Imigrantes de várias origens puderam se reunir e buscar orientação na cidade de São Paulo, além de ter acesso a serviços como exame de glicemia, aferição da pressão arterial, corte de cabelo, orientação nutricional, consulta ao Procon, Defensoria Pública Federal e do estado, cadastro em programas sociais, além da possibilidade de tirar carteira de trabalho e até o documento de identidade de filhos brasileiros.
A Jornada da Cidadania, patrocinada pelo governo estadual, aconteceu no último sábado, no Centro de Integração da Cidadania (CIC) do Imigrante, no bairro da Barra Funda.
Amani Tebi, de 28 anos, estava com sua filha de três meses nos braços. Ela chegou com o marido ao Brasil há oito meses, quando já estava grávida. Eles fugiam do conflito armado em seu país, quando a casa deles foi destruída por uma bomba. Ela já consegue se comunicar em português e contou que não poderia ter a filha na Síria, porque a vida lá estava difícil e perigosa. “Minha casa caiu por causa de bomba”, disse.
Ela mora em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, mas a família enfrenta dificuldades para se manter. Questionada se o marido está trabalhando, ela diz “trabalha e não trabalha [se referindo à alta rotatividade], depois de três ou quatro meses, trabalha em outro, porque aqui trabalho é muito difícil para estrangeiro”.
Na Síria, Amani era advogada, e o marido, professor de inglês. Aqui ela ainda não conseguiu nenhum emprego, antes porque estava grávida e agora por causa do bebê pequeno. O marido, que já ganhou dinheiro lavando ruas, agora está trabalhando na cozinha de uma pizzaria.
O nigeriano Okechukwu Kingsley tem 29 anos, não consegue se comunicar em português e, com dinheiro trazido da Nigéria mantém uma loja de roupas na Avenida Rio Branco. As condições muito ruins que ele, a mãe e três irmão enfrentavam, fizeram com que ele buscasse vida melhor longe de casa.
Segundo ele, não havia luz, trabalho, nem o que comer no lugar onde morava. Há seis meses aqui, ele contou que pensa em trazer toda a família. Mas por enquanto, envia o dinheiro que ganha para ajudar na sobrevivência dos parentes na Nigéria.
Os imigrantes, muitas vezes, não sabem por onde começar sua regularização, nem os serviços aos quais têm direito, além de não conhecerem a língua portuguesa, de acordo com a coordenadora estadual de Integração da Cidadania, Ângela Marchi. Ela explica que “o CIC do Imigrante é um espaço para receber, documentar e orientar todos os imigrantes que chegam a São Paulo, e o objetivo da Jornada da Cidadania é fazer a divulgação desse espaço para os imigrantes”.
Hoje, o local oferece os serviços permanentes de Defensoria Pública estadual e federal, Procon e o Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT), e “está sendo providenciada a vinda da Polícia Federal e do Poupatempo. Aqui será um espaço para atender o imigrante em todas as suas necessidades”, disse Marchi. Além disso, haverá aulas de português aos sábados, começando neste mês.
O médico Marco Cesário, diretor do Projeto Centro de Integração de Educação e Saúde, participou da jornada, na qual fazia avaliações, identificava doenças básicas e depois da triagem orientava o paciente para buscar mais informação e atendimento em relação à saúde.
"A maioria deles nunca teve qualquer contato, aqui no Brasil, com relação aos cuidados de saúde. Eu identifiquei que não havia nenhuma triagem, mesmo de problemas simples como hipertensão, diabetes e colesterol”, contou o médico, destacando que muita gente nunca tinha passado por uma consulta médica nem realizado exames básicos.
Quem vem de outro país pode também se cadastrar no Sistema Único de Saúde (SUS), porém precisa solicitar o Registro Nacional de Estrangeiros (RNE). Segundo as defensoras públicas Fabiana Galera Severo e Karina Santos Salvador, o protocolo que a pessoa recebe assim que pede o documento já é suficiente, não só para ter um cartão do SUS, mas para conseguir carteira de trabalho, abrir conta em banco e matricular os filhos em creches públicas.
Fonte: Agência Brasil