Ao ter a oportunidade de abrir uma franquia do McDonald’s, em Recife (PE), na década de 1990, o paulistano Antônio de Souza, de 60 anos, não pensou duas vezes. Mas ele admite que, no início, não tinha ideia do que precisava fazer e aceitou o desafio por ser fã da marca.
Já em 2003, Souza vendeu suas franquias do Méqui e, no ano seguinte, tentou trazer a hamburgueria norte-americana Johnny Rockets para o Brasil. Mas, devido a uma disputa judicial relacionada ao direito de uso da marca, a primeira unidade só foi inaugurada em 2013, em Guarulhos (SP). Doze anos depois, a rede tem 32 lojas em nove estados brasileiros. O faturamento em 2023 foi de R$ 125 milhões.
Souza começou a empreender com milho e soja
Souza é engenheiro elétrico por formação, mas começou a trabalhar como corretor de cereais ainda durante a faculdade. No final dos anos 1980, ele começou a empreender e abriu uma corretora de milho e soja.
Ele vendeu a empresa em 1994 e chegou a comprar dois postos de combustíveis, mas desistiu do negócio depois de alguns meses. “Eu não sabia o que fazer a seguir, mas um amigo me apresentou a um franqueado do McDonalds”, conta.
Sem nenhuma experiência com o setor de food service, Souza diz que abraçou a oportunidade de abrir uma loja em Recife, ainda em 1994, por ser fã do McDonald’s.
“Ser franqueado do McDonald’s é disruptivo para quem quer aprender”, diz. “É uma empresa referência no mercado. Eu não tinha nenhum conhecimento sobre a área, e foi a minha primeira escola”.
Relação desgastada com McDonalds e troca por Johnny Rockets
Souza chegou a ter três restaurantes e oito quiosques do McDonald’s em Recife, mas vendeu as lojas em 1999 para voltar à São Paulo e comprar unidades em Mauá, Santo André e São Bernardo, no ABC Paulista, onde foi responsável por cinco restaurantes e seis quiosques.
A história dele com o McDonald’s acabou em 2003. O empresário explica que, na época, era representante da Associação Brasileira dos Franqueados McDonalds, mas que a relação foi desgastada por desafios do dia a dia e ele preferiu sair da empresa.
“Eu já tinha hambúrguer na veia e pensei em trazer marcas populares dos Estados Unidos para o Brasil”, afirma. A primeira aposta foi o Johnny Rockets: a rede foi fundada em Los Angeles, na Califórnia, em 1986 e é inspirada nas lanchonetes dos anos 1950.
Ele conta que, como cliente, gostava da mistura de música, dança e hambúrgueres, e, como empresário, acreditou que o negócio pudesse fazer sucesso por aqui.
O problema é que a marca Rockets já tinha sido registrada por uma empresa brasileira no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). “Descobri uma hamburgueria em São Paulo que era a cópia do Johnny Rockets, até no nome, no estilo da caligrafia e na logomarca”, diz.
Souza afirma que entrou em uma disputa judicial em 2004 para recuperar o direito de usar a marca, mas que não recebeu apoio da matriz nos EUA. “Eles abriam franquias internacionais, mas não davam o suporte necessário”, conta.
Licença do primeiro Johnny Rockets custou US$ 1 milhão
Sem assistência para enfrentar a batalha judicial, Souza desistiu do Johnny Rockets e investiu em outras hamburguerias, como a Joe & Leos. A situação mudou em 2010, quando a empresa norte-americana foi comprada por um fundo de investidores.
“Eles entraram em contato para entender o porquê de não ter lojas no Brasil”, diz. “Em três meses, nós recuperamos o direito de usar a marca, e, em dois anos, o concorrente fechou”.
Ele afirma que precisou desembolsar cerca de US$ 1 milhão para ter a licença da empresa. A primeira unidade do Johnny Rockets foi inaugurada no Shopping Internacional de Guarulhos, em 2013.
Souza negociou com os representantes norte-americanos da marca que nenhum alimento seria importado e que a maioria dos equipamentos também seria nacional. Ele diz que teve liberdade para fazer adaptações no cardápio para o paladar dos brasileiros.
“Hoje é diferente, mas, naquela época, eu sabia que era difícil vender só hambúrguer de segunda a quinta-feira no almoço”, afirma. “O Johnny Rockets do Brasil precisava ir mais para o lado do casual dining do que para a hamburgueria, como é no mundo todo”.
Uma das mudanças foi a adição de pratos tradicionais de almoço, como o filé de frango grelhado e coberto com creme de milho. Mas os lanches, como o The Original, feito desde 1986, e o Smoke House, que tem bacon, cebola frita e queijo cheddar entre os ingredientes, ainda são o carro-chefe da casa, acompanhados pelo milk-shake.
Os preços variam de acordo com o modelo do negócio. Além de servir, os garçons também fazem danças coreografadas no meio dos clientes nas lojas. Algumas unidades ainda têm parcerias com boliches, como a do Shopping Center Norte, na Vila Guilherme, na zona norte de São Paulo.
Depois de abrir 20 lojas próprias, em 2017, Souza levou a marca para o franchising, mas aposta em um processo de expansão cauteloso, já que os restaurantes pedem investimentos altos – as lojas de rua, por exemplo, custam a partir de R$ 1,7 milhão.
