Ainda à espera do anúncio do pacote de cortes de gastos do governo, o Ibovespa se firmou em baixa à tarde e flutuou ao sabor dos ruídos em torno do assunto, relativamente indiferente ao já precificado corte na taxa de juros do Federal Reserve, de 0,25 ponto porcentual, confirmado no comunicado do BC americano, divulgado às 16h. Na mínima do dia, aos 129.406,39 pontos, o índice da B3 reagia mal ao relato de que o pacote envolveria duas medidas – uma de R$ 10 bilhões, que não atingiria a área social – e outra de R$ 15 bilhões – com impacto sobre áreas como Saúde, Desenvolvimento Social e Transportes.
O mercado aguarda iniciativas de contenção de gastos que cheguem a uma faixa superior de corte, de forma que o relato sobre um ajuste mais modesto foi recebido com desconfiança, impactando os preços dos ativos brasileiros. Contudo, após o ministério da Fazenda vir a público, por meio de nota, desmentir a informação de que aqueles valores estivessem na mesa, o Ibovespa chegou a se estabilizar em patamar um pouco mais alto. Mas a falta de definição continua a preocupar.
Assim, no fechamento, o índice da B3 mostrava perda de 0,51%, aos 129.681,70 pontos, tendo chegado na máxima do dia aos 131.319,41 pontos, saindo de abertura aos 130.341,42 pontos. O giro financeiro foi a R$ 24,9 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa avança 1,22%, mas cede 0,02% em novembro. No ano, cai 3,36%.
“O mercado abriu com Bolsa em alta e dólar em leve baixa, reagindo bem ao aumento da Selic, de meio ponto porcentual, em linha com o esperado. Falta de definição sobre o pacote de gastos do governo ainda traz incerteza e volatilidade, algo que deve persistir até que seja anunciado”, diz Pedro Caldeira, sócio da One Investimentos, acrescentando que o mercado tende a adotar um viés mais “neutro” até que surjam as aguardadas definições.
No comunicado da noite de ontem, sobre a elevação da taxa de juros de referência do Brasil, de 10,75% para 11,25% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom), embora não tenha indicado a possibilidade de acentuação do ritmo de alta da Selic – deixando tanto a extensão como o grau de ajuste do ciclo em aberto -, deu sinais, ao comentar os efeitos das preocupações fiscais sobre fatores como o câmbio, de que um ajuste mais firme pode vir a ser “necessário para atingir os objetivos” com relação à inflação, aponta Ricardo Faria, sócio da Legend Wealth.
“O cenário de maior aversão, em grande parte por conta das incertezas fiscais, tem levado a um aumento no prêmio de risco e na taxa de câmbio”, diz Faria. “O comunicado destaca a importância de o governo apresentar e implementar um plano fiscal estrutural, que não seja apenas paliativo, mas que demonstre a capacidade de mudar a dinâmica e garantir a sustentabilidade das contas públicas.”
Na B3, o viés negativo do Ibovespa foi mitigado pelo forte desempenho da ação de maior peso no índice, Vale ON, que fechou em alta de 3,48% e chegou a subir mais de 4% durante a sessão, recuperando naquele momento cerca de R$ 11 bilhões em valor de mercado, aos R$ 290 bilhões, reporta a jornalista Amélia Alves, do Broadcast. A alta pouco acima de 2% no minério de ferro em Dalian (China) e de 1,5% em Cingapura deu impulso ao setor metálico como um todo nesta quinta-feira, com destaque também para Gerdau (PN +2,71%) e CSN (ON +3,10%).
O enfraquecimento global do dólar na sessão – após a alta do dia anterior, decorrente da eleição de Donald Trump nos EUA – resultou em recuperação, perto de 1%, para os preços do petróleo nesta quinta-feira em Londres e Nova York. Ainda assim, Petrobras ON e PN tiveram reação modesta na B3, com a ON em alta de 0,71% e a PN, de 0,31%, em meio à expectativa para a deliberação do conselho de administração sobre a distribuição de dividendos.
