Nacional

Especialistas explicam quando a depressão afeta o trabalho

A queda de um avião da empresa Germanwings nos Alpes franceses, matando 150 pessoas, levantou uma discussão importante. A depressão poderia ter levado o copiloto, Andreas Lúbitz, a derrubar a aeronave de propósito? E, se foi isso mesmo, alguém que está deprimido poderia continuar trabalhando?
Silvana é professora em São Paulo. Michele é operadora de computador em um supermercado no Rio de Janeiro. A vida das duas mudou totalmente depois que elas receberam um diagnóstico: estavam com depressão.

“Estava na minha sala trabalhando. De repente, começou a me dar um vazio muito grande e eu me tranquei, apaguei a luz, me acuei num canto”, conta a operadora de computador Michelle Barbosa.
Depois de ficar quatro meses afastada, Michelle voltou a trabalhar em fevereiro desse ano.

“Quando eu cheguei, as pessoas me receberam muito bem. Aquela recepção também está me ajudando na recuperação”, diz Michelle.
Silvana está há quase dois anos sem pisar em uma sala de aula.

“Chegava na escola, não conseguia ficar. Começava a me dar angústia, começava a chorar do nada”, relembra a professora Silvana Castilho.
Silvana e Michelle se juntam a muitos outros brasileiros que pararam de trabalhar por um período porque ficaram deprimidos. Os transtornos mentais e comportamentais são a quarta maior causa de afastamento do trabalho, segundo o Ministério da Previdência Social. Só no ano passado 222 mil pessoas foram afastadas por esses problemas. Dessas, 83 mil tinham depressão.
“A tristeza passa e a depressão não passa. É você estar triste sem conseguir dormir, sem conseguir comer, sem energia para trabalhar”, explica o psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, Daniel Martins de Barros.
“Você perde totalmente a sua vontade, seu desejo pela vida, sua alegria de viver”, conta Silvana.
Teria sido esse o tormento do piloto Andreas Lubitz que, segundo as investigações, derrubou, de propósito, o Airbus da Germanwings nos Alpes franceses, matando 150 pessoas? No domingo (29), o Fantástico mostrou que ele tinha um histórico de depressão.

“Segundo procuradores alemães, a polícia encontrou no apartamento registros médicos, alguns rasgados. Segundo a imprensa alemã, também foram encontradas receitas médicas de psicotrópicos, remédios usados para doenças psiquiátricas, como a depressão”, dizia o repórter Roberto Kovalick na reportagem.

Nos últimos dias, mais uma revelação importante. Promotores que acompanham o caso disseram que em um computador do copiloto havia registros de buscas feitas na internet sobre métodos de suicídio. Ele também teria pesquisado sobre o funcionamento das portas da cabine dos aviões e medidas de segurança. O Fantástico conversou com psiquiatras para saber se a depressão poderia ter influenciado Andreas.

Daniel Martins, psiquiatra: Todo suicida acaba desconsiderando um pouco o sofrimento para os outros.
Helena Maria Calil, professora de psicofarmacologia: Não costuma acontecer isso com quem tem só depressão. Quem tem depressão tem ideias de suicídio, mas não tem ideias de exterminar outros.
Daniel Martins: Ele pode ser classificado como um comportamento chamado de homicídio-suicídio. Existem outros elementos além da depressão.
Helena Calil: Ele devia ter alguma outra patologia.

Um jornal alemão disse que Andreas sofria também de um distúrbio chamado de síndrome de burnout.
Daniel Martins, psiquiatra: O burnout anda perto da depressão. A pessoa fica absolutamente esgotada com o trabalho.
Fantástico: Mas não explica uma situação como essa?
Daniel Martins: Não explica.
Fantástico: A atitude dele pode ter alguma relação a esse problema da depressão?
Daniel Martins: Com a relação ao piloto da Germanwings, é importante ter claro o seguinte: só a depressão não explica o que aconteceu. Se as pessoas começarem a achar que todo deprimido pode ter uma atitude extrema, vai aumentar o preconceito contra a depressão.
“As pessoas pensam: depressão, isso não existe”, comenta Silvana.

“Chegavam e falavam: isso é frescura”, relembra Michelle.
Fantástico: Quem tem depressão pode trabalhar?
Helena Maria Calil, professora de psicofarmacologia: Sem dúvida, a grande maioria das pessoas que tem depressão trabalham.
A doença só incapacita a pessoa quando o estágio já é muito avançado.

“Quando a pessoa realmente não tem energia, que não consegue se concentrar que não consegue nem realizar as próprias tarefas, é que você tem que esperar o tratamento fazer efeito e a pessoa começar a melhorar pra poder voltar ao trabalho ”, diz Daniel Martins, psiquiatra.

Silvana poderia ter evitado a licença se, logo no início, os médicos tivessem identificado que ela tinha depressão.

“Só depois de mais de seis meses que eu já estava doente, eu fui parar com um profissional e ele me explicou, me fez entender que isso é uma doença como outras doenças”, diz Silvana.

Quem está por perto pode ajudar a identificar os sintomas.
“A cara de tristeza, ou a pessoa muito quieta, muito recolhida”, ressalta a psiquiatra Helena Calil.

Fantástico: Como é que é a vida com depressão?
Silvana: Muito difícil. Hoje, eu vivo um dia de cada vez. Eu não posso falar pra você que amanhã eu vou acordar bem, porque eu não sei.

“Nós temos que aceitar o que a gente tem. Eu estou me recuperando através das terapias, os medicamentos e o apoio. Apoio da família, dos amigos. Quem tem essa doença tem que ser mais cercada de carinho”, diz Michelle.

Fonte: G1

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Nacional

Comissão indeniza sete mulheres perseguidas pela ditadura

“As mulheres tiveram papel relevante na conquista democrática do país. Foram elas que constituíram os comitês femininos pela anistia, que
Nacional

Jovem do Distrito Federal representa o Brasil em reunião da ONU

Durante o encontro, os embaixadores vão trocar informações, experiências e visões sobre a situação do uso de drogas em seus