O ex-presidente do Instituto Mato-Grossense de Terras (Intermat) e delator da 4ª fase da Operação Sodoma, Afonso Dalberto, confessou ter ficado com mais de R$ 600 mil do valor arrecadado mediante a desapropriação de uma área localizada no Bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, no ano de 2014.
De acordo com a investigação, dos R$ 31,7 milhões da desapropriação, metade (R$ 15,8 milhões) teria retornado à organização criminosa, chefiada em tese, pelo ex-governador Silval Barbosa (PMDB).
A confissão foi feita durante interrogatório à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, na tarde desta segunda-feira (3), no Fórum de Cuiabá.
Durante seu depoimento, Afonso ressaltou pontos já declarados em sua delação, como as tratativas sobre a desapropriação da área de propriedade da empresa Santorini Empreendimentos Imobiliários que teriam sido definidas no início de 2014, em um almoço no gabinete do Governador, com a presença do ex-procurador Francisco de Andrade Lima, o Chico Lima [preso desde setembro de 2016], e outros ex-secretários.
"Os fatos são verdadeiros. Tudo isso começou em uma reunião durante o almoço no Palácio Paiaguás. Eu fui chamado pelo governador [Silval]. Nessa reunião estava Silval, Marcel [de Cursi], Pedro Nadaf, e foi aonde o Silval pediu para eu subir no gabinete do Chico Lima para discutir um assunto nosso", declarou.
Afonso disse que no encontro Chico Lima mostrou a documentação do terreno que seria desapropriado. "O pagamento desse terreno seria em sete prestações, e o meu pagamento seria de R$ 600 mil".
O ex-presidente do Intermat também relatou que, naquela ocasião, chegou a questionar alguns procedimentos jurídicos que seriam feitos para desapropriar tal área. Foi então, que segundo Afonso, o ex-governador lhe xingou.
"Silval me chamou de 'cagão' porque eu queria avaliar mais o processo, verificar mais a fundo como estavam as questões jurídicas. Mas o Chico Lima disse que estava tudo certo. Depois de tudo ter dado certo, eu liguei para o Silval para avisar, e ele disse 'tá vendo, eu já sabia cagão'", declarou.
"Não fazia parte"
Dalberto chegou a ser preso na Operação Seven, mas conseguiu a soltura após firmar termo de delação premiada. Nesta ação, ele é acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e coação no curso do processo.
Segundo a investigação, seu cargo no Intermat foi de atuação preponderante processo ilícito de desapropriação. Ele atuou como ordenador de despesas, efetuou pagamentos referentes a essa desapropriação, tudo para beneficiar a organização criminosa criada pelo ex-governador Silval Barbosa.
No entanto, durante o interrogatório, Afonso afirmou que não fazia parte do esquema que burlou o processo de desapropriação e nem de outras irregularidades cometidas pelo grupo liderado por Silval.
"Eu não sabia dessa denúncia de incentivos [fiscais, investigado na Sodoma 1]. Nunca fiz parte da organização, eu era da parte de ação, a parte de organização era o silval e Nadaf. A parte de financeiro era o Marcel. Mas eu nunca fui chamado [para participar]", disse.
Indicação de contas
Afonso também falou sobre os depósitos de dinheiro fruto do desvio, que foram feitos nas contas da sua filha, sobrinho, cunhado e até do contador. Ele disse que foi Chico Lima quem pediu os dados, para a realização dos pagamentos.
"Ele [Chico Lima] pediu umas duas ou tres contas para ele pagar. E o valor eu que passava, pois as contas eram minhas", declarou.
Próximas audiências
Nesta terça-feira (4), conforme o cronograma está prevista as audiências de instrução do ex-presidente da Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), João Justino Paes de Barros, e do ex-secretário de Indústria, Comércio, Minas (Sicme) e da Casa Civil, Pedro Nadaf.
Para a quarta-feira (5) é esperada o tão aguardado depoimento de Silval Barbosa, que se comprometeu em confessar os crimes que cometeu, e do seu ex-chefe de gabinete, Silvio Cézar Correa Araújo, que também deve confessar.
No dia 6 (quinta-feira) será a vez da audiência de instrução do empresário Alan Ayoub Malouf e do advogado Levi Machado de Oliveira. Dia 7 serão ouvidos o procurador aposentado, Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o Chico Lima, e o ex-secretário de Planejamento Arnaldo Alves. Por fim, no dia 10, serão ouvidor o empresário Valdir Piran e o ex-secretário da Fazenda, Marcel de Cursi.
Sodoma 4
Deflagrada no dia 26 de setembro de 2016, o foco da Operação Sodoma 4 foi o desvio de dinheiro público realizado através de uma das três desapropriações milionárias pagas pelo governo Silval Barbosa, durante o ano de 2014.
Do total supostamente desviado, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) teria lucrado R$ 10 milhões e repassado o dinheiro ao empresário Valdir Piran por meio da empresa SF Assessoria, do empresário e delator Filinto Muller, como pagamento de uma dívida de campanha eleitoral.
Silval Barbosa assumiu a existência da organização criminosa que coordenou durante sua gestão no Governo do Estado, que tinha o propósito de arrecadar recursos para saldar dívidas de campanha adquiridas em sua campanha eleitoral no ano de 2010. Em depoimento à Delegacia Fazendária (Defaz), no dia 1º de junho de 2017, ele afirmou que ficou devendo cerca de R$ 10 milhões ao empresário Valdir Piran – que chegou a ser preso na operação, mas foi posteriormente solto mediante fiança de R$ 12 milhões.
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