O Ibovespa engatou alta no período da tarde desta sexta-feira acompanhando o movimento de Nova York e sustentado principalmente por ações de commodities – tanto Petrobras quando Vale subiram cerca de 2% -, fazendo com que o índice conseguisse acumular uma valorização de 0,34% nesta semana marcada por grande volatilidade. Investidores, contudo ainda ponderam que o nível de incerteza envolvendo a guerra comercial permanece elevado.
A China anunciou que a partir do sábado a tarifa retaliatória contra os Estados Unidos será elevada de 84% para 125%, mas sinalizou que não vai mais igualar eventuais novas elevações de tarifas pelos EUA, com o argumento de que as importações americanas não são mais comercializáveis nos níveis atuais.
Tal sinalização fez com que o mercado ficasse um pouco menos receoso, na avaliação do head de Renda Variável da HCI Advisors, João Paulo Fonseca. “Então o movimento agora é do Ibovespa subindo junto com a Bolsa americana, além de sinalização do presidente Donald Trump de que continua aberto a uma negociação mais ampla com a China”, avalia.
A secretária de Comunicação da Casa Branca, Karoline Leavitt, confirmou que por ora as tarifas contra Pequim continuam em 145% e que as medidas econômicas ajudarão a pagar a dívida americana. Leavitt afirmou ainda que Trump continua aberto e otimista com relação ao acordo com a China, embora não tenha comentado se os EUA estão em contato ou não com o país asiático para realizar negociações.
Segundo o operador de renda variável da Manchester Investimentos, Henrique Lenzi, “foi um dia marcado por um certo arrefecimento da guerra comercial”, ponderando, contudo, que ainda pode ser cedo para cravar isto, considerando que pode ter muitos acontecimentos daqui para frente.
“Por mais que Trump não tenha voltado atrás em relação às taxações com a China, o reforço de que busca um acordo com a segunda maior economia do mundo traz um pouquinho mais de tranquilidade, então por isso vimos o petróleo voltando e fechando em alta”, acrescenta Lenzi. O petróleo WTI para maio subiu 2,38%, a US$ 61,50 o barril, e o Brent para junho avançou 2,26%, a US$ 64,76 o barril, dando força para Petrobras subir 1,99% (PN) e 1,98% (ON).
O minério de ferro subiu 0,71% em Dalian, na China, a US$ 96,79 e sustentou a alta de 1,67% de Vale ON. Grandes bancos avançaram entre Itaú PN (+0,51%) e Bradesco PN (+1,37%). Algumas ações cíclicas figuraram entre as maiores altas do Ibovespa, como Vamos (+12,73%, com recomendação de compra pelo Morgan Stanley), Azzas (+4,00%) e RDsaúde (+3,84%), na esteira do fechamento da curva de juros.
O Ibovespa fechou esta sexta-feira com alta de 1,05%, aos 127.682,40 pontos, e giro financeiro somou R$ 22,4 bilhões.
Dólar
Após trocas de sinal pela manhã, o dólar se firmou em queda ao longo da tarde com a melhora do apetite por divisas emergentes no exterior e encerrou a sessão desta sexta-feira, 11, na casa de R$ 5,87. Investidores continuam a abandonar a moeda americana e os Treasuries, diante da percepção de que a economia dos EUA será a grande prejudicada pela guerra comercial.
Dados fracos do sentimento ao consumidor americano, calculados pela Universidade de Michigan, e a deflação do índice ao produtor nos EUA em março levaram a uma ampliação da queda do dólar em relação a pares fortes. O índice DXY furou o piso de 100,000 pontos, com mínima aos 99,014 pontos pela manhã. De outro lado, as expectativas de inflação para 12 meses subiram para 6,7%, o maior nível desde 1981.
Investidores absorveram também o anúncio da China de elevação das tarifas de importação para produtos dos EUA de 84% para 125%, em resposta a imposição de taxa de 145% pelos americanos. O governo chinês afirmou que se trata do último aumento de tarifas e que não vai mais reagir a eventuais sobretaxas por parte dos EUA.
À tarde, a secretária de Comunicação da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que os EUA “receberam um soco” ao ser questionada sobre a retaliação chinesa. Segundo ela, Trump continua aberto e otimista com relação ao acordo com a China, embora não tenha comentado se os EUA estão em contato ou não com o país asiático para realizar negociações.
O real e seus pares latino-americanos, que apanharam nos últimos dias, nesta sexta conseguiram se recuperar da diminuição do estresse nos mercados globais ao longo da segunda etapa de negócios. A alta de mais de 2% dos preços do petróleo, que ainda recuam mais de dois dígitos no mês, ajudaram as moedas de exportadores de commodities.
