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Etnia indígena isolada e ameaçada em Mato Grosso

Os povos nativos de muitas regiões do mundo costumam ser o elo fraco da corrente em algumas sociedades constituídas, e o Brasil não é exceção. Dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão ligado ao Ministério da Justiça, apontam que hoje a população desses povos representa apenas 27% do que era originalmente na época do descobrimento, passando de 3 milhões de indivíduos para 817.962 integrantes. Em situação de vulnerabilidade, uma das últimas etnias isoladas em Mato Grosso corre risco de sumir com a expansão agrícola.

Ocupando o território de Colniza – município que fica a 1.006 km de Cuiabá e que ostenta títulos nada gloriosos, como o de já ter sido considerada a cidade mais violenta do Brasil e ainda hoje fazer parte do “arco do desmatamento”, na Amazônia – a etnia Kawashiva do Rio Pardo, um dos últimos povos isolados de Mato Grosso, está acossada pelo agronegócio. 

Os indivíduos, que estimativas apontam ser em torno de 30 homens e mulheres, correm o risco de desaparecer.

Conhecidos localmente como "baixinhos", esses índios seriam os últimos sobreviventes de um povo dizimado por décadas de exploração e ocupação violenta de seu território. Além dos isolados do rio Pardo, os "Kawahibí" do Madeirinha e os Kayabi (nordeste do Mato Grosso) são os últimos representantes desta etnia que outrora dominava territórios entre o nordeste de Mato Grosso e o sul do Amazonas.    

Em 1999, a Funai identificou os primeiros vestígios da existência da etnia no rio Pardo. Dois anos depois, em maio de 2001, o órgão interditou pela primeira vez o acesso de pessoas estranhas à área de mais de 400 mil hectares, entre o rio Pardo e a Serra Grande (mais precisamente entre os rios Guariba e Aripuanã) – agora chamada Terra Indígena (TI) Kawahiva do Rio Pardo. 

Entretanto, em fevereiro de 2001, os trabalhos de demarcação foram suspensos para que União, Estado e Municípios se manifestassem, fazendo com que o processo ficasse parado e sendo retomado apenas 12 anos depois, em 2013, quando 2ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso obrigou a União e a Funai a concluírem a demarcação da Terra Indígena Kawahiva do Rio Pardo, em resposta a uma ação proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) no ano de 2010.

A oposição da Sul Amazônia Madeiras e Agropecuária Ltda (Sulmap), empresa possuidora de terras na área demarcada, representantes do agronegócio local e estadual, como a Associação dos Proprietários Rurais de Colniza (APCR) e a Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (Famato), além de políticos do município, engrossam a pressão sobre a etnia, bem como a Funai.

“Agronegócio não tem limites”

 Os Kawashiva do Rio Pardo, considerado um dos últimos grupos indígenas isolados de Mato Grosso, sofre intensa pressão dos empresários do agronegócio, que não têm limites para a derrubada de matas e ocupação irregular de áreas pertencentes à União, e que devem servir para demarcações de territórios nativos.

A opinião é do coordenador geral da Operação Amazônia Nativa (Opan), Ivar Busatto. Segundo ele, os Kawashiva do Rio Pardo sofrem “a mesma pressão que outras etnias enfrentam no Brasil”. O representante da Organização não Governamental (ONG) – a primeira indigenista no país, fundada em 1969 – diz ainda que a maioria das frentes é para “tomar a posse, aumentando o faturamento”.

“A frente de expansão agrícola vem pressionando esse povo. Em sua maioria, eles tomam posse para aumentar seu faturamento e na maioria das vezes esse processo se dá de forma ilegal”, afirma.

Com apenas 30 indivíduos, segundo estimativas da Funai, a preservação desse povo é um pouco mais complexa do que para etnias que já desenvolveram uma interação maior com a sociedade como conhecemos, devido ao seu isolamento.

Ivar corrobora essa dificuldade relatando os contatos que os Kawashiva do Rio Pardo tiveram até hoje com Funai, universidades, ONGs e demais organizações da sociedade.

“Ninguém manteve contato direto com eles até hoje. Ninguém até hoje conseguiu estabelecer uma relação efetiva. O que houve foram encontros. Nenhum órgão oficial teve contato direto com a etnia”.

Para o coordenador geral da Opan a atitude esperada do governo é que ele realize estudos que viabilizem a preservação da cultura e das tradições dos povos indígenas, e faz críticas ao Estado de Mato Grosso: “De um modo geral, Mato Grosso ainda é um Estado que utiliza a força bruta: chega, derruba a mata e ocupa, tudo ilegalmente”. 

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Diego Fredericci

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