Foto Ahmad Jarrah
Os problemas de saúde relacionados à medula humana estão entre os mais preocupantes. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), ligado ao Ministério da Saúde (MS), apontam que o transplante de medula óssea (substância que ocupa o interior dos ossos, conhecida como “tutano”) pode ser utilizado no tratamento de mais de 80 tipos de doenças, mas a razão entre receptores e doadores de medula é de 1 para cada 100 mil. Com 3,2 milhões de habitantes, Mato Grosso tem direito a cadastrar anualmente apenas 0,3% desse contingente.
O exame de compatibilidade exigido para compor o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME), mantido pelo INCA, denominado “teste de histocompatibilidade”, custa R$ 375 cada. A verba é repassada pelo Ministério da Saúde aos Estados, que mantém os centros de coleta. Em Mato Grosso, o principal deles é o MT-Hemocentro, ligado à Secretaria de Saúde. Quem realiza o procedimento ambulatorial para compor o cadastro, entretanto, é o Hospital Geral Universitário (HGU).
Porém, a portaria nº 2132, de 25 de setembro de 2013, publicada pelo Ministério da Saúde, estabeleceu “cotas” para cada unidade federativa brasileira em relação ao número máximo de cadastro de doadores voluntários que elas poderiam ter ao ano. Segundo a tabela, Mato Grosso pode cadastrar até 10.651 doadores anualmente.
Num universo de 3,2 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 0,3% da população mato-grossense pode ser cadastrada no REDOME ao ano.
Entretanto, até mesmo a cota máxima que Mato Grosso tem direito parece não estar sendo alcançada. O Circuito solicitou ao MS o total de cadastros de doadores voluntários de medula óssea no Estado no período entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2015. De acordo com dados do Ministério, apenas 6.154 amostras passaram a fazer parte do REDOME, ou seja, utilizou-se apenas 57% do contingente autorizado pelo Governo Federal.
Outro lado
O Circuito Mato Grosso procurou o Ministério da Saúde para indagar se o limite anual de 10.651 cadastros para o Estado não seria baixo. Por meio da assessoria, o MS respondeu que “a simples captação de mais doadores, sem o adequado planejamento, não aumenta linearmente a identificação de doadores compatíveis. Há necessidade de um crescimento contínuo do Redome, porém pautado em ações de gestão que busquem aumentar a diversidade genética e a representatividade da população brasileira nesses registros”.
O jornal também procurou a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT) questionando por que Mato Grosso não conseguiu atingir a cota estabelecida de cadastro de doadores voluntários de medula em 2015, os custos gerados nos exames de histocompatibilidade e o número total de pessoas que procuraram o MT-Hemocentro no ano passado para se tornarem doadores em potencial.
Em resposta, a assessoria informou que 8 mil pessoas procuraram o MT-Hemocentro para se tornarem doadores voluntários de medula óssea. Assim, cruzando com os dados enviados pelo Ministério da Saúde, cerca de 1.846 amostras de doadores podem ter sido descartadas.
Questionada sobre o Estado não ter atingido a cota de doações anuais, a SES admitiu que a procura dos voluntários ainda é baixa, pois o cadastro depende não só do número de pessoas que procuram o MT-Hemocentro, mas também a garantia da diversidade genética da população e a qualidade dos dados que serão inseridos no REDOME, além de campanhas de doação, que só podem ser realizadas com autorização do INCA.
“Ministério da Saúde determina que toda e qualquer campanha seja previamente autorizada pelo INCA, que avalia a necessidade da ação seguindo a premissa de garantir a diversidade genética e na qualidade dos dados que serão inseridos no Redome”, disse a SES em nota.
Em ambas as respostas enviadas pelas assessorias (SES e MS), nenhuma soube informar os custos gerados pelos exames de histocompatibilidade e demais procedimentos necessários ao cadastro no REDOME.
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