O local, batizado de Nova Palestina, foi invadido no dia 29 de novembro por 2.000 famílias. Segundo cadastro do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), cerca de 8.000 famílias, número atingido ainda em dezembro, fazem parte hoje.
Com a procura em alta, foi criada uma lista de espera, com cerca de mil pessoas.
Quando chegaram, as famílias receberam um kit para montar os barracos: cinco bambus e seis metros de lona. São pessoas que saíram de bairros do entorno e de Itapecerica da Serra (Grande São Paulo), próximo dali.
A maior parte é composta por trabalhadores assalariados e autônomos que dizem ter dificuldade para pagar aluguel ou que moram de favor na casa de parentes. Parte está desempregada.
MARIGHELLA
A Nova Palestina foi a quinta grande invasão feita pelo MTST em 2013. O nome, escolhido em votação, venceu as outras opções: Carlos Marighella (1911-1969, militante comunista) e Amarildo de Souza, pedreiro morto no Rio após abordagem da PM.
Com 1 milhão de m², o que equivale a dois terços do parque Ibirapuera, o terreno é particular e improdutivo, dizem os sem-teto.
A área foi declarada de interesse público pela gestão Gilberto Kassab (PSD) -para virar um parque.
"Nossa ideia é transformar isto aqui em conjuntos habitacionais. Não é transformar em mais uma favela. A gente quer financiamento pela Caixa", diz o militante que se apresenta com "Jota", 34, há dez no movimento.
Autônomo, ele já financiou uma casa própria em Taboão da Serra (Grande São Paulo), mas continua no movimento para formar novos militantes.
'RUAS' E 'PRAÇAS'
Organizados em espécies de lotes, alinhados seguindo "ruas" que conduzem a uma "praça" central, onde são feitas as assembleias, os barracos de lonas pretas e azuis ganham uma numeração, como G5 B526. Quer dizer: ali "mora" a 526ª família do grupo 5.
O acampamento é dividido em 21 grupos, cada um com uma cozinha e um banheiro coletivos. A luz das cozinhas vem de "gatos"puxados dos postes da rua.
Cada um dos grupos tem cinco representantes eleitos que participam das reuniões de coordenação. A limpeza das áreas comuns e arrecadação de alimentos são feitas em esquema de escala.
Nem todas as barracas estão ocupadas o tempo todo. Menos da metade das famílias mora de fato no local. A maioria continua a pagar aluguel, mas vê ali uma maneira de conseguir a casa própria.
É o caso do barista Roberto, 28. Ele dorme ali. Já sua mulher, Mayara, 20, e os dois filhos, de 4 e 6 anos, voltam à noite para a casa alugada por R$ 600 -um imóvel de três cômodos em Itapecerica.
Para garantir frequência no acampamento, há uma lista de presença, com uma pontuação. A lógica é: "Quanto mais pontos, mais sofrimento". A ideia é premiar os mais assíduos com a prioridade para ganhar uma casa.
A coordenação exerce o papel de polícia no local: evita som alto, bebida alcoólica e faz rondas noturnas. Tenta ainda identificar famílias que erguem dois ou mais barracos com a ilusão de que ganharão mais casas -são os chamados "zoiões".
Folha de S. Paulo