Com a candidatura apoiada pela atual gestão, Lúdio admite erros no governo Silval Barbosa, mas acusa seus adversários de estarem fazendo ‘terrorismo político’, especialmente em relação às obras da Copa. E por falar em adversários, nas linhas seguintes, o petista deixa clara sua ‘rivalidade’ com o candidato Pedro Taques (PDT), a quem ele acusa de ‘senador trampolim’ e de fugir do debate político.
Confira íntegra:
Circuito Mato Grosso: Queria iniciar questionando sobre suas receitas de campanha. De acordo com a 2ª parcial apresentada ao TSE, o senhor é um dos candidatos com menor arrecadação e pouca verba foi destinada à sua candidatura por parte da Executiva Nacional do PT. Em que condições a campanha é tocada?
Lúdio Cabral: Estamos fazendo uma campanha com poucos recursos, com pouca estrutura, baseada na criatividade nossa e da nossa militância. O PT nacional vai ajudar, já começou a ajudar, mas não temos expectativa de ter uma arrecadação extensa para competir com o candidato dos milionários. É uma campanha modesta.
CMT: De alguma forma o senhor sente que sua candidatura foi preterida pela Executiva Nacional?
LC: Ao contrário, porque no PT nós sempre fizemos campanha com essas dificuldades aqui no Mato Grosso. Sempre, sempre…
CMT: Entre seus adversários estão o Pedro Taques, com uma campanha milionária e o José Riva, nome de longa experiência política. Como essa disputa é encarada? Esses pontos são vistos como uma dificuldade?
LC: Não considero uma dificuldade, mas sim uma diferença. De um lado temos um candidato que está sendo financiado por uma meia dúzia de bilionários do nosso Estado e por uma família, por conta de uma articulação com os barões do capital financeiro no Estado. A população precisa estar atenta a isso: se esses barões financiadores da candidatura do Taques têm algum compromisso em melhorar a saúde pública do Estado, a educação pública ou se querem o governo só pra eles.
"Meus adversários representamum ‘status quo’ que seestabeleceu no poder político eeconômico do Estado"
CMT: Na sua avaliação, eles vão cobrar essa ‘fatura’ lá na frente?
LC: Na minha avaliação está muito claro que eles vão mandar no governo Pedro Taques, se eventualmente ele for eleito. Fora a questão financeira, ao que representa politicamente cada uma das candidaturas, estou pronto para debater e demonstrar que minha candidatura tem o propósito de inaugurar um ciclo novo de governo em Mato Grosso. O fato de nunca ter participado do poder no Estado, ter construído uma trajetória na esquerda, nos movimentos sociais, ser servidor público de carreira, atuar na saúde pública, então a escolha do meu nome tem esse sentido: uma candidatura que represente um governo novo e um governo que tenha como marca principal o compromisso com as políticas sociais. Os adversários representam um ‘status quo’ que se estabeleceu no poder político e econômico do Estado. O Riva representando um poder político consolidado há 20 anos no Legislativo e o Taques representando o poder econômico que tem influência sobre os governos deste Estado há duas décadas.
CMT: Apesar de se apresentar como novo, o senhor representa a atual gestão, a do governador Silval Barbosa. A população consegue fazer uma ‘diferenciação’ ou os eleitores veem o Silval como alguém estritamente ligado a sua pessoa?
LC: Eu tenho uma aliança com o PMDB, que é o principal aliado do PT. O projeto nosso em Mato Grosso é o mesmo projeto nacional que a Dilma representa. A aliança com o PMDB no Estado é sintonizada com o projeto nacional. O Silval é governador do Estado, filiado ao PMDB e apoia a minha candidatura. Isso não significa que a minha avaliação do governo dele seja passiva. Ao contrário, é uma avaliação crítica, madura, de identificar erros e acertos, para melhorar os acertos e corrigir os erros.
CMT: Qual seriam os acertos da gestão Silval Barbosa?
