Desde o início de julho, mais de 350 ganeses passaram pela cidade. Aproveitando a Copa do Mundo, os estrangeiros entraram no país com vistos de turista, válidos por 90 dias, e decidiram ficar em busca de emprego e melhores condições de vida. Em Caxias, eles protocolam o pedido de refúgio, que garante a permanência legal no país até que a solicitação seja analisada pelo Comitê Nacional para Refugiados (Conare), vinculado ao Ministério da Justiça.De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, 1.132 ganeses dos 2.529 que vieram ao Brasil com visto de turista para a Copa permanecem no país. Até o momento, cerca de 180 pedidos de refúgio já foram protocolados pelos estrangeiros. Pelo menos 120 ganeses ainda estão alojados em um seminário de Caxias do Sul. Muitos pretendem ficar em busca de emprego nas indústrias e empresas da cidade.
Segundo as autoridades, promessas de trabalho, facilidades para conseguir o protocolo de refugiado e uma rede de assistência aos imigrantes são os principais atrativos de Caxias do Sul para os ganeses que desembarcam em busca de uma nova vida no Brasil, já que Gana vive uma crise econômica. A rapidez na emissão do protocolo de refúgio na cidade da Serra atrai imigrantes de vários estados do país, como Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais. Muitos chegam apenas para buscar o documento, sem interesse em permanecer na cidade. Entretanto, com o aumento da demanda registrada, a PF passou a limitar o atendimento de imigrantes a 20 pedidos por dia desde a sexta-feira (11).
A proprietária de uma agência de seleção de trabalhadores, Teresa Moraes, no entanto, prevê dificuldades para os ganeses. Segundo ela, o mercado de trabalho está complicado em Caxias. "Nesses últimos meses, o mercado deu uma retraída, especialmente durante a Copa. Os empresários estão parando um pouco de investir. O momento daqui para frente vai ser de recessão por questões econômicas e políticas", analisa.De acordo com Teresa, uma empresa de Gramado, também na serra gaúcha, solicitou recrutamento de 10 ganeses para vagas de produção e auxiliares de produção. A cidade de Erechim, na Região Norte, já havia colocado à disposição dos estrangeiros 40 vagas em um frigorífico de cortes suínos. Guaporé e Canela, na Serra, também ofereceram postos de trabalho, além de outras cidades.
A analista de recursos humanos diz que a maior dificuldade dos estrangeiros é a língua. Para os que não falam português, a maior oferta de empregos é para área de produção. Mesmo que tenham ensino de nível superior em Gana, os conhecimentos não são tão aproveitados no Brasil pela dificuldade de comunicação.Alguns são formados em marketing e vão concorrer a vaga de produção por causa da língua. Não tem como concorrer com alguém que tem graduação no Brasil, explica Teresa.
'Estrangeiros são mais empenhados'
Os empresários que contrataram senegaleses e haitianos há dois anos, quando a cidade começou a receber um contingente de cerca de 2 mil imigrantes desses países, avaliam o resultado como positivo. As empresas destacam a responsabilidade e a eficiência dos imigrantes e o fato de ocuparem vagas de trabalho que normalmente não são preenchidas pela população local.O Clube Recreio da Juventude, um dos mais tradicionais de Caxias do Sul, é um que emprega os imigrantes. Há dois anos, contratou 21 haitianos. Atualmente, oito estrangeiros trabalham no local. Três homens são auxiliares de manutenção, serviços gerais e jardinagem. As cinco mulheres haitianas cuidam da limpeza do clube.
Os haitianos chegaram de Manaus, no Amazonas, em busca de uma vida nova após o terremoto que devastou o país da América Central, em 2010. Eles tiveram aulas de português patrocinadas pelo clube.Os que não continuaram no clube foi porque não se adaptaram. Vieram em um período que era muito frio, inverno. A maioria voltou para Manaus, disse a gerente de recursos humanos, Mariana Zanotti.De acordo com Mariana, a mão de obra para vagas em áreas como construção civil, jardinagem e manutenção, onde boa parte dos imigrantes trabalha, não é facilmente encontrada em Caxias. "É uma mão de obra que está muito difícil de conseguir. Foi vantajoso. Questão de jardinagem e manutenção, é complicado", afirma.
O comprometimento dos imigrantes é um fator que motiva as empresas a contratá-los. Uma loja de design de móveis da cidade conta com 15 funcionários senegaleses e um haitiano. Os primeiros chegaram há 10 meses.Os estrangeiros são mais empenhados. Eles não faltam, não usam atestados, seguem todas as normas. Falta gente que quer trabalhar. Contratamos (brasileiros) e dois, três dias depois, eles saem. Os senegaleses são bem comprometidos, garante a gerente de recursos humanos Ana Paula de Zorzi.
Os estrangeiros trabalham como costureiros, marceneiros e pintores na loja. Aprenderam a língua aos poucos, o suficiente para conseguir se comunicar com os gestores da empresa. Mas Ana Paula salienta que, apesar de os imigrantes serem bem-vistos nas empresas, a chegada dos ganeses é preocupante:É muita gente competindo no mesmo mercado.
G1