Na abertura das Paralimpíadas, chorei do início ao fim. No outro dia tinha terapia e contei ao meu psicólogo. Foi uma sessão libertadora, ele me auxiliou a perceber que quando minha mãe morreu eu perdi parte de mim. Minha alma ficou “partida”. Tornei-me um ser amputado, aprendendo a conviver com uma dor que às vezes se tornava insuportável.
E durante a sessão surgiu o exemplo do Roberto Carlos, que é amputado, mas ninguém nunca viu, é um grande artista, mas que fisicamente se restringiu pelas condições que a vida lhe trouxe. Imediatamente, em outro extremo, me veio a imagem da Elke Maravilha, “…Eu nunca fui mulher, sempre fui uma pessoa. Nunca permiti ser chamada de mulher. Desde pequena eu percebi que o homem é melhor do que nós. Quando pequena, perguntei 'pai, eu tenho que ser mulher?' e ele falou 'não, minha filha, seja o que você quiser'. Aí eu resolvi não ser mais gênero. Tudo que a mulher faz, eu não gosto. Porque eu não quis, eu quis ser gente, essa é minha proposta e acho que eu estou conseguindo" – uma alma amputada, mas livre. É onde me encontro hoje, buscando o equilíbrio entre o Roberto e a Elke, criando coragem para ser quem EU quero ser e autorizando quem me acompanha também. Nos rostos dos atletas paralímpicos eu me vi, e é nessa energia que quero “colar”, alegria, coragem, força e muito amor à oportunidade que me foi concedida nessa vida.
A pergunta que quero deixar a você é: entre quais extremos você tem vivido? E como sei que vivo dividida entre extremos? Quando a escolha do OUTRO me incomoda, se é a escolha DELE, porque me incomoda tanto? Pare alguns segundos, olhe para o local onde você se encontra hoje, Roberto, Elke, quem quer que seja, não importa, o que importa é que esse olhar seja de aceitação e de amor. Namastê.