No final de 2014, o empresário Alexandre Perroud, dono da Ultra420, resolveu modificar e profissionalizar a gestão da empresa. A principal mudança foi a contratação de profissionais mais experientes em cargos estratégicos da companhia.
Ainda que venda produtos para um público jovem, de 18 a 35 anos, Perroud investiu na contratação de dois funcionários mais experientes, de 44 e 58 anos.
"A empresa sempre foi de pessoas jovens e sentia falta de mesclar. Não quero fazer só uma empresa de jovens, mas mesclar com profissionais experientes para dar uma nova dinâmica. Idade não é empecilho. Vejo que os jovens vão para o mercado de trabalho sem experiência e com nível profissional baixo, enquanto os maduro são articulados e têm potencial de liderança", explica Perroud.
O empresário conta que a recepção pelos funcionários mais novos foi tranquila. "A princípio, os mais novos ficaram apreensivos porque eles brincam muito um com o outro e, de repente, viram uma pessoa que tem idade para ser pai deles ali no meio. Mas isso rapidamente deixou de existir porque todos têm espírito jovem."
Ele também deixou claro aos funcionários que a chegada de profissionais mais experientes não era uma ameaça. "Eles ficaram receosos com a mudança e a profissionalização da empresa. Mas foi apenas em cargos estratégicos."
Marco Antonio Cinquetti, de 58 anos, que assumiu como responsável pela distribuição de produtos da marca, conta que, no relacionamento com os novos colegas, a primeira coisa que fez foi abolir o "seu Marco". "Sempre trabalhei com a garotada. Trabalho é trabalho. O que importa é trabalhar em equipe para atingir metas e objetivos", afirma.
Já Alberto Yoshida, de 44 anos, foi contratado para assumir a área de logística da marca. "“Encarar este desafio está sendo uma experiência estimulante. É uma prova de que a vida pode sempre nos surpreender”, afirma.
"Ser contratado foi uma ótima surpresa"
Entre consultorias empresariais e a venda de imóveis de amigos, Cinquetti afirma que nunca deixou de procurar uma recolocação no mercado. No entanto, mesmo com a graduação em administração, a pós-graduação em marketing e passagens por grandes empresas e multinacionais, já estava acostumado a perder oportunidades por conta da idade.
"Eu sempre era chamado para entrevistas por causa do meu currículo, mas sentia o desconforto em relação a idade. No fim, sempre me dispensavam com uma desculpa qualquer", conta.
Além disso, o salário parecia ser um problema para as empresas. "A pessoa me via e já dizia que não podia pagar o meu salário. Eu perguntava: 'mas você ouviu minha proposta?'. O que vale são as oportunidades de plano de carreira", diz.
Por isso, Cinquentti não tinha muitas esperanças quando foi fazer a entrevista na Ultra 420. "Pensei que seria como as outras, que falariam a mesma coisa. Foi uma ótima surpresa ter sido contratado. Senti que a vida continua mesmo."
"Se há problemas entre mais jovens e mais velhos, não é pela idade"
Ernesto Haberkorn tem 71 anos, é diretor da TI Educacional, escola de cursos profissionalizantes na área de tecnologia, e fundador da empresa de tecnologia TOTVS. Com experiência na causa, o empresário garante: "a questão da idade precisa ser tratada com naturalidade".
"Hoje em dia, as pessoas têm uma longevidade muito maior que há anos atrás. Tenho 71 anos e nunca me senti melhor em termos físicos e intelectuais. Essa questão das empresas não aceitarem profissionais com mais idade é abominável", afirma.
Haberkorn garante que, na TI Educacional, os profissionais com mais de 50 anos não deixam em nada a desejar em relação aos mais jovens. "Hoje há profissionais mais velhos que dominam totalmente a tecnologia, uma habilidade que dizem ser inerente aos jovens. Eles também são dedicados e assertivos", explica.
Segundo o empresário, a área de recursos humanos da empresa não faz nenhuma restrição em relação a idade. "Profissionais mais velhos têm mais experiência e conhecimento e muitas chances de serem contratados. Mas precisam sempre se manter atualizados."
Fonte: iG