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Estudos apontam caminhos em busca da eletrificação do transporte coletivo

Não será por falta de estudos e ações que a eletrificação no transporte público deixará de acontecer nas cidades brasileiras. Alinhadas aos órgãos governamentais, entidades e associações buscam dar sua contribuição para traçar a rota da descarbonização no trânsito brasileiro.

Os constantes debates que envolvem o transporte coletivo mais limpo e eficiente suscitam novas ideias. Na Latam Mobility, evento que ocorreu nos dias 7 e 8 de maio, em São Paulo, para discutir os rumos da mobilidade sustentável na América Latina, a Parceria Zebra (Zero Emission Bus Rapid-deployment Accelerator), coliderada pelas organizações C40 Cities e Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT Brasil), lançou o estudo “Implantação de ônibus elétricos na cidade de São Paulo”.

Voltado a gestores públicos e operadores de transporte, o documento esmiúça didaticamente a experiência da capital paulista – que possui mais de 13 mil ônibus em circulação, dos quais 789 elétricos – e oferece um panorama técnico sobre os desafios e os mais recentes avanços da eletrificação.

“A indústria tem muitos desafios para a transição energética, mas existe um engajamento importante de todas as esferas do governo”, afirma Marcel Martin, diretor geral do ICCT Brasil. Ele explica que as cidades brasileiras estão em estágios bem diferentes na eletrificação do transporte público. “O lado positivo é que até mesmo os problemas são vistos de maneira construtiva, porque nos dão a possibilidade de enxergar a realidade e criar estratégias para resolvê-los”, diz.

Em São Paulo, um dos obstáculos é o embate entre operadoras e a concessionária Enel, sobre a morosidade no fornecimento de energia nas garagens para a recarga dos veículos. “Esse confronto está provocando a adequação do setor elétrico, que ainda não tinha levado a sério o avanço da eletromobilidade”, revela Martin. “Tenho certeza de que as cidades menores não enfrentarão essa dificuldade.”

NOVO PAC

O estudo da Parceria Zebra aborda temas como planejamento energético, viabilidade econômica da eletrificação, diagnóstico do sistema de transporte público, as experiências de São Paulo que podem ser seguidas por outras cidades, e até mesmo um teste de desempenho de dois ônibus elétricos ao longo de um ano.

“Cerca de 20 municípios brasileiros aderiram aos ônibus elétricos com o impulso do Novo PAC (Programa de Aceleração do Desenvolvimento)”, afirma Thomas Maltese, gerente sênior da Parceria Zebra.

Ele se refere à fase atual do PAC que, em 2025, destinou recursos de R$ 8,4 bilhões para a mobilidade urbana: R$ 4,4 bilhões para a renovação da frota do transporte público e R$ 4 bilhões para obras de infraestrutura. Segundo Maltese, cerca de 2.300 ônibus elétricos de produção local deverão ser financiados pelo programa do governo federal para circular em São Paulo.

Para os dois executivos, os maiores riscos enfrentados pela eletrificação do transporte coletivo no País são os custos de aquisição dos ônibus elétricos e a infraestrutura de recarga, principalmente nos grandes centros urbanos.

Martin faz a ressalva: “Os ônibus não precisam ser desenvolvidos para rodar 250 quilômetros por dia. Essa autonomia poderia baixar para 200, ajudando a reduzir o tamanho da bateria e baratear o preço dos veículos”.

Durante a Labace, a Parceria Zebra aproveitou para divulgar a plataforma E-Bus Radar, criada em 2019 para monitorar a frota de ônibus elétricos no sistema de transporte público na América Latina (veja ao lado), além de fazer análises do volume de emissões de CO2 evitado pela eletrificação.

RUMO À COP30

Outro estudo foi apresentado no seminário Brasil rumo à COP30 e se chama “Coalizão para a descarbonização do transporte”. Com 212 páginas, o relatório é uma obra que reuniu mais de 60 organizações do setor privado e da sociedade civil.

O documento exigiu oito meses de trabalho, com a participação de entidades como Grupo Motiva, Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Confederação Nacional do Transporte (CNT) e Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável do Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq. Futuro do Insper.

Segundo Sergio Avelleda, coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq. Futuro de Cidades do Insper, o estudo é uma contribuição para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (PA), em novembro.

Entregue ao presidente da COP30, André Côrrea do Lago, o estudo discute a fundo os modais rodoviário, ferroviário, aquaviário, aeroviário e mobilidade urbana, tema que teve a participação de Avelleda. “Cada pilar elaborou alavancas da descarbonização, que podem reduzir em 70% as emissões de CO2 no setor do transporte até 2050”, afirma.

Ele destaca ser louvável a presença do setor privado na agenda da descarbonização nacional. “Uma das conclusões da parte de mobilidade urbana é a necessidade de redesenhar as grandes cidades para diminuir a quantidade de viagens mais longas, dando prioridade ao transporte público, às caminhadas e ao uso da bicicleta”, salienta.

Ele garante que, mesmo depois da COP30, a coalização seguirá em atividade, cumprindo o papel de observatório da descarbonização. “A sociedade precisa entender que o tema meio ambiente não significa uma ameaça ao futuro, mas uma contingência do presente”, conclui.

Estadão Conteudo

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