Foto: Ahmad Jarrah/ CMT
A maternidade e a paternidade, para muitos, acontece naturalmente. Entretanto, para 278 mil casais no Brasil o sonho de ser pai e mãe é distante, pois por alguma razão são diagnosticados como inférteis. A Organização Mundial de Saúde (OMS), estima que entre 8% e 15% dos casais têm algum problema com a fertilidade. Por isso, muitos casais recorrem a tratamentos para fertilização.
Após 10 anos de casados, a advogada Michele Rangel e o servidor público José Rangel, decidiram aumentar a família. Depois de tentarem por métodos naturais, e não obterem sucesso, o casal decidiu procurar ajuda profissional. “Entre as investigações, primeiro no meu marido e depois em mim, descobri que tinha endometriose. Nunca tive nenhum sintoma da doença. Tive que fazer um tratamento de seis meses e, depois do tratamento, continuei tentando”, conta a advogada.
É considerado um casal estéreo ou infértil, o casal heterossexual que em idade fértil (casais com mulheres até 35 anos) já tenha tentado por um ano e não obtido sucesso. Michelle estava próxima dos 35 anos e correndo contra o tempo. O primeiro procedimento ao qual Michelle se submeteu foi o “Coito Programado”, quando a mulher toma um medicamento para estimular a ovulação e tem a relação sexual com data e hora programadas.
“Não consegui. O segundo tratamento foi a inseminação para a qual o homem colhe o esperma. Os melhores espermas são injetados na paciente. Só que o do meu marido sempre foi nível A e B. Nesse processo eu cheguei a engravidar, de gêmeos. Os embriões pararam na trompa e no procedimento eu perdi uma trompa.”
Com apenas uma trompa, e as esperanças diminuídas, Michele procurou outro médico que indicou ao casal a fertilização in vitro, o procedimento é conhecido também por “bebê de proveta”. “Tomei o grau máximo de injeção para ovular, e só produzia dois ou três óvulos. Geralmente as mulheres fabricam até oito óvulos. Trabalhamos com o que tínhamos. Os óvulos foram retirados, fecundados e após dois ou três dias, após a maturação, os óvulos não foram para frente. Morreram. Decidimos fazer novamente, e aconteceu a mesma coisa”, conta emocionada.
Cada fertilização in vitro custou ao casal cerca de R$ 50mil. “Eu fiz os procedimentos com muito sacrifício. Fiz até empréstimos. Além da perda financeira, tinha a decepção de não ter dado certo. Se no final das contas eu conseguisse engravidar, eu não me importaria com toda a dívida que ficou”, relata Michelle.
De acordo com especialista em Reprodução Humana, Georges Kabouk, para que o casal tenha uma maior chance de sucesso em suas tentativas é necessário que a mulher tenha menos de 35 anos. “Mulheres de até 34 anos têm até 60% de chance de engravidar, quando a mulher chega aos 35 anos as chances caem drasticamente. As mulheres que estão com 35 anos e pretendem engravidar devem procurar um especialista para congelar os óvulos ou iniciarem o tratamento”.
Após as várias tentativas frustradas, o casal – para realizar o sonho de serem pais – decidiu adotar uma criança, ainda bebê. Hoje o filho de Michele tem cinco anos e ela se diz realizada. “É como se eu tivesse dado a luz a ele. Digo a ele, você é meu filho de coração. Ele é nossa vida”, conta.
O médico especialista ressalta que os motivos para que o casal seja estéreo são muitos. No caso dos homens, pode ser por insuficiência testicular, varicocele e obstrução nos canais que transportam o espermatozoide. Nas mulheres podem ser por problemas na ovulação, endometriose e obstrução tubária. Entretanto, a maior causa de infertilidade não tem diagnóstico.
“Há vários casais que vêm ao consultório, e nas investigações não constatamos nenhuma irregularidade. É o que chamamos de infertilidade sem causa aparente, que são a maioria dos casos, e mesmo sem algo pontual, é indicado o tratamento”, explica o médico.
Os procedimentos para tratamento da infertilidade não são disponibilizados pelo SUS e nem têm cobertura por planos de saúde. Apenas algumas universidades no Brasil dispõem dos métodos e fornecem à população gratuitamente. Não é o caso de Mato Grosso.
“A infertilidade é tratada pelo Ministério da Saúde como algo opcional; como uma cirurgia plástica. A realidade é que é uma doença, como qualquer outra, e afeta muito a vida de um casal. Ainda é um tema pouco discutido, pois os casais inférteis ainda têm muita vergonha e, por isso, a discussão sobre infertilidade não alcançou a esfera pública”, alerta o especialista.
Para os casais “tentantes”, como são chamados os casais inférteis que tentam engravidar, Michelle alerta: “Preparem o emocional e o bolso”. A dica do médico é para que o casal tente ao menos duas vezes na semana, e não se prenda à “tabelinha”.
“A tabelinha deve ser usada para mulheres que têm poucas relações sexuais. No geral, o que recomendamos é que o casal faça sexo ao menos duas vezes por semana, pois o espermatozoide vive em torno de três dias dentro do corpo da mulher. Assim, ela terá chances de engravidar durante todo o mês”, explica.
Confira detalhes da reportagem no jornal Circuito Mato Grosso