Foto: Andréa Lobo
Cumprindo sua pena em regime semi-aberto, há um ano e quatro meses, a recepcionista Pamela Faria (nome fictício usado para preservar a imagem da reeducanda), de 39 anos, diz que por conta do crime de tráfico de drogas, que cometeu, perdeu muito e o que mais lamenta é ter perdido o crescimento dos filhos, durante os oito anos em que passou presa. Nestes anos, assim como outras detentas, por falta de visitas, ela acabou não comemorando o Dia das Mães.
O crime surgiu para Pamela na sua cidade natal, Cáceres, quando tinha acabado de perder o marido em acidente. Sem profissão e sem emprego, com apenas a 5ª série do ensino fundamental e um casal de filhos pequenos para cuidar, logo se viu transportando pequenas quantidades de drogas da cidade boliviana de San Matias para Cáceres.
Todo o período durou cerca de cinco meses até ser pega com outro traficante na fronteira transportando 9 kg de maconha escondidos em um carro. “Fiquei presa um ano e seis meses em Cáceres até ser transferida aqui para Cuiabá. Perdi muito com isso, perdi minha liberdade, perdi a juventude dos meus filhos”, lembra.
Presa, Pamela orientou a mãe para que mudasse da cidade para livrar os filhos da criminalidade. “Os três foram para Tangará da Serra. Falei para eles irem porque não tem emprego em Cáceres e ainda corria o risco de meus filhos entrarem no mundo do crime também”, explicou
O tempo que passou na prisão foi de reflexão para Pamela. “Lá eu vi de tudo, foi um momento muito ruim da minha vida, mas que serviu para eu aprender. Os dias são sempre iguais, o que torna diferente são as pessoas, que são de todos os tipos, nem todos têm o coração bom. Já vi tanto detentas como agentes fazerem maus-tratos lá dentro. Não é vida pra ninguém, não vale a pena. É um mundo que destrói a família”, recordou.
Nesses oito anos, Pamela lembra que aproveitou todas as oportunidades. “Aproveitei o tempo para terminar os meus estudos para fazer cursos. Hoje eu tenho várias habilidades. Sou salgadeira profissional, cabeleireira e faço artesanato também”, frisa.
Mesmo com visitas a cada três meses, a ex-traficante conta que a família foi fundamental para poder superar tudo o que passou. “A minha família sempre deu força. Mesmo com avisos, a gente acha que nada vai acontecer. É muito bom ter eles dando essa força. Meus filhos hoje estão com 19 e 22 anos, concluíram os estudos e um vai fazer Biologia. Tenho uma neta também”, conta.
Trabalhando de terça-feira a domingo, Pamela, por estar ainda cumprindo a sua pena, quando pode, precisa de autorização judicial par visitar seus filhos e sua mãe em Tangará, que acontece esporadicamente.
"Sempre que dá peço uma permissão com antecedência pra poder visitar meus filhos e minha mãe em Tangará. Mas é só quando tenho folga ou feriado que dá pra emendar. É difícil, mas sei que estão bem lá e eles me dão força pra seguir daqui também", ameniza.
Monitorada por uma tornozeleira eletrônica, Pamela mora com o marido, operador de concessionária de água, em uma casa alugada em Várzea Grande. Como os tios e primos moram por perto, a reeducanda consegue minimizar a saudade da família sempre que pode está por perto para se reunir com os familiares.
“Pretendo seguir com meu trabalho. Aprendi a dar valor as pequenas coisas, que às vezes pode até ser pouco, mas é uma coisa abençoada. Em breve a minha dívida com a Justiça também estará quitada”, lembrou.
Mulheres presas
Em Mato Grosso, 558 mulheres estão presas nas sete unidades prisionais espalhadas pelo estado. A maioria delas, (60%), presas pelo crime de tráfico de drogas, 15% por roubo e 11% por roubo. Segundo a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), a quantidade de mães é um dado que não se tem controle, já que muitas vezes omitem a própria identidade. Mas revela que existem oito mulheres gestantes que em breve serão mães.