O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) apresentará em quatro etapas (entre o fim deste mês e outubro de 2014) aquele que já é considerado o diagnóstico mais completo feito até agora sobre o problema. O relatório estuda quatro cenários possíveis para as mudanças climáticas até 2100, assim como seus impactos para o planeta e as formas de enfrentá-los.
O primeiro volume, que será publicado em 27 de setembro, em Estocolmo, após quatro dias de deliberações na capital sueca, confirmará a responsabilidade do ser humano no aquecimento do planeta, a intensificação de certos fenômenos climáticos e a revisão para cima do nível do mar, segundo uma versão provisória do resumo, à qual a AFP teve acesso.
Trata-se do quinto relatório do painel desde a sua criação, em 1988. O documento, escrito por 250 cientistas, reforçará o apelo por medidas para limitar a 2 graus Celsius a elevação das temperaturas desde a época pré-industrial, uma meta adotada pelos 195 países que negociam sob a égide da ONU, mas que parece cada vez mais difícil de alcançar.
"O IPCC é a pedra na qual se assentam as mudanças climáticas e toda a política climática. Será o novo guia estratégico, como foi o quarto relatório", publicado em 2007, avalia Tim Nuthall, da Fundação Europeia para o Clima.
Em 2007, o IPCC gerou uma mobilização sem precedentes em torno da questão climática, o que lhe rendeu a atribuição do Prêmio Nobel da Paz, em conjunto com o ex-vice-presidente americano, Al Gore, ele próprio um ativista ambiental mundialmente conhecido com o filme Uma Verdade Inconveniente (2006).
No final de 2009, os líderes mais importantes do planeta, a começar pelo presidente americano, Barack Obama, se reuniram em Copenhague, na Dinamarca, para tentar costurar um acordo. Mas o fracasso daquela cúpula continua assombrando as negociações sobre as mudanças climáticas, agora orientadas para a meta de fechar em 2015 um novo acordo global durante uma conferência internacional que será celebrada em Paris.
Na verdade, o IPCC não faz mais do que sintetizar os conhecimentos científicos já publicados e se limitará a confirmar a realidade das mudanças climáticas, como o aumento da temperatura global, que já alcançou 0,8ºC desde o começo do século XX.
"Sempre repetimos o mesmo… É a força da nossa comunidade, mas também a razão pela qual se cansam de nós", ironiza o glaciologista Jean Jouzel, membro do IPCC.
Em seu relatório, o IPCC apresenta quatro cenários possíveis para o final do século XXI, mais ou menos "quentes" em função da quantidade de gases de efeito estufa emitidos na atmosfera. Embora não se pronuncie sobre a probabilidade de que estes cenários se cumpram, só um deles permitiria alcançar a meta de limitar o aquecimento a 2ºC. Os outros três não atingem este objetivo e o pior de todos contempla um aquecimento entre 2,6°C e 4,8°C.
A "pausa" na elevação das temperaturas observada há quinze anos, que poderia ser explicada por uma captação de calor dos oceanos, não muda as projeções de longo prazo, destacou recentemente o serviço britânico de meteorologia. Mais ainda porque os demais indicadores de aquecimento não mudaram, como a elevação do nível do mar, o derretimento das geleiras o Ártico ou a frequência das ondas de calor.
Desde 2007, "a crise se agravou", afirma Al Gore em entrevista ao jornal francês Le Monde, porque "os eventos meteorológicos extremos vinculados à crise do clima se tornaram muito maciços e frequentes para serem ignorados".
A partir desta segunda-feira, o resumo desta primeira parte do relatório será submetido à aprovação, linha por linha, dos representantes dos 195 países do IPCC, que poderão modificar a forma do informe, mas não suas conclusões.
As duas partes seguintes – sobre o impacto das mudanças climáticas e a forma de mitigá-lo – serão publicadas no começo de 2014, antes de uma síntese global prevista para outubro de 2014.
Desta vez, o IPCC quer ser irrepreensível. Em 2007, houve alguns erros no relatório que os céticos do aquecimento global aproveitaram para questionar a credibilidade do painel. Desde então, o IPCC implantou mecanismos para que este "erro estúpido" não se repita, afirma Jean Jouzel.