Envolvido no assassinato do então dono do extinto jornal Folha do Estado, Domingos Sávio Brandão, o ex-policial militar Célio Alves de Souza, 53 anos, vai a júri popular na segunda-feira (19) em Rondonópolis. Ele será julgado por coautoria nos assassinatos dos agricultores Brandão Araújo Filho e José Carlos Machado Araújo, mais conhecidos na cidade como Irmãos Araújo.
Segundo a narrativa dos autos, a execução dos irmãos aconteceu devido à disputa litigiosa por uma fazenda de 2.175 hectares situada em uma região localizada a 70 quilômetros de Rondonópolis conhecida como Mineirinho. O litígio teria começado após um negócio malsucedido entre José Carlos e Sérgio Marchett realizado em 1988. Um processo que corre até hoje na justiça.
Célio costumava auxiliar outro ex-policial e pistoleiro, Hércules Araújo Agostinho, o Cabo Hércules, em crimes de execução encomendados, como a morte do jornalista em Cuiabá. Dos irmãos, o primeiro a ser assassinado foi Brandão Araújo Filho, morto por seus algozes a tiros de pistola 9mm no dia 10 de agosto de 1999, à luz do dia, no centro da cidade. O Cabo Hércules chegou na companhia de Célio e disparou várias vezes.
Pouco mais de um ano depois, dia 28 de dezembro de 2000, a dupla decidiu matar com disparos de semiautomática o irmão de Araújo Filho, José Carlos Machado Araújo. Novamente à luz do dia e no centro de Rondonópolis, porém desta vez no estacionamento da agência central do Banco Bradesco.
Hércules de Araújo Agostinho confessou todos os crimes no decorrer dos processos e entregou os mandantes: Sérgio João Marchett e sua filha Mônica Marchett, sócios-proprietários da empresa Sementes Mônica e da Agropecuária Marchett LTDA. Mônica Marchett Charafeddine ficou presa por alguns dias, mas está em liberdade por meio de recursos jurídicos.
Entre as provas apresentadas pelos promotores e colhidas em inquérito policial, a transferência de um Volkswagen Gol cuja propriedade constava em nome do CNPJ da empresa Mônica Armazéns Gerais Ltda para Célio Alves de Souza. Essa transferência, alegaram os promotores, ocorreu como maneira de saldar a dívida pelos assassinatos. Cabo Hércules, em confissão, apontou também o escritório da empresa como o lugar aonde ele e o comparsa foram pegar a documentação do VW Gol.
A empresária negou na ocasião e ainda hoje nega tanto o contrato quanto a transferência do veículo e diz que sua assinatura fora falsificada, mas pelo menos três laudos periciais apontaram a assinatura dela como genuína.
O julgamento de segunda-feira (19) é um dos desdobramentos das investigações do assassinato de Domingos Sávio Brandão sob encomenda do também empresário e bicheiro João Arcanjo Ribeiro, no ano de 2003. Na época, a investigação coube ao Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco). Preso pouco tempo depois, foi a seus ainda colegas policiais, promotores e delegado do Gaeco que o cabo-PM Hércules decidiu confessar o envolvimento nos outros dois crimes. Também colaborou ativamente com a justiça, participando de todas as reconstituições dos homicídios.
Ele também apontou todos os seus parceiros de crime, todos colegas de farda: o já citado ex-soldado Célio Alves, o ex-sargento José Jesus de Freitas (que também foi assassinado pela dupla) e o capitão Marcos Divino Teixeira da Silva, além, claro, da família Marchett como mandantes dos crimes.