O pediatra e pneumologista Arlan Azevedo Pereira, 58, é um dos três candidatos à presidência da Unimed singular Cuiabá no triênio 2016-2019. Formado há 32 anos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em medicina pela Universidade de São Paulo (USP).
Em Cuiabá desde 1985, dedicou-se inicialmente à Saúde Pública como professor da Universidade Federal de Mato Grosso e médico pediatra no Hospital Universitário Júlio Müller. “Meu histórico de vida é voltado para o ato médico em si. Como fui presidente no CRM [Conselho Regional de Medicinal] e trabalhei muito nas atividades, eu tive muita participação no exercício da medicina”, declara.
Um dos poucos especialistas em pneumologia pediátrica em Cuiabá, Arlan se enveredou pelos caminhos da saúde complementar, associando-se à Unimed há 23 anos. Como médico, percebeu que a demanda pelos atendimentos ia além do setor público.
Hoje, como candidato à presidência, tem como principais propostas a melhor remuneração dos médicos cooperados e diz que, para que isso seja feito, é fundamental um investimento na medicina preventiva. “Tenho posicionamentos sempre em defesa do médico e, obviamente, na política do ganho a ganho. É pensar na remuneração do médico, mas sem perder de vista a qualidade da assistência ao cidadão”.
Na entrevista, o candidato fala sobre a importância de a cooperativa exigir que os novos associados sejam médicos com especialização, sobre a judicialização dos Planos de Saúde e sobre sua carreira e propostas.
A Chapa “Unimed Renovada” é composta pelo presidente Arlan de Azevedo Ferreira; vice-presidente Erleno Aquino; diretora de mercado Jussara Fialho Ferreira Côrtes; diretor de intercâmbio Eloar Vicenzi; diretor financeiro Junior C. Ratto. Há ainda na Comissão Técnica o médico Nasser Mahfouz, Lauzamar Roge Salomão Jr., Adriano Jorge Mattoso Rodovalho, Bruno Baranhuk de Freitas. No comitê educativo, Luciana Neder, Marcial Francis Galera. E na Comissão Disciplinar Cooperativista José Antônio de Figueiredo.
O médico Arlan Pereira é o primeiro do especial de entrevista que o Circuito Mato Grosso fará com os três candidatos à vaga.
Leia entrevista completa
Circuito Mato Grosso: Como você entrou como cooperado na Unimed?
Arlan Azevedo Pereira: No início, na assistência privada, nós não tínhamos uma referência em Plano de Saúde que fizesse o projeto de remuneração pelos vários procedimentos e consultas em si. Naquele momento, a Unimed era um balizador de mercado, tinha uma remuneração adequada na saúde suplementar, e o médico tinha voz para fazer as intervenções. Então, por ter essa característica de cooperativa, concluí que seria interessante entrar.
Na época, eu nem fazia medicina privada. Trabalhava apenas no Hospital Júlio Müller. Como eu fazia pneumologia pediátrica, e naquela época não tinha muita oferta desses especialistas, eu comecei atender essa demanda [privada], por que eu não conseguia atender dentro do Júlio Müller essa parcela da população.
C.M.T: Qual a linha da chapa “Unimed Renovada” ?
A.A.P: Nós buscamos a reformulação do modelo. A nossa chapa quer apresentar o novo, a modernização do sistema, por isso o nome “Unimed Renovada”. Nós não queremos uma oposição com sim ou não, na verdade. Queremos uma alternativa à nova forma de gestão, voltada para um plano de saúde que prevê assistência à saúde, e não apenas tratamento da doença. É uma chapa que tem a interface de atender as necessidades que hoje o médico cooperado tem, e por outro lado oferece à população que utiliza a saúde suplementar, um novo modelo de atendimento e assistência: que é a prevenção. A estrutura vigente acaba consumindo muitos dos recursos que o cliente paga pela Unimed. Da hospitalização, da geração de exames muito caros e que dificulta, do ponto de vista administrativo, a saúde financeira da empresa.
C.M.T.: E qual a proposta da Chapa para que isso aconteça?
