Há pouco mais de uma semana, no Rio de Janeiro, bandidos das favelas queimaram 35 ônibus, vários carros e um trem. O motivo foi a morte, pela polícia, de um líder miliciano da cúpula do crime. Como queima de carros virou rotina naquela cidade, dissipada a fumaça e feitos os discursos protocolares, tudo voltou ao normal. Ou seja, as forças policiais continuam proibidas de subir os morros.
Um dia depois, aqui em Cuiabá, por volta das 19 horas, ouvimos, vindos de diversos pontos da cidade, o barulho de fogos de artifício e na ocasião não atinamos com o motivo. Só no dia seguinte, lendo os jornais, ficamos sabendo que era uma homenagem a um líder dos bandidos que havia morrido naquele dia.
Esse atrevimento e desrespeito com a lei nem sempre foi um costume. Houve um tempo em que os fora-da-lei tinham medo da polícia e a farda desestimulava o enfrentamento e os fazia fugir quando abordados em atitudes suspeitas.
Mas, há mais ou menos 40 anos começou um movimento para defender os direitos dos criminosos, alegando que eles são vítimas da sociedade e como tal deveriam ser tratados.
Garantindo que o crime é uma consequência direta da pobreza e da falta de educação, os seguidores dessa ideologia pregavam a não punição dos marginais e sim investimentos em sua recuperação, oferecendo-lhes oportunidades e empregos e acolhimento.
Com tamanha consideração com o crime, os bandidos ganharam força e passaram a impor suas regras, entre elas, no caso do Rio de Janeiro, a proibição da polícia de subir os morros para prender bandidos. Hoje para entrar nos becos e nas favelas é necessária uma operação de guerra com tanques e viaturas blindadas.
O pior é que rapidamente essa insensatez vai sendo normalizada e cada vez mais os policiais são desincentivados de prender marginais por várias razões, entre elas o favorecimento da lei aos transgressores libertados no dia seguinte à prisão, voltando a conviver com os agentes que os prenderam.
Outro motivo é que muitos operadores do direito e Ongs sociais estão muito mais propensos a buscar alguma pequena irregularidade em qualquer prisão para culpar o policial do que enquadrar o bandido no que resta de rigor na legislação penal.
O favorecimento ao crime é tanto que os soldados hesitam em usar a arma que carregam, porque sabem que defensores dos direitos humanos farão o impossível para punir o policial se houver morte ou ferimento do marginal.
Minha conclusão é que polícia precisa ser valorizada e a sociedade deve saber que quem trabalha com tamanha proximidade do perigo necessita ser legalmente protegido quando algum imprevisto ocorrer.
Nesses 40 anos de luta para melhorar a vida dos criminosos não tem como negar o sucesso dos ingênuos protetores dos criminosos. Se visitarmos as favelas e bairros periféricos, veremos bandidos jovens ostentando tornozeleiras eletrônicas como troféus valiosos. Também orgulhosamente se dizem faccionados. Isto equivale a um título de nobreza no mundo da delinquência. Pertencer a alguma das facções que foram gestadas nos presídios desperta admiração e conquista respeito nas comunidades dominadas pelo crime. Lá o bandido é herói e o policial inimigo.
Renato de Paiva Pereira