A pedido do cineasta, o artigo foi publicado no mesmo "New York Times" que deu, no sábado passado, voz à Dylan Farrow, hoje com 28 anos. A jovem alega ter sido abusada sexualmente pelo diretor de "Blue Jasmine" quando tinha 7 anos. A denúncia aconteceu em meio ao processo de separação de Mia e Allen, que casou-se com outra filha adotiva da atriz, Soon-Yi Previn.
"Eu não molestei Dylan. Eu a amava e espero que um dia ela entenda como foi impedida de ter um pai amoroso e explorada por uma mãe mais interessada em sua própria raiva purulenta do que no bem-estar de sua filha", disse Allen em um trecho do texto, em que diz que Mia Farrow levou os filhos a acreditarem que ele havia abusado sexualmente de Dylan.
O cineasta respondeu também aos muitos textos com as mais diversas opiniões sobre o caso. Muitos alegam que acreditar na versão do diretor em detrimento dos relatos de Dylan seria uma forma de desencorajar vítimas de abuso a expôr as agressões. "Ninguém quer desencorajar as vítimas de abuso a falar, mas é preciso ter em mente que às vezes há pessoas que são falsamente acusadas e que isso também é uma coisa terrivelmente destrutiva".
Para Allen, Dylan foi influenciada por sua mãe, ferida pela separação de Woody e a traição com Soon-Yi, filha que a atriz adotou com o músico André Previn, seu ex-marido. "Dylan escreveu mesmo a carta ou foi, no mínimo, guiada por sua mãe? Será que a carta realmente beneficia Dylan ou simplesmente avança com a agenda de vingança de sua mãe? Isso é para me machucar. Até mesmo a tentativa idiota de me causar danos profissionais ao envolver estrelas de cinema cheira muito mais a Mia do que a Dylan".
O diretor, que sempre se disse claustrofóbico, cita a fobia ao falar sobre o local onde os abusos teriam acontecido: o sótão da casa de campo de Mia Farrow, em Connecticut. "Mia escolheu o sótão de sua casa de campo, um lugar que ela deveria ter percebido que eu jamais iria porque é um lugar fechado, minúsculo e apertado, onde dificilmente alguém consegue ficar em pé, e eu sou um grande claustrofóbico. Uma ou duas vezes que ela me pediu para ir lá procurar alguma coisa eu o fiz, mas tive que sair rapidamente. Sem dúvida, a ideia do sótão veio da canção de Dory Previn, "With my daddy in the attic" ("Com meu pai no sótão"). É do mesmo disco da música que Dory compôs sobre Mia ter traído sua amizade de forma insidiosa ao roubar seu marido, André, "Beware of young girls".
As acusações de abuso sexual contra o diretor vieram à tona em 1992, e Allen foi inocentado do caso um ano depois por falta de provas. O episódio voltou aos holofotes após Woody Allen receber um prêmio pelo conjunto de sua obra durante a cerimônia do Globo de Ouro, no último dia 12 de janeiro.
Na ocasião, Ronan Farrow, filho biológico de Allen, fez um comentário ácido via Twitter: "Perdi a homenagem a Woody Allen. Eles colocaram a parte em que uma mulher confirmou publicamente que ele a molestou aos 7 anos antes ou depois de 'Annie Hall'?", escreveu o jovem de 26 anos.
O caso ganhou repercussão maior quando a carta de Dylan foi publicada no "New York Times". Além de relatar com mais detalhes os supostos abusos, ela cobrou um posicionamento de atores que trabalharam com o diretor em "Blue Jasmine", como Alec Baldwin e Cate Blanchett, que disputa o Oscar de melhor atriz pelo filme.
O último longa de Allen concorre, ainda, a estatuetas nas categorias de melhor roteiro original e melhor atriz coadjuvante, pela atuação de Sally Hawkings. A cerimônia de premiação acontecerá no dia 2 de março e, até lá, resta imaginar se a popularidade do diretor será afetada por seu envolvimento nas polêmicas recentes.
Também em março, o musical "Tiros na Broadway", com roteiro adaptado pelo cineasta, estreia em Nova York. Este será outro teste para a longa carreira de Allen.
OGlobo