitos pontos de Cuiabá, já é um desafio, o perigo é ainda maior para quem se dispõe a pedalar, sendo obrigado a “disputar” com os automóveis as vias estreitas, mal conservadas e sem sinalização.

Com uma estrutura debilitada por obras paralisadas, e que deveriam ter beneficiado o trânsito da cidade, os meios de transporte alternativos acabam sendo ainda mais desestimulados. Mesmo com as diversas vantagens proporcionadas pelo o uso deste meio de locomoção ecologicamente correto, que traz benefícios não apenas aos usuários, mas a toda comunidade, os gestores públicos ainda estão longe de fazer o dever de casa.   

“Em uma cidade como Cuiabá, onde deveríamos ter uma estrutura mínima, percebemos que a gente ainda não consegue sair do lugar. O transporte motorizado é priorizado e não temos nenhuma ação voltada aos não motorizados”, avalia Fabian Martinelli, presidente da Associação MT Bikers, que conta com mais de 300 integrantes de várias cidades mato-grossenses.  

Até hoje, o Plano de Mobilidade Urbana Municipal, que deveria ter sido entregue em abril do ano passado não foi elaborado. Mas, essa não é uma realidade exclusivamente cuiabana. Apenas 30% dos municípios de todo o País finalizaram o documento no prazo estabelecido, fazendo com que a data fosse prorrogada por mais um ano. Com isso, as cidades deixaram de receber recursos, que poderiam estar sendo convertidos em obras.

Ciclo-faixa

Em abril do ano passado foi inaugurada a primeira ciclo-faixa da cidade, com pouco mais de seis quilômetros de extensão. De uso exclusivo dos ciclistas apenas aos domingos, o trecho começa na Avenida Ranulfo Paes de Barros, ao lado da Arena Pantanal, passa pela Agrícola Paes de Barros e segue pela Avenida Miguel Sutil, chegando até o Parque Mãe Bonifácia, no Bairro Duque de Caxias. 

Durante a inauguração, o prefeito Mauro Mendes (PSB) anunciou a construção de 25 quilômetros de ciclo-faixas fixas ainda para 2015. No entanto, nada foi feito até o momento.  De acordo com a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), existem projetos que preveem a criação de outras ciclo-faixas e também de bicicletários na cidade. No entanto, não obtivemos mais informações acerca de tais projetos até o fechamento desta edição. 

Ainda antes de ser eleito, o governador Pedro Taques prometeu construir ciclovias e incentivar todas as formas de mobilidade. “No nosso plano de governo, assumimos o compromisso de apoiar os municípios no planejamento da mobilidade urbana, com ênfase nos sistemas coletivos de transporte não motorizados, com mais ciclovias”, afirmou durante a campanha eleitoral. 

Mas, por enquanto, a promessa não foi cumprida e os ciclistas continuam aguardando melhorias.  Segundo informações da Secretaria de Estado das Cidades (Secid), algumas propostas devem começar a sair do papel ainda este ano. São três projetos que já estão em fase de conclusão e serão encaminhados ao Ministério das Cidades. 

“Temos o projeto de uma ciclovia com 27,5 quilômetros de extensão, ligando Cuiabá a Santo Antônio do Leverger. Outra obra prevista é a da construção de 13 quilômetros de ciclovia, ligando Cuiabá ao Lago do Manso. E também temos um projeto para o município de Cáceres, com seis quilômetros de ciclovia entre a Avenida Tancredo Neves e a Avenida do Aeroporto. A intenção da secretaria é investir na mobilidade urbana, e esses são apenas os primeiros projetos que estão encaminhados”, informa a assessoria de comunicação da Secid.  

Nova ciclovia 

No projeto para a duplicação de 3,6 quilômetros da Rodovia Emanuel Pinheiro (MT-251), entre o entroncamento com a MT-010 (Atacadão) e o trevo de acesso ao bairro Jardim Vitória (Fundação Bradesco), está prevista a construção de uma ciclovia. Trata-se de uma obra lançada por administrações anteriores, mas que nunca saiu do papel. Ela foi iniciada em 2015 e deve ser finalizada em dezembro de 2017, ao custo de R$ 23 milhões.

