Pela primeira vez após a divulgação da delação premiada, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) volta a ficar frente a frente à juíza Selma Arruda, da 7ª Vara Contra o Crime Organizado, nesta tarde de segunda-feira (18).
Desta vez o ex-governador prestará depoimento como vítima de extorsão de seis jornalistas investigados na Operação Liberdade de Extorsão, supostamente liderado pelo jornalista Antônio Carlos Milas, do Grupo Milas de Comunicação.
As extorsões teriam acontecido entre maio de 2014 e novembro de 2015. Segundo o Ministério Público Estadual, o ex-governador foi ameaçado pelo dono do Jornal Centro Oeste Popular, Antônio Carlos, a pagar a vantagem indevida de R$ 100 mil para que o seu veículo de comunicação não divulgasse reportagens noticiando casos de corrupção do governo do Estado.
O jornalista teria sugerido que o pagamento fosse feito na forma de aquisição de publicidade para “legalizar” a transação.
Silval Barbosa solicitou, que o então secretário da Casa Civil, Pedro Jamil Nadaf assumisse os contatos com os denunciados, sendo este o responsável pelo pagamento da quantia solicitada pela organização.
Para realizar o pagamento, Nadaf solicitou empréstimo de R$ 100 mil à factoring SF Assessoria de Comunicação e Eventos, pde propriedade do empresário Filinto Muller. Três cheques foram emitidos pela empresa em nome da Empresa Milas de Comunicação e a Gracieli de Miranda Monteiro, ex-mulher de Maycon Milas.
Conforme o MPE, em agosto de 2014, o ex-governador viu Filinto Muller como uma potencial vítima por conta da SF Assessoria ter recebido altos valores de terceiras empresas que haviam prestado serviços ao Estado. Acontece que a empresa estava cadastrada em nome de um morador da área rural de Santo Antônio do Leverger-MT, chamada Sebastião Faria.
Entre as vítimas estão também o ex-secretário de Casa Civil, Pedro Jamil Nadaf; José Ari de Almeida, Filinto Muller, Emmanuel de Araújo, Marilena Aparecida Ribeiro, Alla Exupery de Araujo, Leonardo da Silva Cruz, Pascoal Santullo, Sidnei Garcia e Willian Paulo Mischur.
Acompanhe os principais momentos da audiência:
13h51 – O ex-governador Silval Barbosa chegou ao Fórum de Cuiabá escoltado por dois policiais civis. Nesta oitiva ele foi a acompanhado do advogado Léo Catalá, em substituição ao Délio Lins, criminalista que articulou o acordo de colaboração com a Procuradoria Geral da República.
14h01 – Prestes a iniciar o interrogatório, o advogado Eduardo Mahon, que defente Antônio Carlos Milas, levantou uma questão de ordem pleiteando pela retirada de Silval do processo, sob consequência de a ação penal ser anulada. Márcia Borges Furlan, promotora que acompanha o caso se manifestou contra a dispensa. Ao analisar o requerimento a magistrada negou a dispensa do ex-governador.
14h06 – Antes de ser interrogado, o ex-governador entregou a Selma Arruda o termo de declaração referente a sua delação premiada, homologada pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal.
14h10 – Silval inicia o depoimento narrando que começou a ser procurado pelo jornalista e empresário Antônio Carlos Milas em 2013. "Ele começou a pressionar eu e ao dono da Trimec, Wanderley Fachetti por conta da compra de uma fazenda feita de forma irregular. Ele prometia publicar algumas matérias falando sobre as irregularidades e no primeiro momento eu não cedi. As matérias foram publicadas.
14h11 – Passado isso, Silval relata que o então deputado José Riva o teria procurado falando para que ele recebesse o jornalista. "Na época ele [Antônio Carlos] me pediu R$ 1 milhão. No final ficou acertado o pagamento de R$ 700 mil e R$ 800 mil, que foram parcelados".
14h13 – Silval fala que repassou a situação para Nadaf resolver. "Eu chamei o Pedro Nadaf e falei para ele que eu tinha esse negócio e que tinha que pagar ele fez todos os pagamentos", afirmou.
14h14 – A juíza pergunta se depois dos pagamentos Antônio Carlos o procurou." Não, nunca mais ele me procurou", afirmou Silval. À magistrada o ex-governador afirma que não sabe a origem do dinheiro utilizada para pagar o jornalista, mas disse que cerca de R$ 200 mil foram oriundos da desapropriação de um terreno no bairro Jardim Liberdade.
14h15 – As perguntas passaram ao Ministério Público. A promotora questionou se Silval teria conhecimento de extorsões feitas a outras vítimas, o ex-governador negou. "Não tenho conhecimento. Sei que eu fui".
14h16 – Márcia Furlan questiona se houve alguma demonstração de provas de que o jornalista sabia dos fatos irregulares e Silval diz não. "Ele (Antônio Carlos) não apresentou nenhum dossiê. Ele falava da publicação da matéria e do fato".
14h17 – Sobre o valor de R$ 700 mil, Silval diz a promotora que acredita que foi tudo pago. "Pedro Nadaf me falou que foram pagos".
14h18 – O MPE pergunta porquê Silval aceitou a proposta do jornalista. "Eu aceitei por insistência do Riva. Eu não queria que esse escândalo se tornasse público", afirmou.
14h20 – As perguntas passam aos advogados.
14h22 – O advogado Eduardo Mahon questiona depoimento dado anteriormente por Silval em que ele negava a extorsão, mas sim pressão. E questiona o porquê da mudança do depoimento.
14h23 – "Naquele momento eu estava em tratativa de delação. Todos os fatos estão vindo das declarações que vem do meu acordo".
14h24 – Advogado insiste e pergunta se ele mudou a versão por conta da delação. Silval responde: "Tudo que eu falei são verdadeiros fatos".
14h25 – Mohon questiona se ele pagaria o jornalista se não houvesse a interferência do Riva. "Talvez eu nem atenderia ele", responde Silval.
14h27 – O advogado perguntou sobre a relação com a imprensa e como funcionava a contratação de veículos para publicidade em seu governo, o ex-governador respondeu aos questionamentos mesmo alegando que não seria de relevância para o processo.
14h30 – Audiência é encerrada.
Antes que o ex-governador saísse da sala, a magistrada sugeriu a Silval Barbosa a saída dos fundos como medida de segurança.
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