Cidades

Expulsos de Suiá Missú, produtores rurais agora vivem na miséria

 
Uma área de 165 mil hectares, que antes do processo de desintrusão era sinônimo de produtividade, agora é um cenário de abandono. Ainda podem ser encontrados na região vestígios do que eram casas, escolas, propriedades rurais, comércios, entre outras tantas construções que foram “varridas” do território demarcado como reserva indígena Maraiwatsede. 
 
A área abandonada e que está sendo vigiada pela Força Nacional e pela Polícia Federal já foi responsável, inclusive, por 73% da produção agrícola do município de Alto Boa Vista (1.109 km de Cuiabá).  “Perdemos 72% de nossa área”, relata o prefeito Leuzipe Domingues Gonçalves (PMDB), ao lembrar que a região era detentora de um alto potencial agrícola e pecuário. 
 
À reportagem do Circuito Mato Grosso, Gonçalves alegou que boa parte dos produtores que perderam suas terras no processo de desintrusão foi para os municípios do Araguaia que não possuíam estrutura adequada para receber o alto número de ‘desabrigados’. Como consequência deste ato, que ele classifica como equivocado, o prefeito ressalta que especialmente as áreas da saúde e educação ficaram sobrecarregadas, aumentando ainda mais o drama vivido por essas famílias. “As crianças foram amontoadas em escolas, e as unidades estão ‘entupidas’ de gente. A cidade não suportou a demanda”, afirmou Gonçalves. 
 
Retrato é de abandono; restos de casas e construções ainda são encontrados na área. - Foto: Reprodução O prefeito diz que a região de onde os produtores rurais foram retirados “parece ter sido atingida por um tsunami. Demoliram tudo e o povo está aguardando uma solução”. Gonçalves lembra que a comunidade era sede, por exemplo, de um laticínio que gerava R$ 120 mil mensais de Imposto Sobre Serviço (ISS) para o município e que atualmente encontra-se desativado. “Um laticínio que processava 140 mil litros leite por dia, uma beneficiadora de arroz que beneficiava 10 mil sacos/mês. Tudo isso sumiu num passe de mágica”, lamenta. 
 
Além das empresas instaladas, Suiá-Missú ainda contava com 89 comércios regularizados, com inscrição estadual e que contribuíam para geração de renda e emprego à comunidade. “Grande parcela dos produtores hoje não tem emprego, muito menos renda, as terras ficaram desvalorizadas, tínhamos 300 mil cabeças de gado, éramos um polo produtor de soja. Tudo foi destruído, grande parte do gado vendido a preço de banana, naquela época apareceu aproveitador de tudo que é lado. O prejuízo foi tremendo, 21 municípios afetados”. 
 
AÇÕES – Esta semana representantes dos produtores rurais, acompanhados do deputado federal Valtenir Pereira (PROS), estiveram reunidos no gabinete do juiz substituto da 1ª Vara da Justiça Federal, Ilan Presser, em uma tentativa de reverter à remoção das famílias ou encontrar outra solução para os produtores. Nesta semana, o deputado estadual Ezequiel Fonseca (PP), encaminhou requerimento à Comissão de Direitos Humanos da AL-MT, solicitando a visita da comissão em Suiá-Missú. “Não é possível que um governo possa desalojar centenas de famílias e deixá-las numa situação de peregrinação”, defendeu.
 
 
Foto: Mary Juruna "Antes eu tinha minha terra; hoje sou um sem-teto"
 
Este é o desabafo de João Antonio Costa, que aos 64 anos de idade, olhos marejados e a voz embargada, relatou à reportagem o sofrimento que tem vivido desde que sua propriedade rural lhe foi “tirada das mãos”. 
 
O produtor conta que chegou à região conhecida como Posto da Mata ainda adolescente, quando tinha 14 anos. De lá pra cá trabalhou, comprou uma área onde criava vacas leiteiras e garantia o sustento da família. “Naquele pedacinho de terra eu constituí família, estava criando meus netos e tudo isso me foi arrancado”, afirma João. 
 
Ele lamenta o processo de desintrusão e relata que depois do ocorrido chegou a morar com a família em um barracão de lona. Hoje ele e a família moram em uma casa cujo aluguel é pago com o que João recebe como ajudante de pedreiro. Com a saúde debilitada, mas sem alternativa, este foi o jeito que o produtor encontrou para conseguir alimentar a família. 
 
“É uma covardia e uma falta de sensibilidade o que fizeram com a gente. Tinha teto para morar e hoje sou um sem-terra. Sempre achei que trabalharia quando novo para aproveitar a velhice, mas infelizmente não é isso o que está acontecendo”, lamentou. 
 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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