Com a disparada dos juros nos últimos dois anos, o acesso ao crédito se tornou mais restrito no mercado e o brasileiro teve que adotar novas estratégias para consumir de forma parcelada. Pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revela que 1 em cada 3 pessoas utilizou nome de terceiros para fazer compras à prazo no último ano em função de dificuldades financeiras.
O problema, na maioria dos casos, está relacionado ao fato de grande parte da população estar negativada. É o caso do autônomo Lucas Ribeiro* (nome fictício), 27. Após contrair diversas dívidas com o rotativo do cartão de crédito e ficar com o nome sujo na praça, o jovem precisou da ajuda da mãe para financiar um carro nas condições desejadas para honrar os compromissos sem pressionar ainda mais o orçamento.
“Como para a maioria das pessoas, a minha situação complicou durante a pandemia porque fiquei desempregado e a dependência do cartão foi inevitável. Felizmente, recuperei o trabalho quase um ano depois, mas os efeitos econômicos foram profundos. Além disso, me tornei pai recentemente, o que por si só implica em uma série de novos compromissos”, conta Lucas.
“Hoje, quase metade do meu salário é destinada ao pagamento de dívidas. É um processo lento, mas é o caminho. Tem que ter responsabilidade e paciência”.
Recorrer às pessoas do círculo de convivência não é exclusividade de Lucas. Essa é a saída mais comum entre aqueles que precisam de crédito. Cônjuges (31%) e pais (24%) estão no topo da lista, seguidos pelos amigos (17%), irmãos (16%), outros parentes (14%) e namorados (9%). Outros 5% dos que estão com a “corda no pescoço” chegam a pedir ajuda até para colegas de trabalho.
Embora seja conveniente para quem requisita o nome alheio para suprir eventuais necessidades, especialistas sugerem aos “alvos” que rejeitem os pedidos. Isso porque cerca de 13% dos que emprestaram o nome para compras de outrem também acabaram negativados em função de atrasos no pagamento.
“Quem pede o nome para fazer compras ou tomar crédito já mostra que está encontrando dificuldade para lidar com as finanças pessoais. Independente das razões, se a pessoa não conseguir honrar os pagamentos, o problema cairá nas mãos daquele que emprestou o nome. Do ponto de vista legal, ele é responsável pela dívida feita”, explica a economista Marcela Kawauti.
Razões dos pedidos
Entre os principais argumentos utilizados pelos indivíduos com dificuldades de acesso ao crédito estão a necessidade de suprir despesas cotidianas essenciais como supermercado (26%), compras para os filhos (24%) e quitação de dívidas (20%). Situações excepcionais como remédios para tratamento de doenças também são mencionadas para convencer um ente próximo a fazer compras parceladas.
Segundo o levantamento, todas as justificativas acima aumentaram em relação a 2021.
Por mais desconfortável que possa parecer, declinar o pedido para ceder o próprio nome para a realização de compras a prazo ajuda a preservar relacionamentos.
“Além do risco financeiro, existe o risco de que o empréstimo de nome a um terceiro abale as relações sociais. Quando o pedido for para algum item essencial, uma solução pode ser oferecer algum tipo de ajuda, mobilizando outros parentes, mas sem o compromisso de uma concessão de crédito”, comenta o presidente da CNDL, José Cesar da Costa.
“Nos casos do consumo de algo que não seja de primeira necessidade, é importante aprender a dizer não, até para preservar a relação de um desgaste maior no futuro”, destaca. (com informações da assessoria)