Este é uma demanda antiga de moradores da região, devido ao grande fluxo de veículos, associado à falta de estrutura: na maior parte da via não há sequer acostamento. De acordo com o projeto da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra), a ciclovia terá três metros de largura e deve ser construída no canteiro central. 

“Além da ciclovia, a calçada terá cinco metros de cada lado. Como é uma rodovia estadual, são quarenta metros da faixa de domínio e nós vamos utilizar todo esse espaço. Serão três pistas para cada mão, além das calçadas e a ciclovia de três metros, sendo um e meio para cada mão”, informa Zenidlo Pinto Castro Filho, engenheiro fiscal de obras da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra).   

Perigo

Enquanto a obra não sai do papel, pedalar e caminhar por ali representa um grande risco, já que, sem acostamento, os ciclistas e pedestres ficam vulneráveis. Entre diversos acidentes registrados na via, um deles ganhou bastante destaque e causou comoção: o do ciclista José Eduardo Carvalho, que foi atropelado e faleceu na estrada de Chapada no dia 31 de dezembro de 2014. Vale ressaltar que no Código Nacional de Trânsito fica claramente estabelecido que os veículos maiores são sempre responsáveis pela segurança dos menores. 

Ciclovia para quê? 

Além da ciclo-faixa da Miguel Sutil, o município conta com poucas ciclovias, como na Avenida das Torres e no acesso para a Passagem da Conceição. Recentemente foi inaugurada mais uma ciclovia, dentro do Parque Tia Nair. Mas, o fato no mínimo curioso, para não dizer incompreensível, é que a estrutura não pode ser utilizada por ciclistas. Dá pra entender? 

Integrantes da associação MT Bikers que visitaram o local para conhecer a estrutura e pedalar voltaram para casa decepcionados. Eles contam que foram expulsos do parque e até filmaram a ação dos vigias. O vídeo, postado na página de uma rede social rendeu comentários e críticas de muitos outros adeptos do ciclismo. 

“Pela primeira vez em Cuiabá teríamos um espaço seguro para andar de bike. Mas, é assim que a Prefeitura e o Governo do Estado encaram ciclistas, skatistas e afins, como um bando de desocupados. Infelizmente. Bike é vida, é meio de transporte, lazer e saúde”, dizia o post de Carla Rocha. 

As normativas do Parque Tia Nair estabelecem que somente crianças com até 12 anos podem utilizar a estrutura.  “Uns amigos foram conhecer a ciclovia, mas eles não puderam andar e ainda foram convidados a se retirar do parque de forma bem desagradável. Quando o Tia Nair ficou pronto eles divulgaram que este seria o único parque com ciclovia, mas a gente só não sabe pra quê, se o ciclista não pode entrar”, ironiza Martinelli.  

Preparo

Pedalar requer alguns cuidados e certa preparação física. Mesmo que a pessoa já se sinta apta (no caso de iniciantes), é importante se adequar gradativamente e com cautela ao trânsito. “Uso a bicicleta para ir trabalhar e também pro lazer. A gente vai se acostumando e com o tempo vai pegando os macetes e perdendo o medo. Mas, não deveria ser assim, tinha que ser mais seguro, porque a gente sabe que é perigoso. Quem está começando a atividade deve ter ainda mais cuidado, porque falta estrutura e sinalização, infelizmente”, lamenta Martinelli.  

Mais ciclistas 

No ano passado, a ONG Transporte Ativo realizou um levantamento em parceria com o laboratório de mobilidade da UFRJ em dez grandes cidades brasileiras e 45% dos entrevistados eram novos ciclistas. Estas pessoas passaram a praticar o esporte nos últimos dois anos. 

Veja a matéria completa na Edição nº 569 do Jornal Circuito Mato Grosso. 

 

Thales de Paiva

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