Entre os grandes bancos, o dia foi negativo, com destaque para Itaú (PN -1,47%) e Bradesco (ON -0,90%, PN -1,09%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, além de Vale, CSN e Gerdau, vieram também Bradespar (+2,85%) e Metalúrgica Gerdau (+2,38%, na máxima do dia no fechamento). No lado oposto, Petz (-14,53%), Totvs (-8,44%), Cogna (-7,19%), CVC (-6,76%) e Braskem (-5,87%).
Destaque da agenda global nesta quinta-feira, nem a decisão do Federal Reserve nem os comentários do presidente da instituição, Jerome Powell, alteraram a trajetória do Ibovespa na sessão, em que fechou em nível próximo ao que se encontrava antes do anúncio sobre os juros e também da entrevista coletiva de Powell. “Ele reforçou que o cenário-base do Fed continua o mesmo: levar a taxa de juros para um patamar mais neutro ao longo do tempo. E que a estratégia permanece a mesma: analisar os dados e tomar as decisões a cada reunião”, diz Luis Cezário, economista-chefe da Asset 1.
Dólar
A expectativa em torno da divulgação e da magnitude do pacote de corte de gastos em gestação no governo Lula dominou as atenções no mercado de câmbio doméstico nesta quinta-feira, 7. Apesar da onda de enfraquecimento da moeda americana em relação a divisas fortes e emergentes, mitigada apenas parcialmente após a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), o real apresentou fôlego bem limitado.
A taxa de câmbio até ensaiou uma queda pela manhã, quando tocou mínima a R$ 5,6343, mas o dólar ganhou força ao longo da tarde, em meio a rumores de que os cortes em estudo no governo seriam inferiores às expectativas do mercado financeiro. Na máxima, a divisa tocou R$ 5,7237.
O ministério da Fazenda veio a campo no meio da tarde para tentar acalmar os ânimos, o que mitigou as pressões sobre o real. “É importante ressaltar que tal informação não corresponde ao que vem sendo debatido entre a equipe econômica, demais ministérios e a Presidência da República”, afirmou a pasta, em nota, em referência a estimativas veiculadas de duas medidas fiscais, uma de R$ 15 bilhões, relacionada às áreas de Saúde e Transporte, e outra de R$ 10 bilhões.
Haddad passou o dia em reunião com Lula e os ministros da Casa Civil (Rui Costa), do Planejamento (Simone Tebet) e da Gestão (Ester Dweck) – todos que, junto com o titular da Fazenda, fazem parte da Junta de Execução Orçamentária (JEO). O vice-presidente, Geraldo Alckmin, juntou-se ao grupo à tarde.
Após oscilar ao redor da estabilidade na reta final dos negócios, a divisa fechou praticamente estável, cotada a R$ 5,6753 (-0,01%). Na semana, o dólar recua 3,31%. Pares latino-americanos do real, como os pesos mexicano e chileno, apresentaram hoje ganhos de mais de 1%, depois de terem apanhado ontem.
“O real foi uma das piores moedas hoje, mas ontem foi a que mais se valorizou. De qualquer forma, a moeda está longe do pico visto no dia 1º, quando superou R$ 5,87 na máxima. As conversas no governo para os cortes são um processo que gera muita volatilidade”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressaltando que, além da questão fiscal, as pressões sobre o real no início do mês refletiam também o chamado “Trump Trade”, em referência à aposta no dólar contra divisas emergentes.
Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY operou em queda ao longo do dia, em aparente ajuste após a disparada ontem, na esteira da vitória do republicano Donald Trump na corrida à Casa Branca.
