Em todo o Estado, alunos estudam em escolas sem ar-condicionado – num calor absurdo – em que pese a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) ter adquirido 2 mil equipamentos que não foram instalados por precariedade da rede elétrica das unidades.
São fatores que colocam o Estado com desempenho pífio no Enem. Em 2011, das 20 escolas que obtiveram as melhores médias, 18 são particulares e duas são federais. Enquanto isso, milhões são distribuídos em incentivos fiscais para empresas que apresentam número irrisório de empregos gerados e a Assembleia Legislativa consome R$300 milhões por ano dos cofres públicos.
O senador Pedro Taques (PDT) e o secretário estadual de Educação, Ságuas Moraes (PT), vivem um embate sobre o assunto. Taques criticou, no Senado Federal, a qualidade do ensino público de Mato Grosso. Segundo o senador, os elevados índices de analfabetismo, evasão escolar e a baixa qualidade do ensino, que acabam tendo reflexos desanimadores no Enem, são resultado da falta de planejamento e má gestão dos recursos públicos.
“Senhor governador Silval Barbosa: não é possível ingressar num ciclo de desenvolvimento social e econômico sustentável quando se possui os piores resultados nos indicadores de educação do país. Os erros da gestão estão deixando rastros cada vez mais difíceis de serem escondidos e marcas profundas de desrespeito em uma geração inteira de mato-grossenses”, afirmou Pedro Taques, na tribuna do Senado.

Conforme relatou o senador, os resultados “vergonhosos” são piores quando o ensino médio é avaliado. O abandono no ensino médio é 11,5 vezes maior que no ensino fundamental. Em 2008, por exemplo, a taxa de reprovação no ensino médio era de 5,3% e explodiu para 18,2%. A taxa de abandono, por sua vez, aumentou em mais de 4,3%, com pico de quase 50% em 2009.
Alunos estudam na área ou sob árvores
Os 830 alunos da Escola Estadual Maria Macedo, em Várzea Grande – a segunda maior cidade do Estado, separada apenas por uma ponte de Cuiabá – se revezam em estudar sob a sombra das árvores, algumas turmas ficam sem aula, outras estudam em uma área e outros se juntam mesmo sendo de séries diferentes. Este foi o jeito encontrado pela direção para não prejudicar ainda mais os estudantes.
Apesar de estar em uma área grande, suficiente para receber investimentos em mais salas de aula, laboratórios e quadra coberta, o local não recebeu nenhuma atenção da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) desde que a unidade foi construída. O local foi construído na década de 80 como uma creche para atender crianças do bairro.
Em junho de 1990, o local deixou de ser creche e passou a ser Escola Estadual. Apenas no passado, a Seduc escriturou a área, que em todo esse tempo não foi contemplada com reforma e ampliação.
Em fevereiro deste ano, um temporal colocou a estrutura da escola à prova e um bloco inteiro foi interditado, deixando quatro salas de aula sem funcionar. O telhado cedeu e antes que desabasse na cabeça de algum estudante ou professor, a direção da escola pediu um recurso emergencial à Seduc de R$16 mil para reformar o local. Para não ficar esperando a burocracia da máquina estatal, o diretor da unidade decidiu comprar os materiais de construção fiado e espera o recurso cair na conta da escola para pagar os fornecedores.
“Tivemos que fazer alguma coisa para agilizar a obra da reforma do telhado, para que os estudantes possam voltar para a sala de aula. A forma mais rápida foi comprar fiado, mas e se não fizesse isso?”, questiona uma das coordenadoras da escola, Vera Luiza da Silva Costa.
Por Débora Siqueira
Fotos: Pedro Alves