Com o avanço da pandemia do novo coronavírus a procura por testes de diagnóstico aumentou significativamente. Os resultados de falso/negativo e falso/positivo também cresceram e com isso os riscos de um diagnóstico falho. O alerta é da Associação Mato-grossense de Análises Clínicas (Amac) que reforça que “resultados errados” podem pôr em risco a saúde dos pacientes.
De acordo com a presidente da Amac, Maria Elisa Scheifer, as falhas podem ocorrer pela falta de capacitação do profissional, que realiza o exame, ou ainda pelo não cumprimento de normas e padrões determinados pelas autoridades de saúde durante a realização do teste. De acordo com a farmacêutica e bioquímica, é essencial que o teste seja realizado por um profissional treinado e que conheça as metodologias que cada teste exige.
“Uma pessoa que começou a sentir os sintomas da doença não pode fazer um exame de sorologia logo no primeiro dia, por exemplo, pois a sorologia IgG e IgM só vai soroconverter no Covid-19 após o décimo dia de sintomas do paciente. E no exame de sorologia existem diferentes metodologias para serem utilizadas, entre elas, a da imunocromatografia, mais conhecido como o teste rápido da Covid-19, que pode ser realizado até mesmo em farmácias, e este tipo de exame possui grande chances de mostrar falsos negativos e falsos positivos”, explica.
O teste rápido de antígeno é capaz de detectar proteínas presentes na estrutura do novo coronavírus e, por isso, consegue diagnosticar a covid-19. Mas, de acordo com especialistas, exige muita cautela, pois a chance de falha é maior se comparada ao RT-PCR, que é considerado padrão ouro para identificar a infecção.
Maria Elisa Scheifer destaca os riscos de resultados falsos negativos e falsos positivos para a saúde pública e o impacto desses resultados na mensuração da doença. Ela alerta que os exames realizados em locais como as farmácias e empresas de medicina do trabalho, não vão para contagem oficial das autoridades públicas de saúde e isso pode acarretar falhas no número de notificações para a vigilância sanitária e os dados sobre a pandemia passam a ser defasados.
“Quando a pessoa faz o exame fora do período de detecção do vírus o resultado pode dar negativo, mesmo com a pessoa infectada, essa pessoa não vai tomar os cuidados necessários, não vai se isolar e vai continuar disseminando o vírus para outras pessoas. O mesmo risco acontece com um falso positivo, quando a pessoa não está doente e se afasta de suas atividades, acaba tomando remédios sem necessidade e se preocupa com uma doença inexistente”, pontua.
A doutora em Farmacologia e membro da diretoria do Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de Mato Grosso (Sindessmat), Flávia Silvestre, aponta que a pandemia exigiu ainda mais a necessidade de diagnósticos precisos. Ela reforça que órgãos como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e órgãos de saúde nacionais determinaram o RT-PCR como a metodologia de “padrão ouro” para detecção do SARS-CoV-2 e que este tipo de exame precisa de profissionais qualificados para um resultado satisfatório e assertivo.
“Essa metodologia que usa técnicas de biologia molecular tem como grande diferencial a execução por pessoas treinadas. E quando falamos dos diferenciais, levamos em conta toda a estrutura, desde a fase pré-analítica da correta coleta do exame, até a fase analítica. Por isso a precisão do diagnóstico leva em conta a realização dos exames em laboratórios confiáveis, com credibilidade e profissionais qualificados para a função”, defendeu.
“Um exame de tamanha importância não pode ser realizado em qualquer lugar, por qualquer técnica de diagnóstico e de forma subjetiva, pois isso poderá interferir diretamente no resultado. A maior parte dos exames falsos positivos e falsos negativos que recebemos para verificar, foram realizados em locais que não estavam preparados e por pessoas destreinadas”, finalizou.