A.A.P: Nós temos pacientes que têm um alto consumo, esses pacientes acabam gastando muito mais do que aquilo que ele oferece para manter a carteira [plano de saúde]. Por exemplo, uma carteira de idosos. A gente sabe que se, ao invés de o médico esperar o idoso aparecer no consultório, já doente, com problemas de saúde crônicos, como a pressão arterial, diabetes… É uma série de doenças que, com um controle laboratorial bem feito, produzirão uma redução na hospitalização e redução de exames complementares que são muito caros.
Assim, há uma via dupla de ganhos. Para o cliente, que será cuidado através de linhas de atendimento multiprofissional e para a cooperativa, que vai reduzir custos, porque a gente sabe que essa alta complexidade é muito cara. E essa é a dinâmica do mundo moderno: atuar de uma forma preventiva.
Há então, uma humanização do atendimento, redução de custo, e lucro para uma empresa que é uma cooperativa de trabalho médico. E, não, toda a arrecadação de receita ser gasta nas atividades de meio, mas sim na atenção direta – do ato médico em si – que é a remuneração do médico por meio do trabalho que ele oferece. É uma cooperativa do cooperado, para o cooperado.
C.M.T.: O Doutor pode sintetizar quais as principais propostas da Chapa?
A.A.P: Primeiro a transparência. As informações dadas ao cooperado devem ser mais fáceis de ser entendidas. Têm que ser dadas em períodos mais curtos. Há um tempo muito longo entre uma assembleia e outra. Isso dificulta a discussão de coisas que são de decisão imediata, mas cujo resultado é muito longo. Até na forma de acessar nós devemos fazer um aprimoramento.
Outra coisa central é o controle de gastos. Nós iremos entrar em uma conjuntura, em que vai haver uma retração em termos de receita. Por ser cooperado, não tenho conflito de interesses, porque sou um cooperado que não tem nenhuma ligação nem com laboratórios, nem com hospitais, nem com máquinas, nem com exames autogerados. Eu sou um partícipe dessa necessidade de valorizar o ato médico em si. E na boa prática médica. O mundo todo está investindo em prevenção. Então, se eu não tenho uma visão de que o hospital é que deva ser privilegiado, eu vou investir para colocar o meu trabalho seja prevenir o adoecimento e a hospitalização.
C.M.T.: Você acredita que no atual cenário da saúde e economia seja possível um médico, especialmente o recém-formado, trabalhar sem vínculos com planos de saúde?
Arlan: O que tem acontecido é que os planos de saúde estão contratando, sem o vínculo específico com o plano. Por exemplo, a Unimed tem hoje muitos médicos que são contratados por prestação de serviço sem fazer parte da cooperativa. E nisso, entram aspectos muito importantes sobre os quais nós vamos interferir.
O primeiro é que, mesmo contratado, a gente deve ter um direcionamento no sentido educativo de garantir que esse recurso humano contratado pela cooperativa tenha um treinamento adequado, e que ele tenha qualificação adequada para ocupar aquele cargo. Então, se ele trabalha numa emergência, ele tem que ter uma qualificação adequada para isso. A Unimed tem que cuidar para que, quem esteja ali na ponta – na entrada do sistema – tenha uma qualificação para atender de forma completa o paciente.
O segundo é que nós temos que ter uma política de recebimento de novos médicos um pouco diferente da prevista hoje. A partir do momento em que o médico paga um valor determinado e passa a ser um cooperado, ele não é acompanhado por um período probatório mínimo, nem é avaliado se ele tem um sentimento cooperativista.
Hoje nós não temos definido o período probatório, uma vez que o médico faz um pagamento à vista. Isso impede que a cooperativa o acompanhe e cobre na qualidade de médico cooperado iniciante. É uma situação na qual a gente deve intervir.
Então dois aspectos: primeiro, que haja uma educação médica continuada, em relação ao cooperativismo, e segundo que haja um período probatório de acompanhamento para que a cooperativa o qualifique como cooperado de forma definitiva.
C.M.T.: Ou seja, não é tão simples um médico recém-formado entrar em uma cooperativa?
