Construída no século XVIII, a charmosa Casa Cuiabana, de estilo colonial, que passou a ser chamada de Centro Cultural Casa Cuiabana, patrimônio histórico de Mato Grosso desde 1983, exibe-se em azul sobre taipa, adobe e pedra canga. Em seu quintal, um teatro de arena agracia o espaço, displicentemente, sem se importar com a movimentação da avenida.
Depois de um longo e escaldante verão, com Edu, retornei à Casa Cuiabana, badaladíssima pelos famosos saraus de Benedito Pinheiro de Campos, carinhosamente chamado de professor Ditinho, na “Exposição Literário-ambiental Encantatória 2 Brasil Brasileiro”, de Braz Dy Vinnuh. Lá, em móbiles, vi poemas a bailar em esculturas móveis, equilibradas e harmoniosas, suspensas no espaço por fios, que mudam de posição impelidas pelo vento que adentra a casa. Quem não viu, precisará esperar outra oportunidade, pois a instalação cenoplástica Encantatória passou pela Casa Cuiabana como uma aura, um princípio sutil e imaterial, mas que mexeu nos fenômenos vitais de quem se internou em sua poesia.
Conheci Braz em Vilhena, Rondônia, por conta de minhas vivências entre os Nambiquara, povo lá do Cerrado. Nos encontrávamos na Praça Ângelo Spadari, na Major Amarante, avenida mais movimentada da cidade. Chegava de bicicleta, com Theo na cadeirinha sustentada pelo guidom da bicicleta. Ali, conversávamos sobre os índios (para variar), a invejar seus modos de estar no mundo. Encantatória, que se faz em 50 textos, traz fragmentos de nossas conversas, agora amadurecidas com nossas idades, nossos cabelos brancos, nossas maneiras de sentir o mundo, a humanidade. Será um “amadurecimento do sentir”?
Braz, um operário das artes, materializou seu sentir em “Encantatória”, pois “não importa quantas dores de amores dissabores na vida tivemos que enfrentar para até aqui chegar […] ainda que lhe ignorem de modo sutil e ameno não se ‘desespere’, nem chore, espere que o tempo passe (e) do mesmo modo passa a dor que lhe incomode. Quando um bem quase se desbota bota-o na lata de tinta da cor lhe agrada […]”.