Circuito Gastronomia

Fábrica de geleias britânica chega aos 128 anos com planos de expansão para o Brasil

Produzida em Essex, condado no sudeste do Reino Unido, a linha composta por 62 sabores de geleias e 18 molhos e condimentos salgados é distribuída para 70 países. São vendidos em endereços sofisticados como as lojas Harrods, em Londres, La Grande Epicerie, em Paris, Dean & Deluca, em Nova York, e Casa Santa Luzia, em São Paulo, além de servidos em hoteis, vôos da British Airways e trens da Eurostar. E a quem duvida da competência dos ingleses para a boa mesa, a gerente de exportações Philippine Coste tem a resposta na ponta da língua: “Os franceses podem ser conhecidos pelos queijos, mas geleias são assunto para ingleses”.

De fato, não há nação que leve o assunto tão a sério. Para começar, os produtos que os brasileiros classificam como geleias dividem-se em quatro grupos por lá. A jelly passa pela peneira e adquire textura homogênea e livre de pedaços ou sementes, enquanto a marmalade traz pedacinhos de frutas. Mas essa última só pode ser feita à base de frutas cítricas – se tiver outras espécies como matéria-prima, tais como o morango ou a cereja, recebe o nome de conserve. Tem mais. Os produtos que não levam açúcar não podem entrar no time genérico das jams (geleias) e recebem o rótulo de spreads. Nessa lista estão os sabores de abricó, framboesa, groselha, morango e cereja adoçados com extrato concentrado de uvas – líderes de vendas no Brasil.

Na Wilkin & Sons, todos os quatro grupos ainda são produzidos com o mesmo rigor imposto pelo fundador, Arthur Charles Wilkin: totalmente livres de espessantes, aromatizantes e corantes artificiais. A propriedade cresceu um bocado – passou dos 120 hectares originais para os atuais 340, onde é cultivada boa parte das frutas que dão origem às geleias. Somente as espécies que não se adaptam ao clima local são adquiridas de terceiros. “De cada dez potes, quatro são marmalades de frutas cítricas que não se desenvolvem na Inglaterra. As laranjas, por exemplo, são trazidas de Sevilha, na Espanha”, explica Philippine.

As frutas vermelhas, em compensação, crescem com tamanha exuberância em Essex que viram atração turística – todos os anos, as fazendas Tiptree abrem as porteiras no evento intitulado Open Farm Sunday e permitem que os visitantes colham com as próprias mãos seus morangos da espécie Little Scarlets, famosos pela cor e sabor intensos. Há até uma competição, a Strawberry Race, na qual os participantes são desafiados a colher a maior quantidade de frutas.

Dentro da fábrica, o capricho dá a tom. As amoras gigantes, por exemplo, cujas árvores levam 25 anos para começar a produzir, têm os caroços retirados com pinça, um a um. “Enquanto as grandes indústrias cozinham até 1 tonelada de geleia por vez, nossos lotes nunca excedem os 20 quilos”, diz Philippine. Ao final da linha de produção, cada pote recebe um lacre colado à mão, onde se lê o nome do funcionário que envasou a geleia. Tantos cuidados renderam à Wilkin & Sons uma honraria concedida a poucos.

Desde 1954, suas geleias e marmalades detêm o selo Royal Warrant, concedido pela realeza britânica a marcas que fornecem produtos e serviços à família real por pelo menos cinco anos – em 2010, quando a companhia completou 125 anos de idade, a rainha Elizabeth II visitou a fábrica em pessoa. Mas esse não é o único tipo de reconhecimento oferecido aos 180 funcionários. O bisneto do fundador e atual presidente, Peter John Wilkin, transformou seus empregados em sócios. “Como ele não tem herdeiros, achou por bem profissionalizar a gestão e criar uma fundação, para se assegurar de que o negócio terá continuidade.”

E não faltam planos para o futuro, entre eles a construção de uma nova fábrica na mesma região, maior e mais moderna, e a ampliação dos endereços da marca – além de uma pâtisserie em Witham, a Tiptree mantém quatro casas de chá, onde serve seus produtos acompanhados de chás exclusivos. Conquistar novos clientes além-mar também faz parte dos projetos para os próximos anos. E o Brasil, atualmente o principal mercado na América Latina, está na mira da empresa, segundo Philippine. Por enquanto, além da Casa Santa Luizia, os produtos Tiptree estão à venda nos supermercados Zona Sul, no Rio de Janeiro; Verdemar e Super Nosso, em Minas Gerais; e Angeloni, em Santa Catarina e Paraná. Mas a ideia é expandir. “São Paulo, por exemplo, é uma cidade muito grande para ter um só ponto de vendas”, acredita a gerente de exportações.

Um agente estabelecido no Brasil facilita os trâmites para que os lojistas importem diretamente os produtos e consigam revendê-los a preços competitivos – os potes chegam a consumidor final custando R$ 13 em média, exceto as geleias que levam bebidas alcoólicas, como champanhe e uísque, que atingem os R$ 18. No período de fim do ano, a paulistana Casa Santa Luzia também recebe com exclusividade o Christmas Pudding Tiptree, à base de frutas secas e especiarias. Resta torcer para que as casas de chá também venham logo para cá.
 

Fonte: Prazeres da mesa/Uol – Por Flávia Pinho

Foto: Divulgação

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