Arlan: A cooperativa tem uma política de que, para se associar, o médico tenha uma especialização. Nós temos essa exigência. Se o paciente vai a um hospital credenciado pela Unimed, ele precisa ter a certeza de que ali há um especialista com treinamento adequado para o atendimento.
A cooperativa também deve dar um enfoque para especialidades médicas que são mais raras e que haja uma política de atrativos para que o profissional da saúde procure ser um médico cooperado. Ou através de um plano de saúde adequado para ele, ou de uma remuneração adequada que siga a lógica do mercado.
C.M.T.: Um plano sempre possui suas deficiências e não a toa sempre é acionado pela justiça para autorizações e pagamentos e procedimentos. O que precisa ser feito para reduzir a judicialização do plano?
Arlan: Essa é uma questão que representa um percentual muito grande da receita da cooperativa que seria revertido para os cooperados. A cooperativa tem que ser muito cuidadosa para que não haja, por questões particulares, o que deve ser um direito de oferta para a maioria dos clientes da cooperativa.
Para que haja a redução da judicialização é necessário um bom relacionamento entre médico-paciente. Para isso, quando o cliente se aproxima do médico, tem que saber que tem ali um amigo que vai oferecer a melhor possibilidade de tratamento. E ainda, temos que ter um bom relacionamento com o judiciário, no sentido de mostrar situações do ponto de vista legal, em que o paciente pode ter direito a um determinado procedimento por estar dentro do previsto do plano, e ele tem que receber automaticamente.
E o contrário também. O paciente tem que ter noção de que situações de doenças pré-existentes e que não tenham sido contempladas dentro das cláusulas contratuais, há um limite da cooperativa para contribuir com o tratamento.
Na verdade é um pacto que deve haver entre a cooperativa, o judiciário e o cliente, sobre regras bem estabelecidas, do que ele tem direito e que a cooperativa tem a obrigação de oferecer – às vezes até independente do que esteja numa cláusula contratual.
C.M.T.: Quais são as principais dificuldades de conciliar a atividade médica com a atividade administrativa?
Arlan: A minha experiência foi como o presidente do Conselho Regional de Medicina, de 2008 a 2011. De certa maneira, a presidência comprometeu minhas atividades existenciais e, de certa maneira, as de docência também. Porque naquela época, e como é agora, eu vou ter que ter uma disponibilização do meu horário em tempo integral para a cooperativa. Hoje, nós estamos administrando quase 1.300 médicos. Responsável pela assistência à saúde de, praticamente, 240 mil pessoas. Então isso requer uma dedicação em tempo integral.
A conciliação fica realmente muito difícil. Obviamente que dentro do que eu possa contribuir, especialmente em pneumologia pediátrica e bronquioscopia, é possível que eu faça, mas certamente essa parte existencial vai ficar comprometida. Então, a minha dedicação a esse desafio que é administrar 1300 médicos, e 240 mil pessoas, tem que ser vista em tempo integral.
C.M.T.: Quais as expectativas para essa eleição?
Arlan: Nós queremos uma renovação neste modelo de gestão. O que a gente vê é que a cooperativa sempre teve uma receita muito elevada, mas ela não traz uma remuneração adequada para o médico. A forma de gestão atual está dando foco maior em procedimentos que são mais caros, em detrimento do próprio ato médico. O nosso foco é desviar hoje o que é gasto em cirurgias, polidiagnósticos, terapêuticos e hospitalização, transformando isso através de prevenção e de redução de custo, e outros pontos de desperdícios, e concentrar na remuneração do médico.
C.M.T.: Como está a dinâmica da campanha e o apoio dos cooperados à Chapa?
Arlan: Essa campanha está sendo bem vista pelo bom relacionamento e identidade com o médico por estar, praticamente, há mais de 30 anos em defesa de honorários profissionais e do exercício da medicina. E esse é o momento de os cooperados serem administrados por outro cooperado que faz e participa do dia a dia e sofre as dificuldades de atendimento e remuneração. Não há uma escola por tras de mim, do ponto de vista artificial. Isso foi criado ao longo da minha vida e da minha trajetória médica aqui em Cuiabá.