O evento “Liberdade: Mostra de Cinema Negro”, da Secretaria de Estado de Cultura (SEC) e com estreia marcada para essa terça-feira (15), em Cuiabá (MT), foi suspenso após polêmica criada por representantes de movimentos sociais com a Donamaria Produções Criativas, após algumas entidades assinarem nota aberta de repúdio contra a ausência de cineastas negros na programação do evento.
O sócio-diretor da Dona Maria Produções Criativas, João Manteufel, rebateu as críticas após anunciar que estava deixando a produção do evento.
João Monteufel explica que foi chamado para fazer o registro da mostra de cinema negro da (SEC) e que aconteceria de 15 a 19 de novembro e que a Donamaria Produções Criativas e que a participação no evento limitava-se ao registro fotográfico e filmográfico do evento. Questões atinentes às escolhas de filmes, participantes e roteiro de palestras, eram de competência exclusivamente da curadoria.
Monteufel conta que a programação com os nomes das pessoas participantes ( cineastas e palestrantes) foram todas feito pela curadoria da SEC e que entrou em contato apenas o cineasta Joelzito de Araújo para convidá-lo e pedir os filmes, se possível.
“Os movimentos negros ficaram revoltados que não tinham pessoas negras envolvidas, mas o curador, e era apenas ele com o nosso auxílio, que estava executando tudo do evento. Inclusive na programação ele tinha colocado os ganhadores do edital audiovisual de 2016, que eram todos brancos, então ele colocou o nome dessa parte da programação de Deu Branco”.
Em seguida, narra o empresário, foi criada uma carta de repúdio e a SEC teria realizado uma reunião na última sexta-feira (11) para ser discutido o que poderia ser feito no evento. Lilian Santanna, esposa de Manteufel, grávida de sete meses, narra como foi a reunião:
“O nome Deu Branco já tinha sido mudado pela Secretaria de Cultura e, na reunião, muitas pessoas muito exaltadas, cobrando coisas além da secretaria, como políticas públicas para os negros e mais coisas. E ficou decido fazermos uma alteração na programação pra incluirmos mais coisas além de cinema com filmes de negros e feito por diretores negros… mas aí no final quando estávamos terminando a programação e deixando claro pra todos que tínhamos que confirmar tudo o quanto antes pra conseguirmos fazer o evento que seria na terça, foi que João apenas disse na minha frente e de outra cineasta que tinha que confirmar aquelas pessoas até o outro dia ao meio dia, mas isso sem se exaltar e nem nada… apenas reforçando o que João e mais a secretaria estávam reforçando que tinha que confirmar tudo o mais rápido possível, porque se não nem ia poder fazer o evento, sem confirmação e nem dia dar tempo de imprimir o material gráfico. Responsáveis pelo movimento Rota que já tinham se exaltado o tempo todo, já tinham chorado, acharam que era demais estar falando aquilo e começaram me chamar de racista sem a menor razão. E ao irmos embora esta ainda ficou falando que ia denunciá-lo e processá-lo. E ainda ao falarem para um deles parar de brigar porque éramos todos irmãos ela falou em alto e bom som que ela não era irmã de branco. Ou seja eles estavam sendo preconceituosos o tempo todo. E falando que se o João estivesse na organização eles negros não participariam… Então qual o cunho não era acabar com os preconceitos e racismo? Mesmo quando o curador da mostra, que faz toda a programação, apenas auxiliarmos ajudando em arranjar mais filmes, entrar em contato com o Joelzito Araújo, os grupos fizeram questão de dizer que era um absurdo agente deixar o único negro tomar a responsabilidade pelo evento, mas isso porque eles acharam que tinha erros, porque se fosse tudo certo não teria problema algum dos brancos deixarem o negro ser o único responsável”.
João Manteufel também emitiu uma nota sobre o ocorrido. Confira a íntegra:
Lamentavelmente na reunião ocorrida no dia 11/nov, na sede do Palácio da Instrução, os colaboradores da Pasta foram hostilizados a ponto de serem obrigados a se retirarem do local.
Lamentamos pelo curador Dioney Garrijo que também foi agredido com uma profunda falta de respeito. O evento demanda divulgação do ciclo de palestras e vídeos que compreendem planejamento. Por mais democrática que tenha sido a montagem do programa, sugestões de última hora prejudicaram o fechamento do material finalizado.
Quanto às colocações realizadas na reunião, reputamos como infelizes: a identidade negra, com sua riqueza, singularidade, diversidade, está muito bem representada pelo programa proposto. A acusação de que os organizadores “não são negros o suficiente” ou “não há negros na direção” para planejar e executar o evento é, não só infeliz, como preconceituosa. Temos raízes negras evidentes, vivendo no seio da cuiabania por gerações, fato que nos orgulha imensamente.
Ademais, limitar a representatividade negra e reduzi-la dessa forma é discriminar às avessas todos aqueles que podem e devem dar uma contribuição relevante em matéria cultural, mesmo que não sejam negros. Trata-se de uma discussão ideológica pobre, maniqueísta que, no fundo, reflete o interesse comercial por um mercado fechado e excludente.
Ofensas pessoais e ao trabalho profissional desenvolvido pela produtora não passarão incólumes. Serão objeto de ação própria na esfera cível e criminal.
Não aceitamos a formação de “nichos de mercado”. As propostas públicas de um governo transparente devem oportunizar a participação de todos, indistintamente, sob pena de se dar o racismo às avessas. O único critério que deve nortear qualquer produção pública é o talento como o curador tem demonstrado.
Esperamos da SEC-MT a manutenção da programação, em respeito aos organizadores, colaboradores e o povo mato-grossense interessado em conhecer e divulgar a cultura e identidade negra que marca profunda e positivamente o Estado de Mato Grosso.
A mostra de cinema negro é uma iniciativa da Secretaria de Cultura que precisa ser apoiada e aplaudida por toda a comunidade cultural e pelo público de cinema.
João Manteufel
Sócio-diretor da Donamaria Produções Criativas
