Opinião

E o céu não era mais o mesmo…

Pelos idos de 1980, Jacutinga deixou o Rio. E o que levou na bagagem? Num saco de viagem, de lona, costurado por ele mesmo, colocou livros, carta celeste, bússola, luneta, gaita, arpão, pé de pato, faca. No Rio, estudava astronomia com o amigo Alexandre, com conhecimento insuperável. Para baixo e para cima, andavam os dois companheiros de Eubiose, de Observatório Nacional. Os amigos da rua mangavam do hábito, dizendo que estavam à procura de disco voador.

O céu carioca ganhou outra configuração estelar quando Jacutinga chegou ao país Nambiquara. Com o passar dos dias, a gaita deixou de desejar. De tanto que emprestou a Rondon Nambiquara, a ele pertenceu. Em retribuição recebeu do prestigioso pajé uma espada, cujo uso é mágico e guerreiro.

Junto ao Nambiquara, Jacutinga deixou de olhar o céu com olhos ocidentais. Parecia olhar um outro céu: as partes escuras ganharam significados relevantes nas conformações das constelações e mitologias diferentes daquelas estudadas com o amigo Alexandre. O céu Nambiquara e os novos amigos índios passaram a ser palco-personagens da aprendizagem da abóbada celestial. Identificou a constelação das plêiades, que indica a época da queimada, chamada pelo Nambiquara de “Sete Estrelas”, formada por crianças que fugiram para o céu após matar um casal maléfico de espíritos sobrenaturais, de hábitos antropofágicos.

Os índios explicaram que as “Sete Estrelas” são visíveis na estiagem e que por volta das duas horas da manhã indicam a hora de atear fogo no mato para plantio. As “Sete Estrelas”, nessa mesma época, mostram o tempo em que as expedições venatórias se intensificam. Caminham em busca de tubérculos, frutos e insetos, integrantes da dieta alimentar.

Foi a mirar o céu que Jacutinga se perguntou se não havia chegado a hora de procurar outras paisagens. O Polonoroeste havia chegado e trouxe muitas pessoas, aos milhares, “igual formiga”, como costumava dizer o pajé Orivaldo. Estava com saudades do mar… Acabou encontrando as ondas do mar nos cabelos da professora, trazida pelo Polonoroeste.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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