Os papéis foram divulgados pela revista "Época".
Segundo a reportagem, os EUA espionaram 8 dos 15 integrantes do Conselho de Segurança, em maio daquele ano. A reportagem cita três desses países, além do Brasil: Japão, México (membros não permanentes) e França (permanente).
Conforme os papéis, o objetivo da operação, comandada por agentes da NSA (Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos), era antecipar como votariam integrantes que tendiam a adotar posição contrária aos interesses americanos -que defendiam sanções duras ao Irã.
"O Sigint foi um elemento-chave para manter a representante dos EUA na ONU [a então embaixadora Susan Rice] informada sobre como os outros membros do Conselho de Segurança da ONU votariam", informa trecho do relatório. O Sigint é uma missão permanente da NSA. É a abreviação de Signals Intelligence (Inteligência de Sinais, em português).
Os documentos obtidos pela revista não explicitam se houve acesso a conteúdo de e-mails trocados entre as autoridades, ou se houve grampo nos telefonemas.
Desde a revelação do sistema de espionagem encabeçado pela NSA, a partir de documentos vazados pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden, o governo americano tem defendido que a NSA só tem acesso aos chamados "metadados" – ou seja, o registro das comunicações, como quem ligou para quem e em que horário.
Os documentos também trazem declaração direta de Rice, que hoje é uma das mais próximas conselheiras de Barack Obama na área de segurança. "O Sigint me ajudou a saber quando outros membros permanentes estavam falando a verdade… revelou suas reais posições sobre as sanções." Segundo a reportagem, mais de cem relatórios foram produzidos.
A tensão com o programa nuclear do Irã simbolizou um dos momentos de maior independência da política externa do governo Lula.
O Brasil, diante do endurecimento do discurso americano, decidiu tentar uma mediação junto ao governo iraniano. O objetivo era convencer o Irã a enriquecer o urânio -primeiro passo para eventual produção de uma bomba nuclear- na Turquia.
A solução permitiria maior controle internacional sobre as reais intenções do regime iraniano, que sempre afirmou defender o uso nuclear apenas para fins pacíficos.
A resolução apoiada pelos americanos foi aprovada em maio daquele ano. O Brasil votou contra. O Palácio do Planalto, o Itamaraty e o Instituto Lula não se manifestaram sobre a reportagem.
Folha