A rede conta com 32 unidades, em nove estados brasileiros e no Distrito Federal, além de pontos de vendas móveis em locais de eventos, como o Morumbis. O faturamento de 2024 não foi revelado, mas em 2023, a rede faturou R$ 125 milhões.
“Se eu tivesse começado em 2004, provavelmente teria uma expansão mais rápida, porque não tinha concorrência na época”, aponta. “Então, eu nasci no momento errado, mas, mesmo assim, cresci”.
Empreendedor tem também sorveteria e confeitaria
Em 2020, Souza adquiriu a gelateria Cuor di Crema e a confeitaria Boulangerie Carioca e criou a holding Antaris Franchising. No caso da Cuor di Crema, que tem nove unidades, e da Boulangerie Carioca, que tem sete lojas, quem adquire a franquia de uma empresa, ganha a estrutura da outra, para ajudar a enfrentar a sazonalidade, de acordo com o empresário.
No ano passado, a Antaris Franchising se uniu à Food Brands para formar a joint venture Antaris Food Brands Franchising. Apesar de ser detentora das marcas Johnny Rockets, Cuor di Crema e Boulangerie Carioca, o foco da empresa é atuar como uma consultoria, para ajudar no processo de expansão de outros negócios do setor de food service por meio de franquias. “A ideia é oferecer consultoria logística e operacional para marcas que queiram crescer”, explica.
O restaurante Vassoura Quebrada, que tem quatro unidades com temática de magia e bruxaria, é um dos que contam com a ajuda do grupo no processo de expansão. Souza afirma que, ao todo, a Antaris Food Brands Franchising atende a 12 marcas e já negocia com outras cinco empresas.
“Eu sou mais franqueado do que franqueador, mas o meu desafio é encontrar o equilíbrio. É minimizar nas minhas redes os problemas que sempre encontrei como franqueado, mas entender que, como franqueador, tenho alguns limites”, conclui.
Veja os dados das franquias do Johnny Rockets
Investimento inicial: a partir de R$ 1 milhão para o modelo fast casual (loja de shopping com área própria de refeições) e a partir de R$ 1,7 milhão para o modelo casual (loja de rua)
Faturamento médio mensal: R$ 350 mil para o fast casual e R$ 400 mil para o casual
Lucro médio mensal: 13,5%
Prazo de retorno: de 18 meses a 36 meses
Prazo de contrato: 5 anos
Royalties/mês: 6%
Avaliação dos clientes
O Johnny Rockets do Shopping Internacional de Guarulhos recebeu uma classificação média de 4,4 de 5 estrelas no Google, com 1.832 avaliações até a publicação desta matéria. Os comentários positivos elogiam a qualidade dos lanches e os negativos abordam problemas no atendimento.
Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, avaliações positivas ou negativas podem ser uma ação a favor ou contra a empresa.
Já no Reclame Aqui, o Johnny Rockets tem uma reputação classificada como boa, com nota média de 7 de 10 nos últimos seis meses e 38 reclamações registradas no período. A maior parte das reclamações está relacionada a mau atendimento.
Como está o setor de comida?
O Instituto Foodservice Brasil (IFB) estima que o setor de food service brasileiro terá uma média de expansão anual de 6,25% no cenário otimista em 2025. Já a projeção intermediária da organização aponta um crescimento anual de 4,9%, enquanto a expectativa mais conservadora prevê uma expansão de 2,75%.
A professora e pesquisadora de Marketing da Fundação Dom Cabral (FDC) Áurea Puga afirma que os dados mostram que o Brasil tem um mercado de food service em expansão, o que é positivo para quem pensa em empreender na área. Ela diz que a popularização do delivery, especialmente entre a geração Z, é um dos fatores que influenciam esse crescimento.
“Uma das principais características deste mercado é a alta fragmentação, com muitos pequenos e médios negócios em funcionamento”, avalia. “Essa divisão permite que pequenos empreendedores tenham oportunidades de competir”.
Por outro lado, Puga afirma que os altos custos operacionais e a inflação dos insumos exigem que o empresário tenha um bom controle de gastos. A falta de mão de obra qualificada, a alta rotatividade dos profissionais e o avanço da concorrência também representam desafios para as empresas.
“Além da concorrência tradicional de estabelecimentos de food service, outros formatos vêm surgindo para atender à demanda por alimentação fora do lar”, diz. “O consumo de marmitas, por exemplo, anunciadas e vendidas por meio de redes sociais, tem crescido como uma alternativa de menor preço e apelo de saúde”.
A única maneira de se destacar em um mercado onde o consumidor é exposto a tantas opções é entregar diferenciais que sejam valorizados pelo seu público-alvo. Entre as principais experiências buscadas pelos clientes, a professora destaca a procura por alimentos saudáveis, marcas que prezam pelo cuidado com o meio ambiente e locais com um bom serviço.
Antes de abrir um negócio no food service, Puga aponta que é importante definir quem será o seu cliente e qual será o posicionamento da sua marca, além de se dedicar a aprender como fazer uma gestão profissional, usar tecnologia para facilitar processos e estar aberto a inovações.
Para quem tem dúvidas entre criar o próprio restaurante ou se tornar franqueado de uma empresa já consolidada, a resposta certa vai depender do perfil do empreendedor. “A franquia oferece um modelo de negócio testado e suporte, mas com menor autonomia e custos. Já a marca própria permite mais flexibilidade e controle, mas exige maior investimento e riscos”, conclui.