Investigações da Polícia Civil de Mato Grosso revelaram que sites de apostas esportivas estavam sendo utilizados para financiar as atividades de uma facção criminosa na capital. A descoberta faz parte da Operação Ludus Sordidus, conduzida pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) e pela Delegacia Especializada de Repressão ao Crime Organizado (Draco).
De acordo com a apuração, as plataformas “Gol Bet” e “Campeão Bet” funcionavam como instrumentos de lavagem de dinheiro, garantindo recursos para o tráfico de drogas e repasses a líderes da organização. Um dos principais beneficiários seria S.L.Q.A., conhecido como dono da “quebrada”, apontado como chefe da facção nos bairros Osmar Cabral, Jardim Liberdade e adjacências. Ele recebia cerca de 10% dos lucros mensais obtidos pelas apostas.
O esquema envolvia uma estrutura organizada, com divisão de funções entre os integrantes. Havia um gestor operacional da “Gol Bet”, responsável pelos repasses; um influenciador digital, sócio da “Campeão Bet” e encarregado do marketing e dos patrocínios; além de um contador informal, responsável pelos balanços semanais e controle das finanças. Também faziam parte da rede cambistas e operadores que cuidavam da logística das apostas.
As investigações identificaram movimentações financeiras expressivas, realizadas por meio de contas de terceiros usados como “laranjas”. Em apenas um mês, mais de R$ 50 mil circularam na conta de um dos envolvidos. Empresas, incluindo uma churrascaria, também eram utilizadas como fachada, promovendo transferências cruzadas com valores incompatíveis com a renda declarada dos investigados.
Além da lavagem financeira, a facção investia em “lavagem de imagem”, com a promoção de ações sociais e culturais. Cestas básicas eram distribuídas, campeonatos de futebol amador patrocinados e times comunitários financiados pelas plataformas de apostas, criando uma imagem de “benfeitores” entre os moradores. O grupo ainda mantinha proximidade com candidatos em eleições municipais, ampliando sua influência política.
Segundo o delegado Antenor Junior Pimentel Marcondes, a estratégia reproduz a lógica da Roma Antiga. “É comparável à política do ‘pão e circo’, em que os governantes mantinham a população distraída com alimentos e jogos. Aqui, a facção usa o futebol e outras formas de entretenimento para conquistar simpatia e lealdade, ao mesmo tempo em que camufla suas atividades ilícitas”, explicou.