BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comparou nesta segunda-feira (17) a maconha à cloroquina ao dizer a apoiadores que barraria um projeto que libera o cultivo de maconha por empresas para fabricação de medicamentos, caso seja aprovado.
"Isso é com o Parlamento. Se chegar a mim, eu veto", disse Bolsonaro ao ser questionado por um apoiador no cercado armado no jardim do Palácio da Alvorada. A interação foi transmitida por um canal bolsonarista.
Bolsonaro, então, fez, em tom de ironia, a comparação entre a maconha medicinal e a cloroquina, remédio sobre o qual, assim como a hidroxicloroquina e a ivermectina, não há comprovação científica de que funcione para tratar ou prevenir a Covid-19.
"Engraçado, maconha pode, cloroquina não pode", afirmou Bolsonaro, para quem "a esquerda sempre paga uma oportunidade para querer liberar as drogas".
Uma apoiadora fala da ivermectina, ironizando que o medicamento faz mal. "Maconha e cocaína faz [sic] bem, sem problema", disse Bolsonaro, novamente em tom irônico.
O presidente tem feito críticas reiteradas ao projeto de lei nº 399, de 2015, que tramita em uma comissão especial na Câmara.
"Hoje, uma comissão da Câmara vota a liberação da maconha. Tem o veto depois, é difícil. Eles agora podem até aprovar, sem ser o voto nominal, mas tem o veto", afirmou Bolsonaro, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada no dia 11 de maio. "Ridículo até né, um país com tantos problemas [e] o 'cara' despendendo força para votar uma porcaria de um projeto desse."
A proposta permite atividades de cultivo, processamento, pesquisa, armazenagem, transporte, produção, industrialização, manipulação, comercialização, importação e exportação de produtos à base de Cannabis.
O texto, porém, diz expressamente que "é vedada a prescrição, a dispensação, a entrega, a distribuição e a comercialização para pessoas físicas, de chás medicinais ou de quaisquer produtos de Cannabis sob a forma de droga vegetal da planta, suas partes ou sementes, mesmo após processo de estabilização e secagem".
Diferentemente da cloroquina e da ivermectina no tratamento e prevenção da Covid-19, citadas pelo presidente e apoiadores, existem sim evidências científicas para o uso da maconha medicinal para algumas doenças.
Uma revisão de estudos feita pelas Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos em 2017 aponta que há evidências conclusivas de que a cânabis in natura e canabinoides reduzem sintomas em pacientes com dor crônica.
A mesma revisão aponta a efetividade de canabinoides para tratar sintomas de esclerose múltipla e náuseas e vômitos associados à quimioterapia. Também há estudos mostrando eficácia do canabidiol para alguns tipos de epilepsias graves.
Existe também um medicamento aprovado no Brasil para tratamento dos sintomas de esclerose múltipla, o Mevatyl, que contém tanto canabidiol quanto THC (tetrahidrocanabidiol, que causa "barato").