Efêmera Relíquia é uma reedição revista e ampliada da exposição Coleções: um mundo
de singulares afinidades. Em março de 2020, o planeta foi surpreendido pela pandemia
de Covid-19 e, consequentemente, pelo distanciamento social, restrição obrigatória que
impediu a circulação de pessoas em lugares públicos. Pela gravidade das circunstâncias,
a primeira versão dessa exposição foi cancelada, ainda que o espaço expositivo da A
Casa do Parque estivesse pronto para abrir suas portas aos visitantes para apresentar 11
coleções e seus respectivos colecionadores. Em Mato Grosso, cerca de 940 mil pessoas
foram contaminadas pela doença e 15 mil perderam suas vidas. Naquele ano de
convulsão global, crenças apocalípticas encontraram solo fértil.
Cinco anos se passaram…
Renomeada, Efêmera Relíquia está de volta à A Casa do Parque. Tem como
personagens colecionadores aficionados que reunir, há anos, itens por categoria que
armazenam sentidos oriundos de suas vivências. Afinal, tudo pode ser colecionado, pois
como é sabido, há gosto para tudo. Suas motivações? Cada um com suas histórias que
acabam revelando muito de si mesmos à medida em que a temática da coleção está
entrelaçada às suas memórias, ao universo do colecionador.
Efêmera Relíquia traz uma fração do universo do colecionismo, um hábito de longa data
encontrado nos quatro cantos do mundo. Em Cuiabá, na A Casa do Parque, a exposição
exibe quinze coleções, assim nominadas por seus colecionadores:
A linha do tempo móvel
Aço ancestral
Balões – Ninho Cabaça
Brinde à vida!
Convite à borracheira
De aro em aro: uma viagem sobre duas rodas
Espelho das águas – Iemanjás
Fábulas suspensas
Indígenas nos cartões-postais
Na lata
Sapos
Super-heróis
Um mosaico de mundo para pequenos e jovens leitores
“Vontade de beleza”: pentes indígenas
Vultos célebres da história do Brasil
As coleções expostas na Efêmera Relíquia estão na companhia da poética de Sueli
Batista, Divanize Carbnieri, Marli Walker e Aclyse de Mattos. Suas poesias, escritas
manualmente sobre espelhos, se debruçaram sobre as subjetividades da palavra coleção.
Uma videoinstalação reúne colecionadores e seus objetos a revelar um pouco de suas
maneiras de estar no mundo. Objetos escondedores de intimidades.
Há quem diga que colecionadores sãos acumuladores disfarçados. Esse argumento não é
verdadeiro. Acumular e colecionar têm significados distintos. Quem coleciona objetos
dispõe de intenção própria; reúne itens classificados que, muitas vezes, de início, se
aproximaram um do outro ocasionalmente, sem o intento de ser um item colecionável.
Até mesmo o acondicionamento dos itens tem muito a dizer.
Sobre os critérios de aquisição dos objetos, acontecem tal qual um trabalho manual,
artesão; ou, também, como uma narrativa autobiográfica, pessoal, com um diário, uma
antologia poética sobre seu detentor, visto que cada peça tem suas lembranças.
O colecionismo pode ser um momentâneo de escape para a mente e o coração
suportarem esse “tempo de desordem sangrenta”. Afinal de contas, como parte da
condição humana, ninguém é de ferro.
Anna Maria Ribeiro Costa, doutora em História, etnógrafa e filatelista. Membra do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e do Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos da Universidade Federal de Mato Grosso.