LC: Primeiro: a ampliação do quadro de servidores efetivos nos últimos quatro anos, por meio da realização de concursos, de melhorias na legislação de carreiras, foram mais de 13 mil servidores empossados. Segundo: o MT Integrado. Um programa para infraestrutura no interior do Estado, estratégico e pensado para integrar todos os municípios de Mato Grosso ao restante do Estado, por, pelo menos, uma via asfaltada. De erro na gestão do Silval eu identifico a saúde, que ele confiou ao PP, ao Pedro Henry, partido que indicou o vice do Pedro Taques e que adotou um modelo de gestão que não conseguiu superar os problemas da população. Esse modelo nós vamos mudar, até porque a saúde é a principal prioridade do nosso programa de metas.
CMT: Caso eleito, o senhor já alegou que irá acabar com as Organizações Sociais de Saúde (OSSs). Que outras medidas, no curto prazo, serão tomadas para melhorar a saúde no Estado?
LC: Ao longo do primeiro ano vamos substituir o modelo gerencial das OSSs pela gestão direta do Estado dos hospitais regionais. De imediato, canalizar mais recursos para os municípios, para dar conta de duas tarefas: ampliar a cobertura da saúde da família, dos atuais 60% para 85%, no mínimo, e revitalizar 55 hospitais municipais de pequeno porte, que já têm estrutura física existente e que já representam 1,2 mil leitos hospitalares no Estado, que em sua maioria estão funcionando com dificuldades. Esses leitos podem ser reativados e disponibilizados ao SUS num período de tempo curto. Priorizar isso, ao invés de pensar na construção de novas unidades hospitalares.
CMT: Em uma eventual vitória, o senhor vai pegar a ‘casa bagunçada’, especialmente no que diz respeito às obras da Copa. Umas não terminaram, outras apresentam erros e há ainda o VLT, que há dúvidas sobre sua conclusão em 2015. Como enfrentar tudo isso? Que medidas devem ser tomadas?
LC: O atual governo vai concluir a maioria das obras até dezembro. Em função de um problema específico, que é o do ‘Viaduto da Sefaz’, um adversário nosso está fazendo terrorismo durante as eleições em relação às obras da Copa. Torcendo pra cair alguma obra, o que é muito negativo para o comportamento de um senador da República. Assumindo o governo, todas as obras que não estiverem concluídas, nós vamos exigir das empresas o cumprimento dos prazos e a execução de todas elas dentro do cronograma que estiver previsto naquele momento. No caso das obras já entregues, se identificado erro ou falha, a empresa responsável tem obrigação de corrigir e eu vou ser rigoroso na cobrança dessa responsabilidade.
CMT: Ainda pensando num governo liderado pelo senhor, será possível, mesmo representando a atual gestão, ter total liberdade na hora de compor sua equipe? Ou pode acontecer a tal história de ‘aqui eu não posso mexer’, ‘ali também tem que ficar como está’?…
LC: Terei a mais absoluta liberdade para montar o meu governo, por uma razão muito simples: eu não pedi a ninguém para ser candidato. Eu me preparei, mobilizei nossas bases e a decisão de minha candidatura foi uma decisão madura dos cinco partidos que me apoiam. Não houve nenhum tipo de condicionante para a escolha do meu nome. Foi resultado dessa leitura: precisamos de um candidato que represente o novo, um governo de compromisso social e que tenha densidade eleitoral. O compromisso que eu tenho é de compor um governo que represente essa novidade que é o meu nome, com pleno controle sobre indicações. É lógico que é importante o diálogo com os partidos, mas quem vai escolher o secretariado sou eu.
CMT: Voltando um pouco ao processo eleitoral. As últimas pesquisas mostram um empate técnico entre Lúdio Cabral e José Riva. O segundo lugar está ameaçado?
LC: A leitura que nós temos é que hoje eu estou consolidado no segundo lugar e que esta é uma eleição de dois turnos. A única pesquisa que destoa disso foi essa última do Ibope que, sinceramente, eu nunca questionei resultado de pesquisa, mas esse é um resultado muito estranho, porque eu não percebo esse cenário nas ruas.
