Tendo a discordar da opinião geral sobre segundos turnos de eleições. Dizem que as tendências podem se modificar radicalmente e que se trata de uma nova eleição que guarda pouca relação com o resultado do primeiro turno. Ou seja, o que chega em primeiro lugar não levaria necessariamente vantagem sobre o segundo colocado.
Acho que há casos e casos. Em uma eleição disputada entre vários candidatos em condições parecidas, como é o caso de São Paulo este ano, os dois concorrentes finais tem vasto campo para garimpar votos dos candidatos que ficaram pelo caminho.
O Haddad, por exemplo, está no momento com 34% de intenção de votos e os dois mais próximos Tarcísio de Freitas tem 24% e Rodrigo Garcia 19%, fora os menos cotados que somam cerca de 5%. Estes números indicam que há muitos eleitores a serem conquistados pelos dois que disputarem o segundo turno, algo próximo a 30% dos votos válidos.
Não é o caso da eleição atual para Presidente da República. Nesta disputa cerca de 85% dos votos já estão enfaticamente declarados em Lula ou em Bolsonaro, como afirmam os institutos de pesquisa. Restam aos outros candidatos mais ou menos 10% a 15% que os finalistas dividirão entre si em proporções ainda desconhecidas.
Estes serão os votos a serem divididos porque dado ao clima beligerante entre os eleitores dos dois líderes é quase impossível um tirar voto do outro.
Como já escrevi em artigos anteriores nossa sorte está lançada: nos próximos quatro anos seremos governados pelo Bolsonaro ou pelo Lula. Mas uma pequena luz começa a piscar lá no final do próximo mandato. O Bolsonaro reelegendo-se não poderá candidatar-se em 2026, o que é ótimo. O Lula, por sua vez, se eleito, ao término do mandato terá passado dos 80 anos de idade e nessa provecta idade provavelmente não se candidatará mais, o que é excelente.
Os candidatos que os substituirão provavelmente serão os que estão se projetando nesta atual eleição. Os medalhões – João Dória, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, Marina Silva , João Amoedo – parece que já deram o que tinham pra dar e estão fora de páreos futuros.
Surgem, entretanto, alguns nomes promissores que podem encarnar o espírito da conciliação para apaziguar este país conflagrado incendido pelo PT e o Bolsonarismo. Profetizo entre eles o Romeu Zema de Minas Gerais; Eduardo Leite do Rio Grande do Sul e o Tarcísio de Freitas se conseguir ganhar em São Paulo no segundo turno que já se anuncia. Há de se considerar também a Simone Tebet, senadora pelo Mato Grosso do Sul que está se projetando muito bem na cena nacional pela sua coerência e serenidade.
Mas, três perigos nos rondam. Primeiro, o Lula ganhando pode tirar uma nova Dilma (ou Dilmo) da cartola; segundo, o Bolsonaro se vencer, pode manter entre seus admiradores acesa a chama do confronto tal qual seu ídolo Donald Trump e lançar o Zero Três para Presidente em 2026. O terceiro perigo é muito pior: o Bolsonaro se perder, a julgar pelas declarações reiteradas, pode tentar melar as eleições estimulando seus seguidores a um confronto generalizado.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor