A primeira prestação de contas, divulgada na semana passada no site do TSE, mostra que quatro empresas que já tiveram ou mantêm contratos com a Petrobras fizeram contribuições no primeiro mês de campanha. Nenhuma doou para as campanhas dos titulares da CPI mista da Petrobras que disputam cargos eletivos.
No fim de maio, foi revelada a existência de um acordo entre integrantes da base aliada e da oposição para blindar os fornecedores da Petrobras de serem alvo de quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico.
A suspeita é de que algumas empresas, incluindo as maiores empreiteiras do País, teriam abastecido ilegalmente um esquema de desvio de recursos da Petrobras montado pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef, presos pela operação da PF.
O acórdão da CPI mista foi materializado em 16 de julho, quando nenhuma delas teve seus sigilos quebrados em sessão de votação de requerimentos. O receio dos parlamentares era o de que, se as investigações da comissão contra as empresas fossem aprofundadas, elas se recusariam a se tornar doadoras de campanhas.
Segundo o levantamento no site do TSE, o maior contribuinte individual foi a OAS Construtora, com R$ 12,1 milhões. A investigação da PF identificou que a construtora fez pagamentos à MO Consultoria, empresa que teve seu sigilo quebrado pela CPI mista e que seria firma de fachada do doleiro Youssef.
Anotações
A UTC Engenharia, que deu R$ 10,1 milhões a campanhas, e a Engevix, R$ 50 mil, foram mencionadas no caso pois o nome delas aparece no caderno de Paulo Roberto Costa. A Toyo Setal Empreendimentos fez uma única doação, de R$ 2 milhões. Planilha apreendida na Lava Jato sugeriria que o ex-diretor da estatal negociou com a Toyo e outras empresas doações eleitorais.
Nenhum dos 20 titulares da CPI mista que vão concorrer a cargos eletivos recebeu doações das empresas citadas ou envolvidas na operação da PF. Tampouco há repasses de atuais e ex-fornecedores da estatal. Segundo o TSE, os 14 deputados e os 6 senadores membros da CPI e candidatos já receberam em contribuições cerca de R$ 2,2 milhões ao todo.
O levantamento feito a partir da base de dados do TSE analisou apenas as doações feitas diretamente às campanhas dos candidatos. Há empresas que deram contribuições a direções partidárias. É o caso da Andrade Gutierrez — também mencionada no caderno de Costa. Embora não tenha doado diretamente a comitês de candidatos, ela repassou R$ 9 milhões a direções partidárias.
Em nota, a assessoria de imprensa da Andrade Gutierrez informou que todas as suas doações de campanha são feitas de acordo com a legislação eleitoral do País e que a empresa não é investigada pela Operação Lava Jato. "Nossos critérios para as doações são baseados em representatividade política".
Questionada sobre as investigações da PF, a assessoria de comunicação da OAS disse apenas que "todas as doações eleitorais realizadas pela empresa são feitas nas formas previstas em lei".
A UTC informou, por meio da assessoria de imprensa, que não se pronunciará, e a Engevix afirmou que "todas as suas doações a partidos políticos são públicas e nos termos da legislação".
Na sexta-feira, a reportagem tentou contato com a Toyo Setal por telefone, mas ninguém atendeu.
A operação Lava Jato, deflagrada em março pela Polícia Federal, apura um esquema bilionário de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro paranaense Alberto Youssef. O esquema estaria envolvido com diversos tipos de crimes, como tráfico de drogas, sonegação de impostos, desvio de dinheiro público e corrupção de agentes político.
A PF ainda investiga o grau de envolvimento entre o doleiro e figuras como o deputado federal André Vargas (sem partido), que viajou em um jatinho de Youssef, e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa, que ganhou um carro de luxo do doleiro após ter se aposentado da estatal.
Estadão