Opinião

Eu e a água

Desde a virada do ano que a região metropolitana do Rio de Janeiro, Grande Rio, formada por dezenas de municípios, sofre com o abastecimento de água potável. A Estação de Tratamento de Água Guandu, formada pelo rio Guandu, é responsável por 80% do sistema de captação, adução e distribuição de água para 13 milhões de habitantes da Grande Rio.  Guandu, Estação de Tratamento de Água (ETA), construída em 1955, pertence à CEDAE. Está no Guinness world Records por ser “a maior estação de tratamento de água do mundo, capaz de tratar 43m³ por segundo continuamente, em um processo convencional de tratamento composto por coagulação, floculação, sedimentação, filtração, desinfecção e ainda correção de PH.” Isso se deve, principalmente, porque a bacia do Guandu se engrandece com as águas dos rios Paraíba do Sul e Piraí.

A triste notícia da contaminação das águas do Guandu, impossibilitando seu consumo, me fez visitar a página oficial Águas Cuiabá, empresa responsável pelo sistema de captação, adução e distribuição de água no município de Cuiabá. Fui conhecer mais sobre as Estações de Tratamento de Água captadas dos rios Cuiabá e Coxipó. Aprendi que a água que chega nas torneiras de nossas casas “são captadas em cinco pontos, localizados nos rios Cuiabá e Coxipó, e bombeadas para Estações de Tratamento (ETA). Os cinco pontos de captação são: Ribeirão do Lipa, Porto, Tijucal 1 e Tijucal 2, Rio Cuiabá – ETA Coophema e Rio Cuiabá – ETA Parque Cuiabá.

Os rios que fornecem água potável às minhas duas cidades: Guandu, palavra oriunda da África, do Congo, que já foi Belga, quer dizer “erva lenhosa tropical (Cajanus cajan). Muito cultivado nos trópicos, é também chamado andu, feijão-andu, feijão-de-árvore, feijão-guandu, guandeiro e guando. Na culinária, seus grãos são usados para fazer guisado com camarões secos, língua de vaca e ovos cozidos.” Jacutinga, um indigenista da gema do ovo, nos idos de 1980, com a anuência dos indígenas da etnia Nambiquara, levou sementes de feijão andu para suas roças.

Cuiabá, palavra oriunda do Brasil, de uma vasta região do Mato Grosso, que grande parte dela foi domínio da etnia Bororo, quer dizer “lugar que se pesca com flecha arpão”; Coxipó, Rio do Peixe, palavra do tronco linguístico Macro-Jê, denominada de Kuje Pó, Rio do Mutum, pela etnia Bororo.

Rios que entram em nossas casas trazem, para lá da água potável, ancestralidades de dois povos formadores da identidade brasileira. Bebemos de fontes antecessoras negra e indígena, responsáveis pela misturança do fenótipo brasileiro. Não se pode esquecer, como lembrou minha amiga geógrafa Rosana Lia Ravache “da irreverencia das populações de Várzea Grande e Cuiabá que estão de costas para o Cuiabazão, enquanto qualquer população indígena reverencia a benção de ter um rio para beber água”.

Caetano Veloso pode nos inspirar com sua composição “Eu e Água”, a olhar diferentemente para os rios Guandu, Cuiabá e Coxipó: “A água arrepiada pelo vento/ A água e seu cochicho/ A água e seu rugido/ A água e seu silêncio/ A água me contou muitos segredos/ Guardou os meus segredos/ Refez os meus desenhos/ Trouxe e levou meus medos/ A grande mãe me viu num quarto cheio d’água/ Num enorme quarto lindo e cheio d’água/ E eu nunca me afogava/ O mar total e eu dentro do eterno ventre/ E a voz de meu pai, voz de muitas águas/ Depois o rio passa/ Eu e água, eu e água/ Eu/ Cachoeirinha, lago, onda, gota/ Chuva miúda, fonte, neve, mar/ A vida que me é dada/ Eu e água/ A água lava as mazelas do mundo/ E lava minha alma.”

Redação

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