Com máxima a R$ 5,9196 e mínima a R$ 5,8180, o dólar à vista terminou a sessão em queda de 0,47%, a R$ 5,8708. Apesar das oscilações aguda nos últimos dias, a divisa encerra a semana com ganhos de apenas 0,61% em relação ao real. Em abril, avança 2,90%. No ano, as perdas do dólar, que chegaram a superar 8%, agora estão em 5,01%.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que a sexta foi o dia de rescaldo após os estragos recentes, com o mercado tentando buscar uma acomodação, mesmo que temporária.
“Investidores se desfazem de moedas emergentes quando o risco aumenta. Quando as coisas se acalmam um pouco, voltam para aproveitar a rentabilidade mais alta”, afirma Galhardo. “Nos últimos dias, estrangeiros venderam bolsa e buscaram hedge em dólar. Hoje vemos uma melhora da bolsa”.
Dirigentes do Federal Reserve endossaram nesta sexta à leitura de que as medidas de Trump vão resultar em pressões inflacionárias e redução do crescimento, alertando que o manejo da política monetária se tornou mais difícil em tais circunstâncias. Ferramenta do CME Group mostra mais de 80% de chances de corte de juros pelo Fed em junho.
O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, destaca que tradicionalmente investidores buscam abrigo no dólar e nos Treasuries em movimentos de aversão ao risco. Mas o que se vê no momento é um movimento inverso, com as pessoas abandonando a moeda americana em favor de outras divisas fortes, em especial o euro e o iene.
“Parece um movimento de diversificação, com venda de dólar e Treasuries para compra de outras moedas. O mercado está sentindo que o grande prejudicado no fim das contas vão ser os Estados Unidos”, afirma Weigt. “Trump parece que está numa encruzilhada e não sabe como voltar atrás sem afetar sua imagem. Parece não ter mais como elevar tarifa. O mercado pode ter uma melhora, mais ainda com muita volatilidade ainda”.
Juros
Os juros fecharam em queda, estimulada pela melhora do apetite ao risco no exterior que também enfraqueceu o dólar e impulsionou as ações. A senha para a melhora do humor hoje veio do otimismo sinalizado pela Casa Branca em relação a um fechamento de acordo entre as partes. A curva perdeu inclinação, com as taxas longas cedendo mais do que as curtas, cuja maior resiliência esteve associada à leitura conjugada do IPCA de março com o IBC-Br de fevereiro.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 estava na mínima de 14,725%, de 14,783% ontem no ajuste, enquanto a do DI para janeiro de 2027 cedia de 14,50% para 14,31%. A taxa do DI para janeiro de 2029 caía a 14,22%, de 14,44% ontem no ajuste.
No acumulado da semana, as taxas registraram avanço, principalmente nos vértices longos, que melhor refletem o ambiente externo. Os últimos dias têm sido marcados por ofensivas e contraofensivas de EUA e China, mas hoje a indicação da secretaria de Comunicação da Casa Branca, de que Trump continua aberto e otimista com relação a um acordo, serviu de pretexto para uma correção, ainda que o órgão não tenha comentado se os EUA estão em contato ou não com o país asiático para realizar negociações. A sinalização acabou se sobrepondo à informação de que a China elevou a taxa às importações aos EUA a 125%.
Para o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, ao deixar a porta aberta para um futuro acordo, os EUA evitariam um acirramento da guerra tarifária, embora o ambiente ainda seja de muita volatilidade. “A esperança maior de os EUA e a China chegarem a um entendimento reduz um pouco a incerteza e ajuda a diminuir o prêmio na curva de juros. Os mais longos é que estão caindo mais, que é justamente onde está percepção de risco, pelo aumento do fluxo do investidor estrangeiro”, explicou.
A ponta curta, que oscila basicamente em função da política monetária nos próximos meses, cedeu de forma mais comedida. O IPCA de março, de 0,56%, desacelerou ante fevereiro (1,31%), mas superou a mediana das estimativas (0,54%), e ainda gerou leitura negativa dos preços de abertura. “Os dados qualitativos continuam piorando mês após mês. Assim fica difícil esperar algum ‘refresco’ na política monetária do BC, mesmo com as confusões externas”, afirma Luiz Otávio de Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners.
O IBC-Br acima do esperado também não ajudou, com alta de 0,40% em fevereiro, na margem, pouco acima do consenso de 0,30%. Após a divulgação do dado, pesquisa relâmpago produzida pelo Projeções Broadcast apontou que a mediana das estimativas para o PIB do primeiro trimestre subiu de 1,1% para 1,2%.