CMT: Então o senhor não se sente ameaçado com uma possível chegada do Riva e acredita de fato de que Pedro Taques e Lúdio estarão no segundo turno?
LC: O cenário pode mudar, mas na minha avaliação hoje é um cenário de uma eleição de dois turnos entre eu e o Taques.
CMT: Qual será o critério de escolha dos eleitores na hora do voto?
LC: A população realmente está com uma postura mais crítica, tem analisado mais, sido mais racional na leitura das candidaturas, tanto que ainda tem muita gente indecisa. Os eleitores vão escolher aquele que tem as melhores condições para produzir o desenvolvimento do nosso Estado e realizar os direitos da população com as políticas sociais que o Estado conduz.
CMT: Mesmo com esse perfil crítico do eleitor, a gente vê uma campanha com constantes ataques entre os adversários. Isso não prejudica a escolha da população?
LC: Eu tenho procurado fazer uma campanha propositiva, de apresentação do nosso programa de metas, agora eu tenho sido muito atacado pelo Pedro Taques e pela turma dele. Na última semana, eles mobilizaram uma tropa de choque para me atacar o tempo todo: Mauro Mendes, Carlos Fávaro, Zeca Viana, Nilson Leitão. O próprio Taques fica se escondendo, ele não vem fazer o debate comigo. O que tenho feito é me posicionar diante desses ataques, explicitando as contradições dele. Fazer campanha apontando o dedo para os outros é ruim, mas eu não fujo do debate político e do debate das contradições, que é importante para a população formar a opinião.
CMT: Falta ao Pedro Taques essa capacidade de debater e dialogar diretamente com os adversários?
LC: Ele tem utilizado uma tática covarde que é a de colocar os outros pra bater e ele se esconde, inclusive fugindo de debate.
CMT: Na sua avaliação, essa tática tem dado certo? Porque desde o início do processo eleitoral ele lidera as pesquisas.
LC: Ele está em campanha há três anos, ele é um senador trampolim, que já iniciou o mandato de senador candidato a governador do Estado e com um comportamento ruim pra quem exerce um mandato de senador, que precisa ter um comportamento mais de estadista, de diálogo, de conciliação. O fato de ele ter uma postura de atacar o tempo todo a Dilma, de ter sido contra a Copa do Mundo em Cuiabá é uma demonstração de comportamento ruim. E ele usou todo o período do mandato, com discurso moralista, para projetar o nome dele para a eleição de governador. Ele está fugindo, está se escondendo, mobilizando essa topa de choque para me atacar.
CMT: Esses ataques devem se intensificar na reta final da campanha?
LC: Espero que não, mas estou pronto para fazer o embate se for necessário.
CMT: O senhor comentou que ainda existem muitos eleitores indecisos e que o cenário pode mudar. Por que o eleitor deve depositar seu voto de confiança no 13?
LC: Porque fazendo uma leitura da realidade e daquilo que deve ser prioridade no próximo governo, o eleitor buscará um candidato sintonizado com isso. Primeiro, com a expectativa de um governo que seja novo, mas ao mesmo tempo maduro e crítico, com capacidade de fazer a leitura do passado. Nem de um lado a submissão, nem de outro o discurso da ‘terra arrasada’ e uma candidatura sintonizada com as maiores preocupações da população que são saúde, segurança, educação de qualidade. E um governador que tenha o compromisso próximo das pessoas, um governo de união e sintonizado a um projeto nacional, representado pela presidente Dilma.
CMT: Mesmo se a Dilma não for reeleita, essa sintonia estará mantida?
LC: A população tem a consciência de que o projeto que o Lúdio representa é o mesmo projeto que a Dilma representa. A campanha que estamos fazendo é para vitória tanto da Dilma quanto do Lúdio. Eu estou pronto, preparado e em condições de colocar a minha identidade a serviço de um governo que seja novo, revolucionário e que orgulhe nossa população. E os aliados têm consciência disso, tanto que os adversários estão mobilizando um poderia econômico sem precedentes de uma parcela muita pequena das nossas elites, para evitar a minha vitória.