Cidades

Em meio às dificuldades, o sonho de ser policial permanece

Foto: Ahmad Jarrah/ CMT 

“A vida do policial é bastante arriscada, não tem dia não tem hora nem noite nem madrugada”.  O trecho da música “A vida de um policial” da antiga dupla Tião Carreiro e Pardinho exemplifica uma parte da profissão de risco, ainda presente nos sonhos de muitas crianças em nosso País.

Uma realidade difícil. Todos os dias homens e mulheres saem de seus lares para proteger outras famílias. Diferente dos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde o número de habitantes mortos em confrontos é maior que o de policiais. Em Mato Grosso o registro é ao contrário.

Cerca de 18 policias militares e civis foram mortos em confrontos no ano de 2014, segundo a  Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). Quase o dobro das mortes de supostos marginais em confronto, que somou o total de oito – 0,25 mortes a cada 100 mil habitantes.

Em meio a tantas notícias de policiais mortos dentro e fora do trabalho, em 2015 alguns casos chamaram a atenção da população. Um deles é o do tenente-coronel da Polícia Militar, Helton Vagner Martins, 39, assassinado em agosto deste ano com quatro tiros durante uma tentativa de assalto em sua residência, no município de Sinop, localizado a 503 quilômetros de Cuiabá.

Também neste ano o sargento da Polícia Militar, Reinaldo Rodrigues de Souza, 44, foi assassinado a tiros no mês de setembro, após uma briga durante uma festa popular na cidade de  Juscimeira, localizada a 164 quilômetros de Cuiabá.

Outra fatalidade foi o caso do ex-policial militar, Augostinho Nunes Silva, 56, assassinado no começo do mês de novembro, baleado com quatro tiros, em frente à sua casa em Cuiabá.  Um suposto acerto de contas do grupo de extermínio conhecido como “A Liga da Justiça”. Não se conhece as motivações.

Esses são apenas alguns exemplos de uma situação que acontece com frequência assustadora, porém, ainda sabendo dos riscos que correm todos os dias, os policias que cederam entrevista ao Circuito Mato Grosso disseram que escolheram a profissão acreditando em um sonho, mesmo sabendo que na vida real nem sempre o bem vence o mal, como nos contos de fadas.

A tenente da cavalaria da Policia Militar, aqui de Mato Gross, Janaina da Fonseca Barreto Fernandes, 29, ingressou na polícia há cinco anos, mas está na carreira militar desde os seus 18 anos. Natural de Minas Gerais, a tenente foi, durante seis anos, sargento da Aeronáutica, contudo o sonho de ajudar e manter o contato com a sociedade falou mais alto, segundo ela.

“Eu trabalhava na parte administrativa e a expectativa era mudar o foco da profissão, hoje eu posso dizer que sou grata pela profissão que eu tenho, pois agora eu posso ajudar ainda mais a sociedade”, pontua, explicando que anteriormente seu trabalho, apesar de ser militar, era  apenas administrativo.

Questionada sobre o fato de ser uma mulher no comando, em meio a uma profissão taxada como masculina, a tenente fala: “Hoje passamos pela dificuldade que, além de ser mulher, temos que provar que somos equiparadas aos homens tanto intelectualmente, quanto fisicamente. Leon bet Portugal E como a tropa é composta em número maior por homens, ainda sofremos uma dificuldade de comandar e conversar, mas vejo que o número de mulheres tem crescido na corporação”.

A militar elogia a sua tropa e a união que existe entre os colegas de profissão: “Há muita camaradagem entre os membros da cavalaria e essa amizade que se cria entre o ser humano e o animal, que te deixa mais contente. O cavalo é a razão do regimento, nós os vemos como nossos primeiros amigos, nós criamos uma relação de respeito entre o cavalo e o ser humano, criando uma sintonia uníssona”.

A tenente finaliza falando sobre suas convicções: “Acho que às vezes nós viramos heróis para a sociedade e para a família. A polícia deve fazer um papel além da preservação da ordem pública, ela tem que se aproximar da comunidade passando orientações. Os contras são a falta de efetivo. Passamos por uma fase em que há muitos policias migrando para outros concursos, isso ocasiona uma carga horária maior para os que estão aqui”.

O major Gilcimar Mendes Corrêa, 40, está há 17 anos na Polícia Militar, e contou ao Circuito Mato Grosso um pouco do dia a dia do policial que vive nas ruas e o que se vê dentro de seus núcleos familiares, já que eles estão em constantes situações de risco. “O que não é problema de polícia? Não existe isso, todos os fatos são problemas da polícia”, diz.

“Nós temos policiais que trabalham a pé, de bicicleta, motocicleta, viatura, cavalaria e na Rotam. São diferentes modalidades de policiamento fazendo com que mudem também as especificações de horas trabalhadas. As nossas viaturas não param, elas transitam 24 horas, uma guarnição sai e outra entra na ronda. Temos oito policias por viatura para respeitar esse ciclo, dando o mínimo de descanso previsto por lei”, conta o major.

De acordo com o militar, hoje o Estado está tentando recuperar o efetivo. Segundo ele, existem menos policiais agora do que em 2007, mas o processo de qualificação é diferente por causa de sua complexidade, demorando em torno de um ano para os novos concursados aprovados assumirem os cargos.

Indagado sobre como é o seu relacionamento familiar, ele responde: “A nossa principal família é a que utiliza uniforme, porque é na base (posto policial) que passamos o maior tempo do nosso dia e de forma intensa. O horário que eu deveria estar com a família eu estou aqui, mas fui eu que escolhi essa condição”, explica.

“Eu fui criado com o modelo do homem trabalhando fora e a mulher em casa com os filhos, mas esse sistema hoje mudou, o casal trabalha em tempo integral. E, sendo policial, quando fazemos plantão ficamos fora do seio familiar durante o período diurno e noturno. Desse modo nossos filhos acabam criados em instituições. Além de mim, minha esposa trabalha na policia federal, então a minha filha, de sete anos, entra na escola no período da manhã e passa o dia inteiro lá. Só convivemos com ela no período noturno e nos finais de semana e é necessário saber lidar com o fato de que você sai de casa e seu filho está dormindo e chega e ele já está na cama”, explana o policial.

Os jovens costumam entrar na profissão entre 18 e 20 anos, e trabalham, durante quase toda a carreira, nas ruas. Para muitos esse ciclo é desgastante. “Às vezes o cidadão não consegue imaginar que ali dentro daquele uniforme também existe um cidadão com medos, fraquezas, estresse. Mas como policial aprendemos a gerenciar conflitos, então temos que administrar e resolver eles não somente nas ruas, mas em casa também, para não sairmos do convívio social e vivermos só a segurança pública”, finaliza major. 

Confira detalhes da reportagem no jornal Circuito Mato Grosso

 

Noelisa Andreola

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