O título Fala, Baobá! Fala, Figueira! inspira-se em Fala, Amendoeira, de Carlos Drummond de Andrade, um livro de crônicas sobre a natureza. A bem da verdade, nas palavras do poeta mineiro, um livro sobre o “ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo [que] exige que prestemos alguma atenção à natureza – essa natureza que não presta atenção em nós”.
Para grande parte dos povos africanos, baobás são capazes de fazer conexões entre dois mundos: o sobrenatural e o profano. O vegetal, de tronco colossal, origina-se de um tempo remoto em que homens adoravam árvores. Foi o Pequeno Príncipe, nos escritos de Saint-Exupéry, quem me apresentou a um baobá. Quando jovem, a preocupação do Pequeno Príncipe deixou-me aflita ao imaginar que as infinitas sementes de baobá caídas no chão infestariam seu asteroide.
Os anos se passaram… Como alertou Saint-Exupéry, um baobá, se não o descobrimos de imediato, nunca mais nos livramos dele. Emblema nacional do Senegal, o baobá é a árvore de “portinarianas coxas”, como descreveu o poeta João Cabral de Melo Neto. Hoje, não penso mais em arrancar seus brotos do chão porque baobá “são como muitos corações abraçados, fortes e inabaláveis. No sentir de Celso Sisto, escritor carioca, também são retorcidos como as voltas de uma história”.
Para o povo indígena Nambiquara, em Mato Grosso, figueiras são sagradas como os baobás são para os africanos. Representam moradas de espíritos, e uma delas, em especial, é a morada de seu Deus todo-poderoso. Suspensa entre o céu e a terra, é dela que vem a sabedoria Nambiquara.
Como a figueira celestial Nambiquara, visível somente aos olhos do pajé, foi do céu que veio o baobá. À sombra do baobá e da figueira, africanos e índios buscam meios de construir um mundo melhor, com base no convívio harmonioso e menos preconceituoso com o mundo globalizado. Ambas podem aproximar gentes de culturas diferentes. Quem sabe a natureza prestaria mais atenção em nós!