Há exatamente dois anos depois da morte do líder venezuelano Hugo Chávez, o país passa por uma severa crise econômica e política, deflagrada após uma série de problemas estruturais e intensificada devido à ausência do ex-presidente, de acordo com especialistas consultados pela Ansa.
O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) e autor de dois livros sobre a Venezuela, Gilberto Maringoni, explicou que a crise na Venezula é "mais do que uma crise de governo". "É um crise econômica estrutural. Não depende de governo algum, não depende de governante".
Porém, a falta de carisma e liderança do atual presidente, Nicolás Maduro, pode ter ajudado a acentuar a crise e levar parte dos opositores às ruas. De acordo com Maringoni, a popularidade de Chávez funcionava como um amortecedor de tensões.
"Maduro é infinitamente mais fraco que Chávez dentro do governo e diante da população. Nesse momento, faz falta a figura de Chávez", afirmou.
Já o especialista Pedro Barros, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e titular da missão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na Venezuela entre 2010 e 2014, ressaltou, porém, que as dificuldades de Caracas vão além da ausência de Chávez.
"A Venezuela é um país dependente de um produto único de exportação, o petróleo, e houve queda dos preços em aproximadamente 50% nos últimos seis meses", comentou.
"Em 2012 e 2013, os gastos públicos aumentaram bastante. A inflação é crescente e o problema é garantir que as conquistas sociais não se percam em um momento de mais instabilidade econômica", apontou.
Para o economista venezuelano Pedro Palma, ex-presidente de Academia Nacional de Ciências Econômicas, "já havia uma situação [de crise] se armando antes de 2012, mas em 2015 chegou a níveis críticos".
"Entramos em 2015 em uma situação realmente dramática, mais do que nunca, com enormes desequilíbrios e uma inflação que deve superar 100%. E o governo segue sem tomar as medidas para afrontar os graves problemas", criticou. Ainda segundo ele, existe uma situação de conflito social crescente, pois a população está farta. "Há um desabastecimento massivo, não se produz nada, não se pode importar pela falta de dólares".
Diante disso, o especialista não descarta a possibilidade de um golpe de Estado. "Aqui pode acontecer qualquer coisa. A situação é extremamente grave e isso não pode continuar indefinidamente, não pode continuar piorando diariamente. O ambiente está muito carregado e a situação está realmente perigosa", concluiu.
Nas semanas que antecederam ao aniversário de morte de Chávez, o atual governo denunciou uma série de conspirações e até uma tentativa de golpe de Estado por parte da oposição.
Em fevereiro, o prefeito da Caracas, o opositor Antonio Ledezma, foi preso em seu escritório por agentes do Serviço Bolivariano de Informação (Sebin), considerado o serviço secreto da Venezuela. Acusado de crimes contra o país, Ledezma é um dos homens mais próximos a Leopoldo Lopez, preso há um ano por incitar protestos contra o governo.
Chávez faleceu em 5 de março de 2013, em decorrência de um câncer reincidente na região pélvica. Ele tinha 58 anos.
Fonte: iG