Como esperado, o Federal Reserve anunciou à tarde redução da taxa básica de juros em 25 pontos-base, para a faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano. Analistas chamaram a atenção para o comunicado enxuto, com a exclusão do trecho em que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) citava “maior confiança” de convergência da inflação à meta de 2%. Em entrevista após o comunicado, o chairman Jerome Powell reiterou que vai seguir a estratégia de definir novos cortes de juros a cada reunião de política monetária do comitê.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, afirma que a alteração nos trechos sobre a inflação no comunicado dá um tom mais cauteloso que o esperado à postura do Fed. “Por enquanto, acredito que essas alterações são consistentes com cortes de juros não consecutivos em 2025, mas elas também seriam consistentes com uma pausa no ciclo de cortes”, afirma Borsoi.
Como previsto por analistas ouvidos pelo Broadcast, a decisão de ontem do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, de 10,75% para 11,25%, ficou em segundo plano nos mercados hoje. Mais do que a decisão em si, já amplamente esperada, chamou a atenção o alerta do colegiado do BC de que um plano crível de contenção de despesas, com “medidas estruturais”, contribuiria para redução dos prêmios de risco dos ativos domésticos.
Juros
Os juros futuros fecharam com sinais divergentes ao longo da curva a termo. Após uma manhã de alívio nos prêmios de risco estimulado pelo fechamento da curva dos Treasuries e pela expectativa de que, enfim, o pacote de corte de gastos fosse anunciado ainda nesta quinta-feira, a segunda etapa foi marcada por idas e vindas das taxas, estando o mercado com um olho no Federal Reserve e outro em Brasília.
Os investidores ajustaram a percepção sobre um anúncio iminente do pacote, mas voltaram a nutrir esperanças em medidas mais robustas, após a Fazenda negar informação que circulou na imprensa de que seriam nos valores de R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões. No fim da sessão, uma pernada extra de queda dos yields dos Treasuries a partir da entrevista de Jerome Powell ajudou a aliviar a curva por aqui. No fechamento, as taxas de curto prazos exibiam viés de alta, as intermediárias estavam de lado e as longas, em queda firme.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 13,00%, de 12,95% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 13,02%, de 13,03%. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa a 12,85% (de 12,97%).
Entre o fim da manhã até a entrevista de Powell, o mercado de juros operou a reboque de ruídos em torno do pacote fiscal. O investidor tentava conter a ansiedade sobre o que seria decidido na reunião do presidente Lula com ministros sobre as medidas, que durou o dia todo, mas passou a calibrar o otimismo de que algo poderia sair ainda hoje.
Ruídos relacionados à robustez das medidas também fizeram preço. “Na parte da tarde, o que pegou mais foi o fiscal, a expectativa de que o anúncio decepcione. O mercado estava esperando algo mais robusto, entre R$ 30 bilhões e 50 bilhões, mas há rumores de que pode vir mais um corte de R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões. Seria bem frustrante”, afirmou o economista da DA Economics Victor Beyruti.
De acordo com relatos da imprensa, Lula vai analisar duas propostas, uma que chegaria a um montante de R$ 15 bilhões e atingiria pastas como Saúde e Transporte, enquanto a outra ficaria em torno de R$ 10 bilhões, segundo fontes. Diante dos impactos da notícia no mercado, a Fazenda divulgou nota à tarde para dizer que as informações não procedem, o que acabou retirando pressão da curva.
Quanto ao Fed, a expectativa majoritária de corte de 25 pontos-base no juro dos EUA, para 4,5% a 4,75%, foi ratificada e, na avaliação do estrategista-chefe da AZ Quest, André Muller, essa dose de redução deve ser mantida nas próximas duas reuniões. “Nosso cenário é de economia americana continuando a crescer num ritmo pouco acima do neutro e não enxergamos pressões inflacionárias nesse momento. Dada a distância que estão das estimativas de juros neutro, acho que faz sentido”, disse.
Pela entrevista de Powell, Muller acredita que o Fed pareceu seguro de que não há por ora nada indicando sobreaquecimento da economia, que levasse os diretores a entender que a inflação vai acelerar. “Enxergam a inflação compatível nesse momento com 2% e não vem qualquer pressão inflacionária vinda do mercado de trabalho”, afirmou.
No fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos, que ontem rompeu 4,40%, estava na casa de 4,33%.