Cidades

Em depoimento, pai de Bernardo diz que mãe de garoto se suicidou

Leandro Boldrini (à direita, de camiseta branca e colete) chega ao prédio (Foto: Jonas Santos/RBS TV)

Trechos do depoimento prestado por Leandro Boldrini à polícia no inquérito reaberto para apurar a morte de Odilaine Uglione, obtidos com exclusividade pelo RBS TV, relatam nas palavras do médico os momentos que antecederam a morte da mãe do menino Bernardo. Ele participa, nesta quarta-feira (16) da reconstituição realizada na cidade de Três Passos, no Noroeste do rio Grande do Sul.

O depoimento servirá de base para a reconstituição que tem o objetivo de averiguar se os fatos no dia da morte de Odilaine se desenrolaram conforme relataram as testemunhas e personagens do caso à polícia.

Ele chegou por volta das 13h30 em uma viatura da Susepe, acompanhado de um forte esquema de segurança, principalmente na área onde se aglomeram curiosos e a imprensa. Cerca de 25 policiais militares acompanham a reconstituição.

O processo faz parte da nova investigação que iniciou em maio deste ano. A pedido da família de Odilaine, a Justiça determinou a abertura do caso para apurar se a morte dela, em 2010, foi mesmo suicídio, versão concluída pela polícia e contestada pela família. O advogado da família de Odilaine, Marlon Taborda, disse "me parece que esse depoimento foi muito bem treinado".


 
Nesta parte do depoimento, Boldrini relata o momento do tiro (Foto: Jonas Campos/RBS TV)

O depoimento
De acordo com o depoimento prestado à polícia na cidade de Charqueadas, no dia 11 de novembro, Leandro Boldrini relatou que no dia 10 de fevereiro de 2010 – data da morte de Odilaine – entrou no consultório passando pelos pacientes que já o aguardavam e foi direto para a sala de atendimento privado, onde encontrou Odilaine sentada em uma cadeira colocada debaixo ar-condicionado.

Ele disse que perguntou porquê ela tinha sentado mais afastada e os dois começaram a conversar sobre amenidades em um tom normal. Em determinado momento, ela teria puxado uma arma de dentro da bolsa que estava em seu colo.
 
“Odilaine levantou da cadeira, de forma rápida e inesperada, e puxou uma arma, apontando para o interrogado, dizendo: 'então é assim, então vai ser isso….’”, diz trecho do depoimento.

Boldrini disse que percebeu que estava na linha de tiro e que saiu correndo do consultório. No entanto, pouco antes de sair da sala, disse que ouviu um disparo, sem ver o que tinha acontecido com Odilaine, porque estava olhando para a fechadura.

Ele afirmou ainda que viu Odilaine fazer movimento circular com a arma em punho em sua direção, mas que não viu se o disparo foi feito em sua direção ou se ela seguiria atrás dele.

“Saiu correndo pela sala de espera, indo em direção à secretária, dizendo para ela pedir resgate, socorro, não lembrando exatamente o que disse”, consta no documento. No corredor, ele afirma que tentou quebrar o alarme de incêndio, descendo em seguida ao andar térreo, onde correu até uma farmácia, onde parou por poucos segundos.

Em seguida, ele disse que caminhou até o consultório médico de um amigo, identificado como Dr. Celestino, relatando que tinham tentado matá-lo. O colega o levou para sua casa, onde foi chamado um advogado e os três seguiram para a delegacia, onde souberam da morte de Odilaine.

Ao ouvir a notícia, ele disse que ficou chocado “e pensou que só ela mesma é que poderia ter  um tiro fatal, constatando ter se suicidado”. Ele afirmou que até hoje não sabe se ela foi ao consultório para matá-lo ou para suicidar-se na sua presença.

Boldrini afirmou no depoimento que só ficou sabendo da carta de suicídio por meio da polícia, e que ao indagar sobre o que tinha sido escrito, ouviu que se tratavam de “amenidades, carta de despedida, de suicida”.

Boldrini, o advogado e o médico voltaram ao consultório acompanhados da polícia, e relatou  o que tinha acontecido. Ele disse que no carro de Odilaine foi encontrado o coldre de uma arma, em cima do banco do passageiro, e que disse para os peritos do Instituto Geral de Perícias, que poderiam periciar seu carro e sua casa em busca de vestígios de alguma arma. Ele contou ainda que não soube de onde teria surgido a arma utilizada pela ex-mulher.

