Em Cuiabá, porém, a discussão sobre a água de cada dia começou duas semanas antes, com a greve de servidores da Companhia de Saneamento da Capital (Sanecap) e com os problemas técnicos na Estação de Tratamento de Água do Tijucal (ETA), que deixaram sem abastecimento mais de 70 bairros da capital ou mais da metade da população cuiabana.
De um lado, os servidores reclamam da proposta da Prefeitura de Cuiabá, que previa um Plano de Demissão Voluntária (PDV) e atribuem a falta d’água a peças defeituosas na ETA Tijucal. Por outro, a Prefeitura responsabiliza os grevistas.
Depois de mais de uma semana de negociações e da determinação do Tribunal Regional do Trabalho de que 40% dos servidores da Sanecap retornassem às atividades, Prefeitura e sindicato entraram em acordo. Mas a situação ainda não está normalizada em todos os bairros.
Uso racional
O fato veio ao encontro de discussões sobre o uso racional da água. Uma das soluções pode estar na proposta do Projeto Implantação do Centro de Referência de Reuso de Água (CRRA), localizado no bairro CPA III, no complexo da Lagoa Encantada.
O projeto, patrocinado pelo programa Petrobras Ambiental, já contou com a participação de mais de 15 mil pessoas e implantou o sistema de reuso de água em 10 casas. De acordo com a coordenadora do centro, Karin E. Rees de Azevedo, a meta é chegar a 40 casas até o final do próximo ano.
No mesmo dia em que se discutem questões relacionadas à água, será inaugurado o Laboratório do Projeto. “Hoje, as análises e experimentações dependiam do laboratório da Universidade Federal de Mato Grosso, agora podemos agilizar os resultados”, afirmou Karin.
Flagrante de desperdício
No Bairro Despraiado, além da falta de abastecimento que dura mais de 15 dias, na Rua Afonso Pena, linha principal do transporte coletivo, tem um cano da rede estourado desperdiçando água há mais de ano. E o poder público está longe de poder afirmar que desconhece o caso, já que a reportagem do Circuito MT esteve no local e flagrou a placa da Prefeitura Municipal de Cuiabá indicando que estão sendo feitos reparos no asfalto (tapamento de buracos), mas no cano estourado não se mexe.
Em relação à concessão da Sanecap, o que as entidades e movimentos sociais criticam é que, durante anos, a Prefeitura “intencionalmente” permitiu a precarização do abastecimento municipal de água, a fim forçar que a medida fosse tomada, alegando que o poder público não dispõe de recursos para as reformas necessárias. Para essas entidades, delegar uma função pública para uma empresa particular foi um plano tramado em longo prazo e executado às custas e à revelia da própria população.
O que fazer para evitar a escassez
ONU – Um estudo elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), mostra que, em uma projeção da demanda pelos suprimentos de água no mundo, são necessárias mudanças estruturais e culturais para evitar a escassez. Os dados da pesquisa podem ser encontrados na íntegra na 4ª edição do Relatório de Desenvolvimento Mundial da Água, com o nome Gerenciando a Água sob Incerteza e Risco. O lançamento ocorreu durante o 6º Fórum Mundial da Água, em Marselha, na França, no dia 12 de março deste ano.
Ficou constatado um aumento na demanda por água para irrigação de cultivos de alimentos, para produção de energia elétrica e para fins sanitários. As mudanças climáticas têm reduzido as alterações nos padrões de chuvas, provocando secas mais prolongadas e o derretimento de geleiras.
Embora cerca de 60% da população mundial viva na Ásia, o continente conta com apenas um terço da água potável do Planeta. Segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA), o Brasil produz aproximadamente 12% da água doce superficial, para consumo humano.
No relatório, são descritas as principais mudanças, incertezas e ameaças que ocorrem no mundo e suas ligações com os recursos hídricos. A publicação também indica as tendências relacionadas ao abastecimento de água, ao uso, à gestão e aos financiamentos.
De acordo com Programa Mundial para o Desenvolvimento da Água, vinculado às Nações Unidas, o objetivo do estudo é buscar alternativas para que todos se envolvam na busca pela melhoria da qualidade e aceitação das decisões sobre o tema.
Andhressa Sawaris Barboza – Da Redação
Fotos: Mary Juruna