Trazer ao Brasil os corpos e os sobreviventes do acidente com o avião que levava a delegação da Chapecoense a Medellín, na Colômbia, não é a única preocupação das autoridades. Há a necessidade de cuidar dos familiares das vítimas e também de quem escapou da tragédia, mas está eternamente marcada por ela. Psiquiatras, psicanalistas e psicólogos estão atendendo tanto na cidade colombiana quanto no Oeste Catarinense e isso pode ser fundamental para que todos consigam assimilá-la da forma menos dramática possível.
A providência é mais que recomendada por especialistas da saúde. “Um trauma como este tem poder de provocar desorganização mental grande, causando mudanças de comportamento, amnésia, alteração de humor. Por isso, é muito importante que as pessoas busquem ajuda profissional”, afirma o psicanalista Geraldo Caldeira, que também aprova a conversa com amigos como forma de superar o momento difícil.
Segundo ele, os comportamentos podem variar, indo do sentimento de culpa, da ilusão de que poderia ter-se feito algo, à busca de saídas religiosas, passando pela revolta. “Cada um vai reagir de uma forma. A bagagem emocional vai determinar como tudo será assimilado, como se lida com perdas. Alguns sairão mais fortes, outros terão dificuldades para sair disso”, declara.
No caso de quem não embarcou, a leitura também pode variar. Segundo ele, há quem vá encarar como um milagre e procure a reparação, se tornando uma pessoa mais cuidadosa e amiga. Ou ver injustiça por perder amigos e pessoas que apreciava.
“A tensão é tão grande que pode evoluir para quadro de estresse pós-traumático. São situações muito drásticas, que ocorrem de repente e pegam as pessoas de surpresa, não há tempo para se preparar. Vem a ansiedade, que, se não for bem cuidada, pode evoluir para depressão profunda”, explica a psicanalista e psiquiatra Gilda Paoliello.
Mobilização
Quem também merece muito cuidado é a população de Chapecó, segundo os dois profissionais. Eles elogiam a reação das pessoas, que desde que ficaram sabendo do acidente se mobilizaram, ocupando a Arena Índio Condá e participando de missa na catedral da cidade.
“O luto coletivo é positivo, um chora e faz o outro chorar. Quando mais elaborarem isso, mais rápido vão superar o episódio”, argumenta Caldeira.
Já Gilda vê na mobilização um ponto positivo não só para a própria população, mas também para os envolvidos diretamente no acidente. “A reação do povo de Chapecó, de angústia, de solidariedade, é normal. E dá um bom suporte aos familiares das vítimas, contribui para que elas sigam a vida”, diz.
No Oeste Catarinense, há um grupo grande de profissionais para ajudar a manter a saúde mental dos moradores. Uma parte do “time” tem ficado de plantão na Arena Índio Condá e outra atende familiares das vítimas em suas residências.
Entre eles está o belo-horizontino André Pedrosa, funcionário público municipal e professor universitário em Chapecó. Ele traz no currículo o trabalho no Complexo do Alemão, no Rio, durante o processo de pacificação da comunidade, em 2011.
Fonte: Super Esportes