No entanto, ele disse acreditar que o IGP não realizou perícias em seu carro, nem em sua casa. Na noite da morte da ex-mulher, Boldrini disse que dormiu na casa do amigo médico, e que Bernardo, que ele tinha visto pela última vez por volta do meio dia, tinha sido buscado na escola pela mãe de um colega, e que era comum ele dormir na casa daquele amigo.

Também participam da  reconstituição da morte de Odilaine Uglione, mãe do menino Bernardo Boldrini,  a secretária de Leandro Boldrini na época, Andressa Wagner, além de mais outra testemunha.

No primeiro dia de reconstituição (terça-feira (15), a recomposição durou cerca de três horas. A primeira etapa foi realizada no consultório de Boldrini, onde Odilaine foi encontrada morta. O local fica no Centro Clínico São Matheus. Cinco testemunhas, todas pacientes que estavam no consultório, relataram os fatos.

Elas foram ouvidas pela polícia e pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) e depois reproduziram a versão apresentada no depoimento. Em um dos momentos, os peritos e testemunhas vieram até a calçada em frente ao prédio para mostrar por onde Boldrini teria saído logo após o tiro.

Tudo foi gravado e fotografado pelos peritos. Um forte esquema de segurança foi montado, as ruas próximas foram interditadas e o prédio foi isolado para o andamento do trabalho. Na frente do edifício, faixas e cartazes com fotos de Odilaine e do filho Bernardo foram colocadas pela comunidade, pedindo justiça.

Após a realização dos trabalhos, o delegado responsável pelo caso, Marcelo Lech, afirmou que pediu a prorrogação do prazo para a conclusão do inquérito, que deverá ficar para 2016. "Neste ano, é certo que não dá [para concluir a investigação], porque ainda temos testemunhas para serem ouvidas e mais diligências", afirmou o delegado.

A mãe de Bernardo teria se suicidado dentro do consultório com um tiro, segundo a investigação inicial do caso, em 2010. Mas a versão é contestada pela família da mulher e o inquérito foi reaberto em maio deste ano. Ao todo, 50 testemunhas já foram ouvidas. Novas perícias na arma do crime e na carta supostamente deixada pela mãe de Bernardo foram solicitadas e o corpo dela foi exumado.

Corpo foi exumado em agosto de 2015
O corpo de Odilaine Uglione foi exumado na manhã de 11 de dezembro em Santa Maria. Em maio, a Justiça determinou, a pedido da família de Odilaine, a reabertura da investigação sobre a morte dela. Desde a morte de Bernardo, em abril do ano passado, a família de Odilaine tenta provar que ela também foi morta por Leandro Boldrini.

O pai do Bernardo está preso pelo assassinato do menino. Também são acusados a madrasta do garoto, Graciele Ugulini, e os irmãos Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz. Eles respondem por homicídio qualificado e ocultação de cadáver, entre outros crimes.

Relembre o caso
– O corpo de Bernardo foi encontrado pela polícia no dia 14 de abril de 2014, enterrado em um matagal de Frederico Westphalen, a cerca de 80 km de Três Passos, onde a família residia. Ele estava desaparecido desde o dia 4 de abril.

– Bernardo Boldrini foi visto vivo pela última vez no dia 4 de abril de 2014 por um policial rodoviário. No início da tarde, Graciele foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. A mulher trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.

– Um vídeo divulgado em maio do ano passado mostra os últimos momentos de Bernardo. Ele aparece deixando a caminhonete da madrasta, Graciele Ugulini, e saindo com ela e com a assistente social Edelvânia Wirganovicz. Horas depois, as duas retornam sem Bernardo para o mesmo local.

– Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e, depois, teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo. A denúncia do Ministério Público apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita. A defesa do pai nega.

– Em vídeo divulgado pela defesa de Edelvânia, ela muda sua versão sobre o crime. Nas imagens, ela aparece ao lado do advogado e diz que a criança morreu por causa do excesso de medicamentos dados pela madrasta. Na época em que ocorreram as prisões, Edelvânia havia dito à polícia que a morte se deu por uma injeção letal e que, em seguida, ela e a amiga Graciele jogaram soda cáustica sobre o corpo. A mulher ainda diz que o irmão, Evandro, é inocente.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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