“Se ele for me perturbar lá de novo, vou meter a mão na cara dele e se colocar a mão na arma, eu mato ele”, essa ameaça foi feita pelo diretor da Cadeia Pública de Cáceres (225 km de Cuiabá-MT), Revétrio Francisco da Costa durante uma conversa telefônica com o superintendente de Penitenciárias, Daniel Lucas Rondon a respeito da remoção de um agente penitenciário, identificado como Sérgio Gabriel.
De acordo com as informações do diretor, após ser removido do presídio masculino para o feminino, Sérgio não teria gostado da situação, e estaria xingando e difamando o diretor perante os companheiros de serviço e em grupos de WhatsApp.
No áudio que o site Muvuca Popular teve acesso (ouça abaixo), o superintendente Daniel, tentar intervir na situação e revela que conversou com o agente, que informou estar feliz com a sua transferência. “Não tem nenhum problema e estou até feliz com a remoção, pra mim está tudo certo, esse cara é moleque rapaz, desconsidera o que ele faz… nós temos que prender ele” diz Daniel para o diretor Revétrio
De acordo com Revétrio, na conversa ele informa que os presos estão colocando pressão em Sérgio, e que o agente teria adquirido uma caminhonete com dinheiro que conseguiu recebendo dos detentos por ter facilitado uma fuga na cadeia.
“Ele tem um histórico de uma fuga lá, que ele comprou uma caminhonete, e foi com dinheiro dessa fuga Daniel, aí é fod***” disse em resposta. Daniel informa que a prisão tem que ser feita em parceria com a Polícia Civil devido ao bom relacionamento do diretor, com a delegada Cinthia Gomes da Rocha.
“Mas aí nós temos que prender ele Revétrio, é nós juntamente com a Polícia Civil, você já tem um relacionamento bacana com a doutora Cinthia, e nós temos que dar um jeito de estreitar essa situação e prender esse cara. Agora o que eu quero? Quero que você estreita algum relacionamento com Cinthia e produza alguma coisa, para conseguir prender esse cara”.
Em outro trecho do áudio, o diretor chama o agente de ‘vagabundo’ e uma outra agente identificada como Fabiana, também de ser ‘vagabunda’.
“Ter que ficar aturando vagabundo e bandido pô, o certo é se ele incomodar de novo colocar no papel e tirar ele da cidade, até para dar uma resposta para os outros (agentes), que os outros também é tudo vagabundo. Aquela Fabiana brigou com uma mulher de preso lá dentro da unidade por causa do preso. Ai se não fizer nada com eles, os outros também vão sentir no direito de ficar me perturbando”, revela Revétrio.
“Quando você me trouxe o problema, a gente buscou a melhor solução, o cara está dando problema na unidade, está fazendo correria, vamos ‘sacar’ o cara de lá, eu não tenho provas, não tenho como provar, não tenho como prender o cara, a gente saca ele de lá”, explicou Daniel ao agente.
Agente acusado tem boa conduta:
De acordo com João batista Souza, presidente do Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado de Mato Grosso (Sindspen-MT) o agente Sérgio Cabral já havia procurado o sindicato anteriormente e falado sobre o problema enfrentado com o diretor. O Sindspen tentou mediar uma conversa entre as partes para que pudessem resolver a situação sem precisar abrir denúncia no Ministério Publico, porém não foi possível.
João revelou ao Circuito Mato Grosso, que não existe acusação contra Sérgio e que ele tem uma boa conduta enquanto agente penitenciário.
“Se não me engano ele já tem aproximadamente seis a sete anos como agente, e não tem nada contra ele. Serviu por 10 anos o Exército Brasileiro e nenhuma acusação. Quanto ao que dizem que ele facilitou a fuga, não é verdade, na época os presos tentaram cooptar ele para facilitar uma fuga, e ele fez uma denúncia na polícia revelando a situação e impedindo a fuga” explicou João.
Quanto a caminhonete adquirida, João explanou que a acusação que foi com dinheiro do crime é inverídica, pois Sérgio Gabriel tem um bom salário, a sua esposa é concursada como professora do município e estado, eles possuem uma boa estabilidade financeira na cidade, casa própria e família no local.
Além disso, o presidente do Sindspen revelou que a delegada citada na conversa, já procurou o agente e disse que não há nenhum inquérito para investiga-lo e que desconhece qualquer acusação que o desabone, e João explica que a conduta do diretor foge dos princípios de administração pública.
“Na conversa fica claro que ele faltou com os princípios, chamando servidor de vagabundo, que não quer trabalhar, e tudo sem provas. Faltou mais ética e respeito, e caso houvesse algo que fosse encaminhado a corregedoria. O poder tem subido a mente dos mandatários e acham que podem fazer o quiser na hora que desejarem” completou João Batista.
Já no caso da agente Fabiana citada no áudio, Batista disse que realmente houve o envolvimento da agente com um ex-detento, mas foi uma ação extra função, fora do local de trabalho. Ele ainda comentou que se o caso fosse dentro da unidade e o diretor tivesse conhecimento na época e não denunciado a agente, ele teria cometido o crime de prevaricação.
Em relação a transferência arbitrária, o presidente do Sindspen disse que o sindicato já tem cobrado na justiça a proibição de remoção por questões pessoais.
“Aconteceu recentemente na Penitenciária Central do Estado (PCE) remover servidor porque não gostou de ouvir uma reclamação, não se pode transferir servidor só por esse motivo, por questões pessoais. A pessoa já tem uma família, uma vida na cidade e ai por não gostar de algo que o agente diz, vai querer transferi-lo, não vamos aceitar isso”, concluiu.
Sejudh:
A reportagem procurou a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) e foi informada pela assessoria de imprensa, que será enviada uma nota, e as medidas que serão tomadas em relação ao caso, será repassada pelo setor jurídico da secretaria que já analisa o caso.
Outro lado:
O diretor Revétrio não foi localizado pela nossa reportagem, para explicar as acusações.
Ouça o áudio completo:
