Opinião

Enterro da Lava-Jato

Em abril de 2016 um magistrado da Itália, que participara de todas as fases da operação “Mãos Limpas” – na qual se inspirou a Lava-Jato –  dava uma entrevista a jornalistas brasileiros afirmando que a famosa investida da justiça italiana contra a marginalidade tinha ficado pela metade.

Passados o susto e a surpresa, ele disse, os políticos e empresários presos retomaram as rédeas e começaram a trabalhar pela anulação das sentenças e evitar, com novas leis, futuras condenações.

Em diversos artigos que escrevi durante os anos em que o Sergio Moro e o Deltan Dallagnol eram os heróis nacionais, sempre me referia ao risco de nossa “Mãos-Limpas” seguir o mesmo caminho da italiana, pois já surgiam aqui e ali, grupos tentando desprestigiar o Ministério Público e a Justiça Federal.

Entretanto, o perigo real não estava onde eu imaginava. A hipótese de retaliação dos investigados e condenados estava certa, mas a reação contrária não veio de onde se presumia. Passados estes anos, vimos que as supostas vítimas (Ministério Público e Justiça) na verdade tornaram-se os algozes da força-tarefa. A PGR e o STF, estes sim com extraordinário poder de fogo, tomaram pra si a incumbência de liquidar a força tarefa.

 Tal qual aconteceu na Itália, detonaram a nossa “Mãos Limpas” e, para completar o serviço, começaram a esmiuçar os processos julgados para encontrar falhas processuais que pudessem anular sentenças. 

O estranho para nós leigos é que não está em discussão a culpa dos condenados, muitos com sentenças confirmadas em instâncias superiores. Também não se questiona se os bilhões já devolvidos aos cofres públicos eram fruto de roubos, todos sabem que são. Pouco importam os delitos cometidos pelos condenados, o que conta é a higidez do processo.

Se não bastassem esses poderosos militantes institucionais, a coisa complicou ainda mais. A acusação contra um filho do Presidente de desviar dinheiro dos funcionários de seu gabinete, fez o pai amoroso interferir na Polícia Federal, o que levou à demissão do Ministro da Justiça Sérgio Moro, símbolo maior do combate à corrupção.

Pouco a pouco foram empurrando para o esquecimento os feitos da Lava-Jato e nesta semana dois fatos escancararam sua ruína total: em Curitiba a 13ª Vara Federal (símbolo da lava-jato) foi entregue ao juiz Eduardo Fernando Appio, crítico do Moro e do Dallagnol e simpatizante confesso da esquerda.

Mas, como desgraça de pouco é besteira o Conselho Nacional do Ministério Público acaba de afastar do cargo o juiz lavajatista Marcelo Bretas, que representa para o Rio de Janeiro o que o Moro significava para o Paraná e o Brasil.

Enfim, eu estava certo quando previa a guerra contra a Lava Jato, mas errei feio ao identificar seus inimigos. Afinal quem poderia imaginar que lulistas e bolsonaristas comungassem do mesmo ódio à força-tarefa. Os petistas por conta da prisão do Lula; os bolsonaristas porque o Moro não concordou com a ideia de aliviar a barra para o 02.

Por último fica uma dúvida: será que houve excesso de vaidade desses pavões da justiça, que teriam se embriagado com o sucesso e queimado as penas nos holofotes da mídia?    

Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor

renato2p@terra.com.br 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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